quinta-feira, 31 de outubro de 2019

SER FIEL À PRÓPRIA ESSÊNCIA


Missa de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a.

            A Sagrada Escritura afirma que nós, seres humanos, fomos criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26). Isso significa que dentro de cada um de nós existe algo sagrado, divino: é a nossa verdadeira essência. Sempre que vivemos a partir da nossa essência, do nosso sagrado, temos saúde e nos sentimos felizes, realizados. Porém, sempre que vivemos no sentido contrário à nossa essência, ao nosso sagrado, adoecemos, perdemos a paz e nos sentimos infelizes.
            O dia de todos os Santos nos convida a tomar consciência da nossa essência, do divino, do sagrado que habita o mais profundo de cada um de nós. Esse divino, esse sagrado fala conosco e pede para ser respeitado, reconhecido, desenvolvido. É verdade que nós levamos esse sagrado, esse divino, como que “em vasos de barro” (2Cor 4,7), ou seja, ele não é reconhecido e valorizado pelo mundo, que só enxerga aquilo que é exterior e superficial. Além disso, por sermos frágeis como “vasos de barro”, nós podemos fazer escolhas erradas e acabar por jogar fora o sagrado que nos habita. Sendo assim, a primeira pessoa que precisa tomar consciência do valor que carrega consigo somos nós mesmos.
            Uma das perguntas necessárias no dia de hoje é: como cuidar do divino, do sagrado, da santidade de Deus que nos habita, vivendo num mundo profano, que despreza e ridiculariza o sagrado? Esse cuidado passa pela nossa liberdade. Toda pessoa que quer ser fiel à sua essência divina precisa se lembrar do seguinte lema paulino: “Posso fazer tudo o que quero, mas nem tudo me convém” (1Cor 6,12). Sobretudo no mundo atual, cada um tem a liberdade de ser o que quer, de fazer o que quer; no entanto, a pessoa que deseja ser fiel à sua verdade interior, à sua essência, precisa discernir, separar o que convém à sua essência e o que não convém, o que respeita o divino nela e o que o ignora ou até mesmo atenta contra ele. Justamente porque o cuidado com a nossa santidade passa pela maneira como lidamos com a nossa liberdade é que Paulo volta a afirmar: “Posso fazer tudo o que quero, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma” (1Cor 6,12).
            O Apocalipse nos fala da nossa essência divina como uma marca que recebemos em nossa consciência (cf. Ap 7,3). Numa época em que a maioria das pessoas acha mais fácil deixar-se levar por suas emoções cegas e por seus afetos desordenados, São João nos lembra que a nossa consciência precisa assumir o papel que lhe é próprio: administrar nossas emoções, ordenar nossos afetos, orientar a nossa liberdade segundo a verdade de Deus que nos habita, segundo a Sua voz, presente na essência divina que se esconde no mais profundo de nós e que pede para ser levada em conta nas nossas escolhas e decisões, se quisermos ser pessoas verdadeiramente saudáveis, felizes e realizadas. Além disso, João nos alerta para o fato de que, embora todo ser humano passe por muitas tribulações na sua vida terrena, toda pessoa que deseja ser fiel à sua vocação à santidade enfrentará tribulações muito mais intensas e dolorosas, tanto dentro quanto fora de si mesma (cf. Ap 7,14).  
            O mesmo apóstolo João nos ensina, na sua primeira carta, que a santidade é um processo nunca concluído, mas sempre em andamento: “Desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos” (1Jo 3,2). Se a nossa meta é nos tornarmos semelhantes à imagem do Filho de Deus, sabemos que nossa caminhada rumo à meta é feita de avanços, retrocessos, quedas, paradas e retomadas. Por isso, temos que caminhar mantendo os nossos olhos fixos em Jesus (cf. Hb 12,1). Ele foi humano como nós em tudo. Procurando nos comportar como Ele se comportou conseguiremos olhar o mundo com outros olhos: não como um lugar do qual devemos nos manter distantes ou nos defender, mas como o lugar que precisa receber a luz do divino que nos habita, o lugar onde existem pessoas que precisam ser salvas, que precisam tomar consciência de quem pertencem a Deus e são infinitamente amadas por Ele!
            Sendo verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, Jesus escolheu viver segundo a sua essência divina e nos indicou o caminho da santidade: aprender com os pobres, consolar os aflitos, tornar-se capaz de mansidão, comungar da fome e da sede de quem anseia por justiça, exercer a misericórdia (afetar-se pela dor do outro), cuidar da nossa essência (ser puro de coração), não se cansar de lutar pela paz e suportar ser perseguido por querer um mundo e uma Igreja mais justos, mais de acordo com os valores do Evangelho. Ser santo não significa tornar-se o que não se é, mas ser fiel ao que se é; não significa vestir-se com roupas “religiosas”, mas despir-se das vestes farisaicas que servem apenas para disfarçar o barro de que somos feitos.    

