Missa do 3. dom. advento. Palavra de Deus: Sofonias 3,14-18a; Filipenses 4,4-7; Lucas 3,10-18.
Nos
textos bíblicos de Sofonias, de Isaías e de Paulo, que acabamos de ouvir, há um
explícito convite que o Senhor nos faz à alegria: “Canta de alegria, rejubila...
Alegra-te e exulta de todo o coração!” (Sf 3,14). “Com alegria bebereis no
manancial da salvação” (Is 12,3). “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito,
alegrai-vos” (Fl 4,4).
Essa
alegria, à qual o Senhor nos chama, encontra-se estampada de maneira artificial
nas fotos que são postadas nas redes sociais. É uma alegria epidérmica, que
está só na pele, como maquiagem; é uma alegria superficial, que não atinge o
coração; é a alegria criada artificialmente pela propaganda de consumo; uma
alegria que depende exatamente da capacidade de consumo. Só quem compra e
usufrui de tal produto pode experimentar a propagada alegria.
Mas
não é essa a alegria a qual somos chamados a experimentar. Ela não depende de
fatores externos, nem de que tudo esteja bem, nem de que não haja qualquer tipo
de problema em nossa vida. A alegria à qual Deus nos chama é uma atitude
interna perante a vida, o mundo que nos cerca e os acontecimentos. É uma
alegria que se traduz num posicionamento: não importa se faz calor ou chove, se
estou na abundância ou na carência, se tudo está bem ou se muita coisa não está
bem... Nada disso importa. A alegria do cristão está numa certeza: a presença
amorosa do Senhor junto dele: “o Senhor... está no meio de ti, nunca mais
temerás o mal... Não temas... não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu
Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva” (Sf 3,15.16.17); “O
Senhor está próximo!” (Fl 4,5); “Exultai cantando alegres... porque é grande em
vosso meio o Deus Santo de Israel!” (Is 12,3).
A razão
da nossa alegria não está em nós mesmos ou em nossa capacidade de não sermos
afetados pelas coisas ruins e dolorosas. Ela repousa numa certeza: “Ele está no
meio de nós!”, conforme a Sua promessa: “Eu estarei convosco todos os dias, até
o fim dos tempos” (Mt 28,20). É verdade que existe um véu que nos impede de ver
o Senhor, um véu que será retirado somente no dia da Sua revelação (revelar
significa “tirar o véu”!). Justamente por isso, se diz que “nós caminhamos na
fé, não na visão clara” (2Cor 5,7). Nossa alegria não depende daquilo que
vemos, mas daquilo que cremos!!! Cremos na segunda vinda do Senhor Jesus!
Cremos na criação de novos céus e de uma nova terra! Cremos que o Senhor, que
está no meio de nós, transforma a nossa tristeza em alegria: “Se à tarde vem a
tristeza nos visitar, de manhã vem nos saudar a alegria” (Sl 30,6).
Se
dificilmente estamos isentos de medo, de preocupação, de dificuldades a
enfrentar e de problemas a resolver, mesmo assim podemos manter o nosso coração
sereno e confiante, seguindo o conselho do apóstolo Paulo: “Não vos inquieteis
com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e
súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa todo
o entendimento, guardará os vossos corações e pensamento em Cristo Jesus” (Fl
4,6-7). Portanto, o lugar dos medos, das preocupações, das dificuldades e dos
problemas que nos afligem não é em nossa mente, nem em nosso coração, mas nas
mãos do nosso Deus, cuja paz é maior que tudo aquilo que nos aflige.
Até
aqui ficou claro que a alegria não é um sentimento, muito menos uma emoção, mas
uma atitude perante a vida. A necessidade de termos atitudes aparece no
Evangelho de hoje, por meio de uma pergunta que se repete: “Que devemos fazer?”
(Lc 3,10.12.14). Enquanto aguardamos o Senhor que vem, o que devemos fazer? Não
se aguarda a vinda de Jesus passivamente, muito menos deixando a vida nos
levar. O cristão aguarda pelo Senhor Jesus vivendo segundo o Evangelho que Ele
nos deixou, o qual se resume em humanizar as nossas atitudes para com as
pessoas que convivem conosco: “é preciso sair do nosso egoísmo e aprender a
partilhar; é preciso quebrar os esquemas de exploração e de imoralidade e
proceder com justiça; é preciso renunciar à violência e à prepotência e
respeitar absolutamente a dignidade dos nossos irmãos” (Liturgia Dehonianos).
Ao
responder à pergunta “o que devemos fazer?”, João Batista está antecipando algo
que Jesus dirá mais tarde: “Há mais alegria em dar do que em receber” (At
10,35). A alegria que o nosso coração busca se encontra quando esquecemos de
nós mesmos e nos doamos àqueles que de nós necessitam; quando deixamos de ser
egoístas e passamos a ser solidários; quando o mais importante deixa de ser o
nosso sucesso pessoal e passa a ser a diminuição da desigualdade social; quando
a nossa meta deixa de ser atingir o topo da fama e da falsa segurança material
para fazer subir quem está muito abaixo de nós.
Uma
última palavra: “O povo estava na expectativa...” (Lc 3,15). Que expectativas
você tem neste momento? Elas são realistas ou fantasiosas? Elas se assentam nos
homens ou em Deus? Você trabalha para que elas se concretizem, ou age de modo a
sabotá-las? Elas giram em torno do seu individualismo, ou contemplam o próximo,
o ambiente à sua volta, a humanidade? Ter expectativa significa “expectar” – a
mulher grávida vive o período de gestação na alegre expectativa do nascimento
do filho. O cristão é alguém grávido de esperança. Ele vive na expectativa da
volta do seu Senhor e Salvador, enquanto trabalha para transformar a tristeza
em alegria, a desolação em consolação, o individualismo em solidariedade, o
medo em confiança, o desespero em esperança...
Oração:
Senhor Jesus, quero engravidar de alegria e de esperança. Quero ser habitado(a)
pela expectativa da Tua vinda, Tu que tens o poder de transformar nossa
tristeza em alegria. Enquanto espero por Ti, lanço sementes, crendo na Palavra
que diz: “os que lançam as sementes entre lágrimas, colherão com alegria” (Sl
126,5). Por meio de Ti, confio às mãos do Pai meus medos e angústias,
dificuldades e problemas, permitindo que a Sua paz venha guardar minha mente e
meu coração. Que eu sinta Tua presença junto a mim em todos os momentos da
minha vida, fortalecendo minha fé, sustentando minha esperança e reavivando o amor
por todo ser humano, especialmente pelos que não são amados. Amém! Vem, Senhor
Jesus!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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