quinta-feira, 6 de junho de 2019

VEM SOBRE NÓS, ESPÍRITO SANTO!

Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João 20,19-23.      
     
            Pentecostes: uma festa celebrada pelos judeus cinquenta dias após a Páscoa. Foi neste dia que o Pai, por meio do Filho, enviou o Espírito Santo sobre os discípulos (cf. At 2,1.4). Passados alguns anos, o apóstolo Paulo perguntou a alguns cristãos, assim que chegou à cidade de Éfeso: “Vocês receberam o Espírito Santo quando abraçaram a fé?”, ao que eles responderam: “Mas nem ouvimos dizer que existe um Espírito Santo” (At 19,2). Quantos de nós desconhecemos o Espírito Santo? Se muitos têm um relacionamento com o Pai e com o Filho, quem de nós tem algum relacionamento com o Espírito Santo? Afinal, quem é o Espírito Santo? Como imaginá-Lo? Onde encontrá-Lo? Como experimentá-Lo?      
            Através do profeta Ezequiel, Deus havia feito uma promessa: “Eu darei a vocês um coração novo... Porei no íntimo de vocês o meu espírito... Porei o meu espírito em vocês e vocês viverão” (Ez 36,26.27; 37,6). Esta promessa foi feita também por meio do profeta Joel: “Derramarei o meu espírito sobre todo ser humano” (Jl 3,1). Na verdade, o Espírito de Deus já havia sido mencionado desde o início da criação, quando Ele pairava como vento sobre as águas (cf. Gn 1,2). Depois, Ele se manifestava no momento em que um rei era ungido com óleo (cf. 1Sm 16,13) ou um homem era escolhido para ser profeta (cf. Is 42,1; 61,1). João Batista, o último dos profetas, afirmou que Jesus nos batizaria com o Espírito Santo e com fogo (cf. Mt 3,11). No momento em que Jesus foi batizado, o Espírito Santo foi visto descer e permanecer sobre Ele como se fosse uma pomba (cf. Mt 3,16). Desse modo, Ele se reconheceu como o Ungido do Senhor (cf. Lc 4,18), sendo chamado de Cristo (Ungido). Finalmente, como vimos domingo passado, no momento da Ascensão de Jesus ao céu, Ele prometeu enviar o Espírito Santo sobre seus discípulos como força do alto (cf. At 1,8).
            Ao descrever a presença misteriosa do Espírito Santo como vento, a Bíblia nos ensina que, se Deus retirar de nós Seu espírito, nós morremos: “Retiras o teu sopro e eles morrem. Envias o teu sopro e eles renascem” (citação livre de Sl 104,29-30). Desse modo, Jesus ressuscitado comunica o Espírito Santo aos discípulos soprando sobre eles. Este sopro é vida interior, é força que nos anima a partir de dentro, é vento que sopra sobre nós e nos vivifica, nos põe em pé (cf. Ez 37,10) e nos reanima. Foi este vento que encheu a casa onde os discípulos estavam no dia de Pentecostes (cf. At 2,2).
            Se o vento ou o sopro não podem ser vistos, mas apenas sentidos, o Espírito Santo se mostrou visível no dia de Pentecostes em “línguas como de fogo”. O fogo exprime a força purificadora e transformadora do Espírito Santo. Assim como o fogo tem o poder de derreter o metal mais duro, assim o Espírito Santo pode dobrar a dureza do nosso coração ou transformar nosso caráter. Assim como o fogo purifica o ouro e a prata, assim o Espírito Santo remove nossas impurezas e nos santifica. Se esse fogo toma a forma de “línguas” é porque o Espírito Santo nos dá a capacidade de comunicar palavras de conforto a toda pessoa abatida, palavras de reconciliação e de perdão, palavras de fé, de esperança e de orientação.