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Algumas reflexões dos Santos para a nossa vida:

“Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras”
(São Francisco de Assis).

“Quanto mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o coração à luz que vem do alto” (Santa Edith Stein).

“Tem sempre presente que a pele se enruga, que o cabelo se torna branco, que os dias se convertem em anos, mas o mais importante mão muda: tua força interior”
(Madre Teresa de Calcutá).

“A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”
(Santo Agostinho).

“Trabalha em algo, para que o diabo te encontre sempre ocupado”
(São Jerônimo).

“Quem diz verdades perde amizades”
(Santo Tomás de Aquino).

“Não se opor ao erro é aprová-lo; não defender a verdade é negá-la”
(Santo Tomás de Aquino).

“No entardecer da vida, seremos julgados sobre o amor”
(São João da Cruz).

“Pertence àquele que tem fome o pão que tu guardas; àquele que está nu a capa que tu conservas nos teus armários; àquele que está descalço, os sapatos que apodrecem em tua casa; ao pobre o dinheiro que tu tens guardado. Assim tu cometes tantas injustiças quantas as pessoas às quais poderias dar” 
(São Basílio Magno).

“Quando rezamos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus fala conosco”
(São Jerônimo).

“Enquanto formos cordeiros, venceremos e, mesmo que sejamos circundados por numerosos lobos, conseguiremos superá-los. Mas se nos tornarmos lobos, seremos derrotados, porque ficaremos desprovidos da ajuda do pastor”
(São João Crisóstomo).

“Não há santos sem passado, nem pecadores sem futuro”
(Cardeal Van Thuan).

“Não tenhas medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser”
(Papa Francisco).

“A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça” (Papa Francisco).

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

DEUS NÃO SE ENCONTRA NO ALTO DA MONTANHA DO NOSSO ORGULHO, MAS NO VALE DA NOSSA HUMILDADE.



Missa do 30º. dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a; 2Timóteo 4,6-8.16-18; Lucas 18,9-14.

            Primeiro Jesus nos ensinou a orar (cf. Lc 11,1-13); depois nos ensinou a sermos perseverantes na oração (cf. Lc 18,1-8); agora ele nos convida a repensar a maneira como nos colocamos diante de Deus na oração. Quando rezo, posso me colocar nas mãos de Deus como o barro se coloca nas mãos do oleiro, permitindo que o Oleiro divino me corrija, me aperfeiçoe, me transforme, fazendo de mim um vaso novo, uma pessoa nova. No entanto, também é possível colocar-se diante de Deus como uma pessoa que se vê perfeita, irrepreensível, que já amadureceu e, principalmente, que se julga superior às outras. Neste caso, o Oleiro não tem o que fazer, pois o barro endureceu na sua arrogância e autossuficiência, tornando-se uma estátua rígida, uma peça pronta, que está ali não para ser modelada, mas admirada ou mesmo “recompensada”.
            Segundo Jesus, todo encontro que temos com Deus na oração deveria nos fazer sair dele “justificados”, isto é, transformados. No entanto, às vezes essa transformação não acontece, e o problema não está em Deus, mas em nós, porque, ao invés de mergulhar de cabeça na água da piscina, nos dispusemos a molhar somente os pés; ao invés de permitir que o Médico tocasse nas nossas feridas mais profundas, nós quisemos que Ele nos desse somente um remédio para aliviar os sintomas da nossa doença; ao invés de nos despirmos diante d’Aquele que nos conhece por dentro, colocamos a melhor roupa e fizemos a melhor maquiagem para disfarçar – como se isso fosse possível – diante d’Ele aquilo que realmente somos.
            Assim como existem orações “perdidas” – orações que não nos transformam – existem também tratamentos “perdidos”, terapias jogadas fora, dinheiro desperdiçado em consultas médicas e tratamentos caros que não curam; inúmeras orações feitas em novenas, trezenas, missas, cultos, jejuns, quaresmas de São Miguel, cercos de Jericó etc.; devoções que nada modificam, nada transformam porque a pessoa se recusa a mergulhar no profundo de si mesma e a reconhecer seus erros e suas responsabilidades. São pessoas que mudam constantemente de médico, de terapeuta, de igreja, de religião, de crença, de parceiros(as), mas continuam sempre as mesmas, porque se recusam a mudar por dentro, se recusam a enfrentar seus fantasmas e a sofrerem a dor da transformação.
            Assim como a condição para ser curado é reconhecer e admitir que se está doente, a condição para sairmos da oração transformados é descer do pedestal da nossa arrogância. Da mesma forma como não se pode colocar mais nada num copo que já está cheio, a pessoa arrogante, que se julga justa e melhor do que as outras – como o fariseu na parábola – é alguém “impermeável” à graça de Deus. Por isso, Jesus nos propõe uma outra atitude – a do pecador na parábola: reconhecer a verdade de si mesmo perante Deus; permitir que Ele coloque a mão onde estamos feridos; aceitar as correções da sua Palavra; assumir verdadeiramente a responsabilidade diante das mudanças que são necessárias para a nossa vida; confrontar-nos com os nossos limites; enfim, reconhecer que precisamos ser salvos!    
            Jesus afirmou que “quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (Lc 18,14). “Elevar-se” significa ser o que não se é, afastar-se da própria verdade, mentir para si mesmo e para os outros, trilhar um caminho de distanciamento de si mesmo, desligar-se das suas próprias raízes, rejeitar seus próprios limites, sua sombra, suas fraquezas. Ora, se é verdade que a força de Deus se manifesta justamente em nossa fraqueza (cf. 2Cor 12,9), elevar-se significa fechar-se à graça transformadora de Deus. Por outro lado, “humilhar-se” não significa diminuir-se, mas reconciliar-se com a própria verdade, acolher-se e aceitar-se como se é, tomar consciência do próprio tamanho e das próprias capacidades, voltar a ter contato com as próprias raízes, das quais recebemos a seiva do Espírito de Deus e a partir das quais recobramos a consciência da nossa força e da nossa capacidade de resistir aos ventos contrários. Humilhar-se significa compreender que o verdadeiro encontro com Deus na oração nunca se dará no alto da montanha da nossa soberba, do nosso orgulho ou da nossa arrogância, mas lá embaixo, no vale da nossa humildade, no confronto com as nossas feridas, com as nossas sombras e com os nossos medos.      
            Eis, portanto, uma oração que talvez seja necessária para cada um de nós neste momento:

