Missa de São
Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo
4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.
Hoje, festa dos apóstolos São Pedro
e São Paulo, é um dia muito oportuno para refletirmos sobre aquilo que
professamos em nossa fé: “Creio na santa
Igreja católica”. Muitas pessoas hoje se recusam a afirmar que a Igreja
católica é “santa”, justamente por causa dos muitos escândalos que são
noticiados, ora com relação à conduta moral de alguns de seus representantes,
ora com relação às acusações de desvio de dinheiro e enriquecimento pessoal dos
mesmos. Como afirma muito bem o Pe. José Pagola, nós vivemos hoje uma inversão
de papéis: de uma Igreja que julga (e,
muitas vezes, condena) o mundo, passamos a um mundo que julga (e, muitas vezes,
condena) a Igreja.
Por que nós, católicos, ainda afirmamos
que cremos “na santa Igreja católica”? Porque “Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela
Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou
coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27). A santidade da
nossa Igreja não vem dela mesma, isto é, não vem do fato de que nós, católicos,
sejamos pessoas isentas de erros e de pecados, mas do fato do único sacrifício
de Cristo na cruz em favor da humanidade e da sua própria Igreja: “somos
santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por
todas” (Hb 10,10).
Voltemos, então, para esta afirmação:
de uma Igreja que julga e condena o mundo, passamos para um mundo que julga e
condena a Igreja. Mas aqui também podemos afirmar outra mudança: de uma Igreja
que julgava estar acima do bem e do mal, passamos a uma Igreja que hoje está
tendo que reconhecer seus erros, suas doenças e, sobretudo, a omissão e a
conivência de alguns de seus líderes em relação a padres e bispos que, apesar
de terem um dia sido consagrados a Deus, se portam dentro da Igreja como padres
e bispos mundanos. Neste sentido, precisamos lembrar as sábias palavras de
Santo Agostinho: “Há pessoas que estão
dentro (da Igreja), mas vivem como se estivessem fora; há pessoas que estão
fora (da Igreja), mas vivem como se estivessem dentro”.
Em matéria de escândalos, não há como
tapar o sol com a peneira, mas também é preciso lembrar o que Jesus disse
justamente à sua Igreja: “É necessário que haja escândalos, mas ai do homem
pelo qual o escândalo vem!” (Mt 18,7). Quando Jesus afirma “é necessário” está
dizendo que “é impossível” que não haja escândalos, quando se trata do ser
humano. Ou seja, todos nós somos passíveis de erro, de pecado e de provocar
escândalos, lembrando que, para Jesus, escândalo é toda atitude nossa que leve
uma pessoa a perder a fé (cf. Mt 18,6).
Ora,
cada vez que o mundo divulga a notícia de um “escândalo” em nossa Igreja, nós,
católicos, precisamos analisar como reagimos a isso: somos capazes de
distinguir entre a Igreja e a pessoa que erra, ou temos o hábito de jogar fora
o bebê junto com a água do banho? Além disso, precisamos estar atentos a outra
verdade: o mundo, enquanto pessoas que têm interesses e condutas totalmente
opostos ao Evangelho, tem a clara intenção de desacreditar a Igreja, justamente
porque ela, enquanto presença profética, denuncia tudo aquilo que nas
sociedades atuais fere a vida e a dignidade do ser humano, colabora para a
destruição do meio ambiente, para a inversão de valores, para a desestruturação
das famílias etc.
O Evangelho de hoje nos convida a
olhar para as raízes da nossa Igreja: ela não nasceu da vontade de um homem; não
nasceu da decisão que uma pessoa tomou de “abrir”, de “fundar” uma igreja ou de
“criar” uma religião; ela nasceu da escolha que Jesus fez de Pedro e dos demais
apóstolos: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o
poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18). O apóstolo Paulo, por sua
vez, nos ensina que a nossa Igreja
nasceu da vontade do Pai, do sacrifício do Filho e da ação do Espírito Santo,
ao aconselhar os presbíteros de Éfeso: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o
rebanho: nele o Espírito Santo constituiu vocês como guardiães, para
apascentarem a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue do seu
próprio Filho” (At 20,28). Portanto, nossa Igreja nasceu da cruz, do sacrifício
do Filho, do fato de o Pai permitir que Jesus morresse na cruz “para congregar
na unidade todos os filhos de Deus dispersos” (Jo 11,52).
Portanto, quem somos nós, católicos?
Segundo o apóstolo Paulo, nós somos
membros da família de Deus. Estamos edificados sobre o fundamento dos apóstolos
e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra principal. A meta é que todos
nos tornemos habitação de Deus, por meio do Espírito Santo (cf. Ef 2,19-22).
Individualmente, cada um de nós é chamado a combater o bom combate da fé, a terminar
o caminho que iniciamos, de seguimento de Jesus Cristo, e a guardar, isto é, a manter
viva e firme a nossa fé (cf. 2Tm 4,7). No entanto, enquanto Igreja, nós temos
duas missões: uma interna e outra externa. A missão interna é nos reconhecer
como membros do Corpo de Cristo, no sentido de que, “se um membro sofre, todos
os membros sofrem com ele” (1Cor 12,26); se um membro se afasta e corre o risco
de esfriar na fé, devemos ir em busca dele (cf. Mt 18,12), pois não é da
vontade do Pai que nenhuma dessas pessoas, cuja fé está fragilizada, se perca
(cf. Mt 18,14).
Por fim, enquanto católicos, temos
uma missão externa. A razão de ser da
nossa Igreja não é ela mesma, mas a salvação da humanidade. Jesus não
fundou a nossa Igreja sobre os apóstolos para que ela fosse reverenciada pelo
mundo, mas para ser sacramento de salvação para uma humanidade ferida e
desorientada como a nossa hoje em dia. Justamente por isso, o Papa Francisco
insiste que a nossa Igreja deve ser sempre uma “Igreja em saída”: “A Igreja é
chamada a ser sempre a casa aberta do Pai” (EG 47)... Prefiro uma Igreja
acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja
enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”
(EG 49). Cabe a cada um de nós, católicos, fazer da nossa Igreja “um hospital
de campanha após a batalha” (Papa Francisco, setembro de 2013), uma Igreja
dedicada em cuidar das feridas de seus fiéis e sempre disposta a sair para
encontrar os que foram machucados, excluídos ou que se afastaram. Se nós,
católicos, não estamos dispostos a ser uma presença de cura, um Evangelho vivo
para aqueles que estão fora da nossa Igreja, não há razão alguma para
continuarmos a nos identificar como católicos.
Uma palavra final, para aqueles que
estão decididos a abandonar a Igreja católica por causa dos escândalos de
alguns de seus líderes: Jesus, ao falar com São Francisco de Assis por meio da
imagem do Crucificado, no século XII, disse-lhe: “Reconstrua a minha Igreja, pois ela está em ruínas”. É o que hoje
Ele está dizendo a mim e a você...
Meu coração se entristece ao saber e ver o comportamento daqueles que deveriam nós guiar na fé. Deus tende piedade deles
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