Palavra de Deus: Gênesis,
14,18-20; 1Coríntios 11,23-26; Lucas 9,11b-17
Todo
ser humano sente fome, porque todo ser humano depende de “algo” que está fora
dele para viver. A fome nos diz que ninguém de nós é autossuficiente e que nós
precisamos uns dos outros para viver. O alimento que sacia a nossa fome só
chega à nossa mesa porque inúmeras pessoas que nunca iremos conhecer
trabalharam para que a nossa fome fosse saciada. Mas a fome que o ser humano
carrega dentro de si não é só de pão. A própria Escritura diz: “O homem não
vive somente de pão” (Dt 8,3; Mt 4,4). Alguns têm fome de justiça, outros têm
fome de paz; alguns têm fome de saúde, de alegria, de esperança; outros têm
fome de um lugar no mercado de trabalho; alguns têm fome de perdão; outros têm
fome de se sentirem amados. Além disso, da mesma forma, assim como existem
crianças e adultos subnutridos, existem também crianças e adultos bem
alimentados, mas “subnutridos” no que diz respeito à educação, à maneira de
tratar os outros, à falta de sensibilidade para com a dor dos outros...
Jesus
sempre foi alguém capaz de compaixão, isto é, ele deixava-se afetar pelo
sofrimento do outro. No entanto, nós temos a tendência a agir como os
discípulos, que disseram a Jesus: “Despede a multidão, para que possa ir aos
povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida, pois estamos num lugar
deserto” (Lc 9,12), ao que Jesus respondeu: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13).
Se Jesus nos manda dar de comer a quem tem fome, é para nos lembrar de que o
problema da fome não é a falta de alimento, mas o desperdício de alimento. O
Brasil é o quarto produtor mundial de alimentos, produzindo 25,7% a mais
do que necessita para alimentar a sua população (FAO). Além disso, por ano são
jogadas no lixo 41 mil toneladas de alimentos em nosso país (http://www.bancodealimentos.org.br/o-desperdicio-de-alimentos-no-brasil/).
Isso nos faz lembrar as palavras do Papa Francisco, “A comida que se joga fora
é como se fosse roubada aos pobres”.
O
desperdício de comida no Brasil mostra que não é verdade que “só temos aqui cinco
pães e dois peixes” (Lc 9,13). Assim como é verdade que no Brasil não faltam
recursos – o que falta é vontade política, assim também é verdade que não nos
faltam recursos para agir com compaixão para com quem sofre – o que nos falta é
vontade; o que nos falta é olhar a vida para além do nosso umbigo ou da tela do
nosso celular; o que nos falta é tirar os fones de ouvido, ainda que seja por
um momento, para ouvir o pedido de socorro de pessoas à nossa volta; o que nos
falta é nos permitir sentir um saudável sentimento de culpa pela fome que
também existe perto de nós.
“Então
Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu,
abençoou-os, partiu-os e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão. Todos
comeram e ficaram satisfeitos” (Lc 9,16-17). Os cinco pães e os dois peixes nos
dizem que Deus nos dá diariamente os recursos de que precisamos para nos ajudar
mutuamente, para resolvermos os nossos problemas, inclusive dentro de casa, no
relacionamento com as pessoas. Na verdade, não falta pão, falta doação; falta a
vontade de tomar a decisão de “partir” e de “distribuir” aos outros aquilo que
temos a tendência de guardar somente para nós.
As mesmas mãos que se abrem e se
estendem para receber o Corpo de Cristo precisam se abrir e se estender para o
irmão que cruza o nosso caminho. Se na Eucaristia nós comungamos o “corpo
entregue” de Jesus e o seu “sangue derramado”, isso significa que, assim como
Jesus, devemos viver também para o bem dos outros, como se Jesus continuamente
nos dissesse: “Eu me dou a você para que você possa continuar dando-se aos
outros”. Em outras palavras, cada um de nós, que comunga do Corpo e do Sangue
de Cristo, é chamado a ter a disposição de oferecer-se a Deus como Seu Filho se
ofereceu, vivendo sua vida neste mundo como Jesus viveu a d’Ele: como “corpo
doado” e “sangue derramado” em favor da salvação da humanidade.
Enfim, lembremo-nos de que o pão
nasce do “sacrifício” dos grãos de trigo que se entregam para serem triturados,
assim como o vinho nasce do “sacrifício” das uvas que se entregam para serem esmagadas.
Pão e vinho, Corpo e Sangue de Jesus, alimento de vida eterna, convite a não
fugirmos daqueles sacrifícios que são necessários serem abraçados, enfrentados,
em vista da nossa edificação e do bem da família, da Igreja e da sociedade
humana.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Estava ansiosa por esta postagem...vou preparar comentário para a missa de amanhã e aprecio suas reflexões. Que o Espirito Santo te ilumine sempre!!!
ResponderExcluirBom dia, Lucilene. Deus te abençoe! Abraços.
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