            Senhor Deus, o mundo tem me incentivado a subir os degraus da escada do orgulho e da arrogância, para que eu me sinta forte, vencedor(a), inabalável e melhor que muitas outras pessoas. Mas sempre que me coloco assim diante de Ti, não há espaço para a Tua graça penetrar em minha alma. Deixo de ser barro em Tuas mãos e saio da oração do mesmo jeito que entrei, sem ser transformado(a).
            Teu Filho Jesus me convida a descer do alto da montanha da minha arrogância até o vale da minha humildade, onde posso voltar a dialogar com a minha verdade, reencontrar as minhas raízes e falar contigo a partir delas, a partir da minha verdadeira necessidade de ser curado(a), corrigido(a), transformado(a).
            Diante do Teu amor que tudo pode curar e transformar quero me despir da minha armadura de fariseu, de pessoa que não se reconhece necessitada de salvação, que não admite suas próprias fraquezas e se julga melhor do que as outras. Assim como o salmista, eu Te peço: “preserva-me do orgulho, para que ele nunca me domine” (Sl 19,13). Concede-me a graça e a coragem de ser humilde, de estar assentado sobre o chão da minha verdade, consciente da minha força e da minha fraqueza, da minha luz e da minha sombra, reconciliado(a) com a minha história de vida. Amém!    

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

SÓ QUEM NÃO PERDEU A ESPERANÇA CONSEGUE ORAR

Missa do 29. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 17,8-13; 2Timóteo 3,14–4,2; Lucas 18,1-8.

“Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” (Lc 18,1). As mãos de muitos cristãos se cansaram de elevar-se ao Céu, assim como os seus joelhos se cansaram de se dobrar na oração... Alguns abandonaram a vida de oração porque se cansaram de esperar por Deus; outros, porque Ele não atendeu aos seus pedidos. Quantos pais suplicaram a Deus pela cura do seu filho enfermo e não foram atendidos? Muitas pessoas não conseguem mais rezar porque sua alma foi tomada pela raiva em relação a Deus, uma raiva humanamente compreensível, uma vez que nós somos profundamente limitados para compreender os caminhos de Deus. Portanto, para muitas pessoas, antes de pensar em retomar sua vida de oração, trata-se primeiro de enfrentar sua raiva, sua revolta contra Deus; trata-se até mesmo de perdoar Deus, antes de voltar a dialogar com Ele na oração. 
Quando estava diante do túmulo de Lázaro, “Jesus ergueu os olhos para o alto e disse: ‘Pai, eu sempre me ouves’” (Jo 11,41-42). Quando nos ensinou a oração do Pai nosso, Jesus nos garantiu que o Pai sabe das nossas necessidades (cf. Mt 6,8). Portanto, sempre que nos colocamos em oração, devemos ter a profunda confiança de que o Pai nos ouve, porque somos Seus filhos e filhas. O Pai sempre nos ouve; no entanto, diante de um pedido nosso Ele às vezes diz ‘sim’; às vezes, ‘não’; às vezes, ‘ainda não’. Em outras palavras, nossa oração nunca funcionará como uma senha que digitamos para ter acesso aos bens que desejamos receber de Deus; nossa oração nunca será uma “queda de braço”, até que dobremos Deus à nossa vontade. Pelo contrário, muitas vezes nossa oração será uma “queda de braço” até que o nosso egoísmo ceda e dê lugar à vontade de Deus em nossa vida, Ele que faz com que tudo concorra para o bem e para a salvação dos Seus filhos e filhas; tudo, até mesmo o ‘não’ que nos diz (cf. Rm 8,28).   
“Minha alma espera pelo Senhor, mais que os vigias pela aurora” (Sl 130,6). Às vezes a nossa oração é uma interminável noite de espera. Aí está o exemplo da oração de Moisés: “enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec. Ora, as mãos de Moisés tornaram-se pesadas... Aarão e Ur, um de cada lado sustentavam as mãos de Moisés. Assim, suas mãos não se fatigaram até ao pôr do sol, e Josué derrotou Amalec...” (Ex 17,11-13). Enquanto nossa oração é sustentada pela esperança, vencemos os desafios de cada dia; quando deixamos de esperar no Senhor e abandonamos nossa oração, passamos a ser vencidos... Portanto, nosso desafio na oração é aprender a esperar no Senhor e pelo Senhor. Na verdade, só consegue rezar quem tem esperança. Aqui são oportunas as palavras do salmista: “Os que esperam em ti não ficam decepcionados, ficam decepcionados os que negam sua fé por qualquer motivo” (Sl 25,3).