            Jesus chamou o Espírito Santo de “força do alto”. Quando alguns homens piedosos se puseram a reconstruir o Templo em Jerusalém, Deus lhes disse: “Não pelo poder, não pela força, mas sim pelo meu espírito” (Zc 4,6). Existem situações em nossa vida e na vida do mundo que não podem ser mudadas pelo nosso poder e força humanos, mas unicamente pela graça do Espírito Santo. Além disso, devemos nos lembrar mais uma vez que “Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força...” (2Tm 1,7). Desse modo, o Espírito Santo sempre nos impulsiona para enfrentar os desafios e os problemas, e nunca para fugir deles. Por sua vez, o apóstolo Paulo nos lembra hoje que “a cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7). Ninguém recebe o Espírito Santo para si, mas para fazer algo pelo bem e pela salvação dos outros. Portanto, toda pessoa que age movida pelo Espírito Santo, trabalha pela unidade e pela comunhão, jamais pela divisão ou separação dentro da Igreja (cf. 1Cor 12,4-6.12-13).  
            Jesus gostava de chamar o Espírito Santo de “Espírito da Verdade” (Jo 15,26; 16,13), porque somente Ele pode penetrar no mais íntimo do coração humano e livrá-lo das suas mentiras, dos seus erros; somente a Verdade do Espírito Santo pode nos convencer a abandonar o pecado e a desejar caminhar segundo a vontade de Deus. No entanto, o apóstolo Paulo afirma que nós precisamos nos deixar conduzir pelo Espírito de Deus (cf. Rm 8,14). Ele não nos obriga a nada; Ele não nos violenta e não Se impõe, mas Se propõe a nós. Por Ele sempre visar o nosso bem, o bem que Deus quer para nós (cf. Rm 8,27), a melhor coisa que temos a fazer é entrar neste rio de água viva e deixar-nos levar calma e confiantemente pela sua correnteza, ao invés de ficarmos nadando contra a corrente e nos desviando da direção certa, do desígnio que Deus tem para nós.
                O apóstolo Paulo afirma que o Espírito Santo atesta, isto é, comprova que somos filhos de Deus; somente Ele faz nascer em nós uma súplica espiritual, uma palavra que dirigimos a Deus proclamando-O como nosso Abbá, nosso Papai (cf. Rm 8,15-16). Ora, ao mesmo tempo em que declaramos que não somos órfãos e que nossa vida não está nas mãos do acaso, mas do Papai, Jesus nos ensina que a coisa mais importante que nós, filhos de Deus, podemos pedir ao nosso Papai é o Espírito Santo (cf. Lc 11,13); pedir Aquele que nos enche de ânimo, de força e de esperança; pedir Aquele cujo amor tudo cura e restaura, cujo perdão reconcilia, reaproxima, recria comunhão; pedir Aquele cujo fogo tudo transforma e cuja água é viva e tudo vivifica; pedir Aquele que é a própria unção que nos consagra como pessoas que pertencem a Deus, Aquele cujo bálsamo cura nossas feridas e cuja graça transforma nosso coração de pedra em coração de carne; enfim, pedir Aquele que renova a face da terra...

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Antigo hino ao Espírito Santo

Vinde, Santo Espírito, e do céu mandai luminoso raio. Vinde, Pai dos pobres, doador dos dons, luz dos corações. Grande defensor, em nós habitais e nos confortais. Na fadiga, pouso; no ardor, brandura e na dor, ternura. Ó luz venturosa, que vossos clarões encham os corações. Sem vosso poder, em qualquer vivente nada há de inocente. Lavai o impuro e regai o seco, curai o enfermo. Dobrai a dureza, aquecei o frio, livrai do desvio. Aos vossos fiéis que oram com vibrantes sons dai os sete dons. Dai virtude e prêmio e no fim dos dias eterna alegria. Amém.

Hino – Vésperas de Pentecostes – Liturgia das Horas

Ó, vinde, Espírito Criador, as nossas almas visitai e enchei os nossos corações com vossos dons celestiais.  Vós sois chamado o Intercessor, do Deus excelso o dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli, e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador por vós possamos conhecer que procedeis do seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém!

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