sexta-feira, 2 de junho de 2017

RESPIRAR SEU SOPRO, ACOLHER SEU FOGO, FALAR SUA LÍNGUA

Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3-7.12-13 e João 20,19-23.

            Foi assim que Jesus comunicou o Espírito Santo aos discípulos no dia da Páscoa: soprando sobre eles (cf. Jo 20,22). E assim o Espírito Santo foi derramado do céu sobre os discípulos no dia de Pentecostes: como um vento impetuoso (cf. At 2,2). O Espírito de Deus é o vento que vem do céu e passa pela terra para varrer dela a sujeira da injustiça, o pó da morte e as cinzas da destruição. Ele é o sopro de Deus que nos reanima, sopro que, penetrando em nossas narinas, devolve vida à nossa alma, nos levantando a partir de dentro e nos colocando em pé (cf. Gn 2,7; Ez 37,10). Por isso, nesse dia de Pentecostes, pedimos que esse vento de Deus varra da Terra a violência cega do terrorismo, assim como todo pó acumulado de violência, intolerância e agressividade dentro do coração de cada um de nós. Pedimos também que o Espírito Santo sopre sobre as cinzas daquilo que se desencantou ou morreu em nós, para que as brasas da vida divina sejam reacendidas em nossa alma e possamos nos colocar diante da vida como homens e mulheres espirituais e não simplesmente carnais (cf. Gl 5,16-18).
            Se o vento foi a imagem invisível do Espírito no dia de Pentecostes, o fogo foi a sua imagem visível (cf. At 2,3). O fogo expressa o poder que o Espírito Santo tem de tudo purificar e transformar. O fogo do Espírito pode remover tanto a sujeira do nosso pecado pessoal quanto a ferrugem da corrupção que corrói a consciência dos homens que estão no poder e são diretamente responsáveis pela violência, pelo desemprego, pela desestruturação de tantas famílias e pelas péssimas condições da Saúde e da Educação em nosso país. O fogo é a imagem visível da graça do Espírito Santo, graça que tudo muda e tudo transforma. Hoje nós clamamos por esse fogo do céu, para que toque naquilo que em nós ou em nosso país se tornou duro como ferro, para que se abra à mudança, à transformação. Sim. O Espírito Santo pode converter o coração de pedra num coração de carne (cf. Ez 36,26); Ele pode fazer com que o coração dos pais se volte para os filhos e o coração dos filhos se volte para os pais, restaurando as famílias; Ele pode fazer com que o coração daqueles que são responsáveis pelo Governo e pela Justiça em nosso país se volte para a verdade, para a justiça e para o bem comum.
            No dia de Pentecostes, o fogo do Espírito desceu sobre os discípulos em forma de língua. Desse modo, entendemos que o Espírito Santo é a “língua oficial da Igreja”, e deve se tornar também a “língua oficial” de cada discípulo de Jesus. Só Ele pode nos fazer anunciar o Evangelho de modo que as pessoas do nosso tempo possam entendê-lo e se sentir tocadas pela graça de Deus (cf. At 2,8.11). Só o Espírito Santo pode nos convencer de que é preciso abandonar linguagens velhas e ultrapassadas, que não estão mais ajudando as pessoas do nosso tempo a entenderem o que Deus está lhes dizendo. Só o Espírito Santo pode nos fazer falar do mistério de Cristo de modo a convencer os corações a respeito da verdade da salvação. Hoje também pedimos que o Espírito Santo nos conceda “língua de discípulo”, ou seja, uma boca capaz de levar palavras de conforto a toda pessoa que está abatida (cf. Is 50,4). Sim. Aquele que é o Divino Consolador pode e deseja fazer de nós consoladores de corações abatidos (cf. Is 61,1), nesse tempo de não pouca desolação.       
            Numa época de desintegração de famílias, de grupos, de relacionamentos, de valores; num tempo como o nosso, fortemente marcado pela inconsistência – uma inconsistência que fragiliza a nossa fé, as nossas emoções e, consequentemente, nos torna sempre mais frágeis perante a vida – precisamos recordar que o Espírito Santo é o único capaz de nos devolver “consistência”. Ele une o que em nós e à nossa volta está disperso, fragmentado, quebrado, estilhaçado. Ele é o princípio unificador. Sob a sua luz podemos compreender que os diversos fios traçados no bordado da nossa vida têm um sentido e estão compondo a obra que o Pai está fazendo em cada um de nós, até que recuperemos a imagem de seu Filho Jesus Cristo, o homem perfeito.  
            Hoje entregamos ao Espírito Santo nossa fragmentação e divisão interiores, bem como a inconsistência sempre mais marcante em nossa cultura moderna, e Lhe pedimos um coração unificado, consistente, forte o bastante para não quebrarmos como vidro diante das pancadas que levamos no caminho da vida. Que Ele nos remeta constantemente às nossas raízes espirituais: desde o nosso batismo, somos animados/sustentados pelo mesmo Espírito, estamos vinculados ao mesmo Senhor e pertencemos ao mesmo Deus. Que a consciência dessa comunhão vital nos ajude a colocar o dom recebido do Espírito a serviço do bem comum (cf. 1Cor 12,4-7).      
            “Como o Pai me enviou, também eu vos envio... Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,21-22). Enfim, o dia de Pentecostes nos convida a manter as nossas portas e janelas abertas, seja para levarmos ao mundo a força transformadora do Espírito Santo, seja para recebermos seu constante vento renovador. Não nos esqueçamos do que Jesus disse, ao se referir ao Espírito Santo: “O vento sopra onde quer” (Jo 3,8). Quem tem a coragem de manter suas portas e janelas abertas consegue ouvir os apelos do Espírito nos tempos atuais, apelos que continuamente nos desinstalam, nos provocam e nos desafiam a falar de Deus de modo que cada pessoa, dentro da sua cultura, da sua dor e da sua história de vida específicas, pode compreender-se dentro da história da salvação e colocar o seu dom específico a serviço do bem da humanidade.

Pe. Paulo Cezar Mazzi   

Orações ao Espírito Santo:

“Respirai em mim, ó Espírito Santo, para que todos os meus pensamentos possam ser santos. Agi em mim, ó Espírito Santo, para que meu trabalho também possa ser santo. Aproximai-vos do meu coração, ó Espírito Santo, para que eu só ame o que for santo. Fortalecei-me, ó Espírito Santo, para que eu defenda tudo o que for santo. Guardai-me, pois, ó Espírito Santo, para que eu sempre possa ser santo. Amém” (Oração atribuída a Santo Agostinho).

“Ó Espírito Santo, dai-me um coração grande, aberto à vossa silenciosa e forte palavra inspiradora, fechado a todas as ambições mesquinhas, alheio a qualquer desprezível competição humana, compenetrado do sentido da santa Igreja! Um coração grande, desejoso de se tornar semelhante ao coração do senhor Jesus! Um coração grande e forte para amar todos, para servir a todos, para sofrer por todos! Um coração grande e forte para superar todas as provações, todo tédio, todo cansaço, toda desilusão, toda ofensa! Um coração grande e forte, constante até o sacrifício, quando for necessário! Um coração cuja felicidade é palpitar com o coração de Cristo e cumprir humilde, fiel e virilmente, a vontade do Pai. Amém” (Papa Paulo VI).

Um comentário:

  1. Uma reflexão tão profunda, de grandes verdades e tão consoladora, só pode advir de um coração igualmente profundo e verdadeiro, amigo do Espirito Santo e cheio de fé.
    Grata por partilhar as riquezas do Evangelho... Deus te abençoe Pe. Paulo... Shalon!

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