Além de falar da profunda necessidade de rezar sempre e nunca desistir, Jesus quer corrigir uma possível imagem errada que temos de Deus como se, ao invés de ser o Pai que conhece nossas necessidades, Ele fosse alguém alheio ao que nos acontece, insensível à nossa dor, surdo aos nossos apelos, desinteressado em relação às injustiças que atingem inúmeras pessoas em nosso mundo. Por quatro vezes no Evangelho aparece a expressão “fazer justiça” (vv.3.5.7.8). A súplica dessa viúva por justiça nos fala de pessoas que oram a Deus não por um capricho, não para pedirem coisas supérfluas, mas para pedir aquilo que é justo para se ter uma vida digna, uma vida que Deus quer para todo ser humano.  
Nosso país é profundamente injusto. Na última quarta-feira, o IBGE divulgou que em 2018 a renda média do 1% dos mais ricos subiu de R$ 25.593 para R$ 27.744, alta de 8,4%. Já entre os 5% mais pobres, o rendimento caiu 3,2%. Em outras palavras, aumentou ainda mais a desigualdade entre ricos e pobres, uma desigualdade que gera inúmeras injustiças sociais. Nossa oração tem espaço para clamar a Deus pelos que são injustiçados em nosso país? Assim como a viúva no Evangelho, quantas pessoas clamam por justiça no Brasil? Nós também somos cristãos tradicionalistas e conservadores, cuja prática religiosa se mantém alheia às injustiças sociais e cuja consciência religiosa se mantém anestesiada por meio de práticas devocionais intimistas e individualistas?
Eis a confiança de Jesus na oração: “E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc 18,7-8). Deus fará justiça! Não duvidemos disso! O mesmo Deus que fez justiça ao seu Filho, ressuscitando-o, fará justiça a todos os que clamam por Ele! Mas Jesus nos pergunta: nossa fé saberá esperar em Deus? Nossa fé sobreviverá ao aparente silêncio de Deus e às injustiças dos homens? Nossa fé se manterá firme na oração, independente se estamos sentindo Deus ou não quando oramos? O Pe. Tomáš Halík, no seu livro A noite do confessor, afirma que “a força de Deus pode manifestar-se na nossa fraqueza, mas não na nossa indiferença, preguiça, amargura ou cinismo” (p.147). Em outras palavras, que nossa oração seja marcada pela nossa fraqueza não há problema algum – o apóstolo Paulo garante que “o Espírito socorre a nossa fraqueza” (Rm 8,26) quando oramos; o problema é quando deixamos de orar por termos nos tornado indiferentes a Deus, ou preguiçosos, ou amargos ou mesmo cínicos perante a vida e os acontecimentos!
Que as seguintes palavras da monja carmelita Ruth Borrows aprofundem a nossa compreensão acerca da oração: “O único desejo e propósito de Deus é dar-Se a mim... Não temos de persuadir Deus a ser bom para nós, temos apenas de nos entregar à bondade que nos cerca... A nossa comunhão com Deus não tem absolutamente nada a ver com estados de emoção, o que experimentamos ou não experimentamos na oração. Não tem em absoluto nada a ver comigo, exceto que eu a recebo. É obra totalmente de Deus, quando Ele toma posse de mim... Toda a minha preocupação é que Deus tenha o que Ele quer: a oportunidade de ser bom para mim quanto Ele desejar. E isso excede minha compreensão. Arrisquei meu tudo no Deus que nunca me decepciona” (Essência da oração, Ed. Loyola).


Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

MARIA, O SAGRADO DO FEMININO


Missa de Nossa Senhora Aparecida. Palavra de Deus: Ester 5,1b-2; 7,2b-3; Apocalipse 12,1.5.13a.15-16a; João 2,1-11.

A Sagrada Escritura nasceu num ambiente patriarcal, marcado fortemente pela figura e pela atuação masculina, em detrimento da figura feminina. Por isso, encontramos na Bíblia um número incontável de homens e ao mesmo tempo um número reduzido de mulheres que ajudaram a escrever a história da salvação. Uma das poucas figuras femininas mencionadas pelo Antigo Testamento apareceu na 1ª. leitura: Ester. Sendo portadora de uma beleza física incomparável e tendo um coração temente e voltado para Deus, Ester se coloca diante do rei para pedir pela vida de seu povo, os judeus, que estavam ameaçados de morte. Nossa Igreja recorda hoje a intercessão de Ester junto ao rei ao professar a sua fé na intercessão de Maria, a mãe de Jesus, invocada em nosso país como Nossa Senhora Aparecida.
 Tanto a sensibilidade de Ester (1ª. leitura) quanto a de Maria (Evangelho) nos falam da força do feminino que se coloca em diálogo com o masculino para dar um outro rumo à história humana, até mesmo no sentido de ampliar o horizonte de visão do masculino e lembrá-lo de que ele não é somente razão, mas também sentimento. Ao mesmo tempo, as figuras de Ester e de Maria nos remetem a inúmeras mulheres que hoje lutam por aquilo em que acreditam, mulheres que não entregam os pontos diante das dificuldades e dos problemas, que mantêm a casa em pé onde a presença masculina é fraca ou totalmente ausente.
No livro do Apocalipse a imagem da Igreja é retratada na imagem da mulher grávida, em dores de parto. Ela está revestida de sol, da luz da ressurreição, tendo o tempo debaixo dos pés, sinal que aponta para a eternidade, e sobre sua cabeça uma coroa, prêmio que Jesus prometeu a todos aqueles que perseverarem até o fim na sua fé. As doze estrelas remetem para os 12 apóstolos e as doze tribos de Israel – imagem da Igreja, do povo de Deus. Há um dragão que ameaça devorar o filho da mulher; é a presença do mal que ameaça devorar nossos sonhos e acabar com nossos esforços em trabalhar em favor da vida e da esperança. Mas podemos contar com a intervenção de Deus, que preserva o filho que nasce e protege a mulher do dragão: “Se nós trabalhamos e lutamos é porque colocamos a nossa esperança no Deus vivo, salvador de todos os homens, principalmente dos que têm fé” (1Tm 4,10).
Essa intervenção de Deus que protege e salva a criança do dragão nos lembra hoje da nossa responsabilidade em proteger as crianças que estão à nossa volta. Sabemos que inúmeras crianças são expostas ao mal em nosso mundo, seja por não terem pai ou mãe junto delas, seja porque seus pais não têm a consciência voltada para Deus e acabam eles mesmos expondo seus filhos ao mal: crianças expostas a palavrões e agressões, expostas à bebida, ao cigarro e a outras drogas, expostas à pornografia e ao abuso sexual, expostas à fome, às doenças, às guerras etc., crianças que estão crescendo sem nenhum tipo de educação religiosa, distantes de Deus e da fé.
O Evangelho nos coloca numa cena de casamento, imagem do desejo de Deus de unir-se a cada ser humano e de lhe conceder a verdadeira alegria, simbolizada pelo vinho (cf. Os 2,21-22). Acontece que, durante a festa de casamento, o vinho veio a faltar. Na prática, isto pode significar o desgaste provocado pela rotina; o descuido com as coisas pequenas; os ressentimentos acumulados, guardados e não enfrentados; as expectativas excessivas e idealizadas em relação ao outro...
Maria intercede junto a Jesus, mas ele a coloca no seu lugar: “Minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4). A hora de Jesus derramar o sangue da nova e eterna aliança entre o Pai e a humanidade será a hora da cruz. Mas Maria, com a sua intercessão, antecipa esta hora, aconselhando aos servos: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5). Se não há alegria em nós, se o vinho acabou, precisamos nos perguntar: Estamos vivendo a nossa vida segundo o que Jesus nos diz no Evangelho? Jesus nos manda encher as talhas de água, isto é, cuidar daquilo que caiu no descuido, voltar a encher aquilo que se esvaziou, tendo a certeza de que o vinho melhor, a alegria maior, sempre poderá nascer depois de uma crise ou de um sério desgaste. 
Por fim, a liturgia de hoje nos convida a pensar o lugar da mulher na Igreja. Duas palavras do Papa Francisco podem nos ajudar: “A família atravessa uma crise cultural profunda... O matrimônio tende a ser visto como mera forma de gratificação afetiva...” (EG 66). “Ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja... nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes...” (EG 103). 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

TEMOS MUITO AINDA POR FAZER, MAS TAMBÉM TEMOS MUITO A AGRADECER!

Missa do 28º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Reis 5,14-17; 2Timóteo 2,8-13; Lucas 17,11-19.

Alguns desejam apenas um copo de água; outros desejam encontrar a fonte de onde jorra a água. Alguns desejam apenas colocar um remendo para tapar o buraco que se abriu na roupa; outros desejam despir-se totalmente, suportarem a própria nudez, até que sejam revestidos de uma veste totalmente nova. Alguns desejam receber alguma bênção ou alguma graça de Deus; outros desejam encontrar-se com o próprio Deus. Alguns desejam apenas a cura da pele; outros procuram por Aquele que pode mudar o coração de pedra num coração de carne. Alguns desejam apenas um remédio para aliviar a dor que sentem; outros se dispõem a enfrentar um tratamento demorado e doloroso, a fim de que sua doença seja verdadeiramente erradicada, sanada.
No caminho da viagem de Jesus para Jerusalém, dez leprosos vêm ao seu encontro: nove deles são judeus; apenas um é samaritano. Na época de Jesus, judeus e samaritanos se odiavam reciprocamente. No entanto, a doença da lepra os une, os iguala: são todos homens necessitados de cura, de salvação. Em nosso país, há também um ódio entre aqueles que se consideram da “direita” e os da “esquerda”, um ódio que se manifestou de maneira gritante nas eleições ocorridas no final do ano passado e que já deveria ter sido superado, se não fosse o fato de o Presidente da República usar as redes sociais para alimentar nos seus seguidores a ideia de que todas as pessoas que discordam dele são inimigos da Pátria, “maus brasileiros”, pessoas que merecem ser odiadas, atacadas, agredidas e, se possível, destruídas.
            Esses dez leprosos do Evangelho nos lembram que, independente das nossas diferenças de opinião quanto à política e à religião e das diferenças entre as classes sociais e níveis de escolaridade, todos estamos contaminados com a lepra da violência, todos somos passíveis de sofrer uma injustiça, de desenvolver uma doença grave, de perdermos o emprego, de sermos atingidos por algum tipo de mal; numa palavra, todos temos feridas e todos precisamos de cura.  
            O que nos chama a atenção no Evangelho de hoje é a forma como os dez leprosos são curados. Depois de eles gritarem: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” (Lc 11,13), Jesus lhes disse: “Vão apresentar-se aos sacerdotes”. E o Evangelho diz que “enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados” (Lc 17,14). A nossa cura acontece enquanto caminhamos, obedecendo à palavra de Jesus. Enquanto algumas pessoas só aceitam sair do seu lugar depois que Deus se manifestar na vida delas modificando sua situação de sofrimento, muitos outros confiam na palavra de Deus e se colocam a caminho ainda estando doentes, ainda não tendo todos os seus problemas resolvidos ou todas as suas perguntas respondidas. Não há cura para quem não aceita fazer um caminho com Jesus, orientando-se por sua palavra.
            Mas um outro detalhe importantíssimo surge na cura desses dez leprosos: “Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu” (Lc 17,15-16). Enquanto caminhamos com Deus, algumas das nossas perguntas vaõ sendo respondidas, assim como algumas das nossas feridas vão sendo curadas. Mas quem de nós se dá conta disso? Quem de nós percebe as pequenas mudanças que vão se dando em nossa vida porque decidimos dar passos na direção que a palavra de Deus nos apontou? Muitas vezes, nós estamos tão preocupados em chegar ao final do caminho, contabilizando e sofrendo pelos passos que ainda nos faltam dar, que não reconhecemos aquilo que já caminhamos e o quanto já fomos transformados na caminhada que já fizemos.
            O samaritano que voltou a Jesus para agradecer pela cura nos ensina que quando nós só vemos o que nos falta, o que ainda não alcançamos, quando só vemos os problemas a serem enfrentados e as lutas a serem travadas, não encontramos motivos para agradecer. Quando nos tornamos pessoas descontantes, amargas e preocupadas, não conseguimos reconhecer e valorizar o que há de positivo no momento presente. Muitas pessoas religiosas não expressam alegria no seu rosto, mas uma constante preocupação, uma constante angústia, como se a alegria e a gratidão fizessem parte apenas da vida de quem não sofre o que elas sofrem. E, no entanto, ter alegria e demonstrar gratidão não é consequência de uma vida sem problemas, mas de pessoas que caminham confiantes de que Deus sempre fará com que tudo concorra para o bem daqueles que n’Ele confiam, a Ele se entregam e por Sua palavra orientam suas vidas.    
No seu livro “Despertar a gratidão”, Anselm Grün observa que “muitas vezes está por trás da atitude da ingratidão uma insaciabilidade. Ao invés de aceitar com gratidão alguma coisa, a pessoa devora tudo. Mas nunca basta. Todo presente que recebe é pouco” (p.19). Outra coisa importante que este autor afirma é que, na medida em que nos reconhecemos como homens e mulheres criados por Deus, agradecemos justamente o fato de termos sido criados, agradecemos o fato de sermos e não o se não sermos. Portanto, a gratidão é uma forma de enxergar a vida e a nós mesmos...
Posso olhar para a minha história de vida, e agradecer a Deus por ser quem eu sou. Posso olhar para o meu corpo e agradecer porque, para além dos padrões de estética do momento, eu tenho a minha própria beleza. Posso olhar para as minhas cicatrizes, as minhas rugas, os meus cabelos brancos, e agradecer porque cada uma dessas marcas me diz que eu vivi e não fui vivido pelos acontecimentos. Posso olhar para a minha alma e para as cicatrizes que estão nela, e agradecer porque elas são as memórias das lutas que travei comigo para amadurecer como pessoa...  

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

SUA FÉ SOBREVIVERÁ?


Missa do 27º. Dom. comum. Palavra de Deus: Habacuc 1,2-3; 2,2-4; 2Timóteo 1,6-8.13-14; Lucas 17,5-10.

             “Os apóstolos disseram ao Senhor: ‘Aumenta a nossa fé!’” (Lc 17,5). Crer, ter fé, nunca foi e nunca será fácil, porque significa abrir mão das nossas seguranças humanas, deixar de nos apoiar em nós mesmos para nos apoiar no “Deus escondido” (Is 45,15), isto é, no Deus que não podemos ver, no sentido de “controlar”, mas apenas ouvir e confiar no que Ele nos fala, isto é, na sua Palavra.
            Num momento difícil para o rei Acaz, que enfrentava a ameaça de uma guerra e seu coração se agitava “como se agitam as árvores do bosque impelidas pelo vento” (Is 7,2), o profeta Isaías lhe disse: “Se você não tiver fé, não se manterá firme” (Is 7,9). A mesma coisa Deus nos diz: “Se vocês não se atreverem a se apoiar em Mim, jamais experimentarão que são amparados”.  
A imagem dos trapezistas nos ajuda a entender o quanto a fé exige que nós soltemos da nossa barra de segurança e confiemos que Deus vai nos segurar em Suas mãos: “A cada desempenho, os trapezistas confiam em que seu voo terminará quando suas mãos deslizarem para o aperto seguro das mãos do parceiro. Sabem que só o ato de soltar-se da barra de segurança permite-lhes voarem com leveza para a próxima. Antes de serem pegos, precisam soltar. Precisam desafiar o vazio do espaço. Viver com essa disposição para soltar é um dos maiores desafios que enfrentamos” (H. Nouwen, Transforma meu pranto em dança).
Não há fé que não passe por crise, dúvidas, noites escurar e questionamentos. Exemplo concreto disso: “Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti: ‘Violência!’, sem me socorreres? Por que me fazes ver iniquidades, quando tu mesmo vês a maldade?” (Hab 1,2-3). O profeta Habacuc não está questionando se Deus existe, mas está questionando por que Ele não age, por que não intervém e dá um basta ao mal que há no mundo? Aquilo que mais se opõe à fé não são nossas dúvidas e interrogações, mas o fato de nos tornarmos indiferentes a com Deus, desistindo de buscá-Lo.
Muitas pessoas abandonaram o caminho da fé porque não souberem lidar com o silêncio de Deus diante das suas orações. Talvez elas não tenham se dado conta de que “ninguém ouve Deus continuamente; a fé é vida, que também consiste em momentos em que somos confrontados com o silêncio de Deus” (Tomáš Halík*, A noite do confessor, p.106). Desse modo, são muito oportunas essas palavras de Santo Agostinho: “Quando você se afasta do fogo, ele continua aceso e aquecendo, mas você se esfria. Quando você se afasta da luz, ela continua brilhando, mas você se cobre de escuridão. O mesmo acontece quando você se afasta de Deus”.
Deus respondeu ao questionamento de Habacuc por meio de uma visão, mas o alertou: “A visão refere-se a um prazo definido, mas tende para um desfecho, e não falhará; se demorar, espera, pois ela virá com certeza, e não tardará. Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” (Hb 2,3-4). Deus não é indiferente ao mal que age no mundo e fere muitos dos Seus filhos. Mas nossa fé n’Ele nunca vai funcionar como uma pressão da nossa parte que forçará Deus a agir quando e como queremos que Ele aja. Ele nos garante que há um desfecho, há uma resposta, mas se essa resposta, essa intervenção de Deus demorar, precisamos esperar, na fé e na certeza de que ela não tardará. Além disso, Deus nos alerta que chegará um tempo em que nós só nos manteremos vivos pela força da nossa fé, enquanto que todo aquele que abandonar o caminho da fé – deixar de ser correto – morrerá, isto é, se tornará como um arco frouxo do qual nenhuma flecha poderá ser lançada.
Enquanto o profeta Habacuc estava vivendo uma crise de fé e os discípulos estavam se sentindo fracos na fé, nós estamos vivendo numa época não apenas marcada por muitas incertezas, mas também por propagandas enganosas de fé: pregadores que vendem uma fé mágica, que resolve todos os nossos problemas de maneira instantânea, uma fé sem cruz, sem sofrimento, sem necessidade de esperar pela intervenção de Deus. Mas a verdade é que “é precisamente uma fé temperada no fogo da crise, livre dos elementos demasiadamente humanos, que se revelará mais resistente às tentações constantes de simplificar e vulgarizar a religião... A fé que aguenta o fogo da cruz sem bater em retirada perderá, provavelmente, grande parte daquilo com que costumava se identificar ou a que tinha se habituado. Será uma fé nua, sem armadura” (Tomáš Halík, A noite do confessor, pp.32.36).
Não há dúvida de que o pedido dos discípulos a Jesus é também o nosso: “Aumenta a nossa fé!”. “Não nos deixes cair num cristianismo sem cruz. Ensina-nos a descobrir que a fé não consiste em acreditar no Deus que nos convém, mas naquele que fortalece a nossa responsabilidade e desenvolve a nossa capacidade de amar. Ensina-nos a seguir-te tomando a nossa cruz cada dia. Aumenta-nos a fé. Dá-nos uma fé centrada no essencial, purificada de adesões artificiais que nos afastam do núcleo do teu Evangelho. Ensina-nos a viver nestes tempos uma fé, não fundada em apoios externos, mas na tua presença viva nos nossos corações e nas nossas comunidades crentes” (Pe. Pagola).
Enfim, para aqueles que entendem que a fé só poderá surgir em sua alma quando Deus remover totalmente o absurdo do mal que há no mundo, vale refletir sobre esta verdade: “O mistério do mal e do sofrimento tem conduzido pessoas para Deus, mas também as afastado d’Ele. Que sentido tem um Deus que não sabe o que fazer do sofrimento, ou, se o sabe, não nos quer ajudar? Mas se nós Lhe viramos as costas, será que isso ajuda a nos livrar do sofrimento, ou será que, pelo contrário, nos privará da força para confrontarmos e fazermos frente ao mal e ao sofrimento? (Tomáš Halík, A noite do confessor, pp.156-157).

* Tomáš Halík, padre e teólogo tcheco.

Pe. Paulo Cezar Mazzi