Missa de
Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios
12,3-7.12-13 e João 20,19-23.
Foi assim que Jesus comunicou o
Espírito Santo aos discípulos no dia da Páscoa: soprando sobre eles (cf. Jo
20,22). E assim o Espírito Santo foi derramado do céu sobre os discípulos no
dia de Pentecostes: como um vento impetuoso (cf. At 2,2). O Espírito de Deus é
o vento que vem do céu e passa pela terra para varrer dela a sujeira da
injustiça, o pó da morte e as cinzas da destruição. Ele é o sopro de Deus que
nos reanima, sopro que, penetrando em nossas narinas, devolve vida à nossa
alma, nos levantando a partir de dentro e nos colocando em pé (cf. Gn 2,7; Ez
37,10). Por isso, nesse dia de Pentecostes, pedimos que esse vento de Deus
varra da Terra a violência cega do terrorismo, assim como todo pó acumulado de
violência, intolerância e agressividade dentro do coração de cada um de nós.
Pedimos também que o Espírito Santo sopre sobre as cinzas daquilo que se
desencantou ou morreu em nós, para que as brasas da vida divina sejam
reacendidas em nossa alma e possamos nos colocar diante da vida como homens e
mulheres espirituais e não simplesmente carnais (cf. Gl 5,16-18).
Se o vento foi a imagem invisível do
Espírito no dia de Pentecostes, o fogo foi a sua imagem visível (cf. At 2,3). O
fogo expressa o poder que o Espírito Santo tem de tudo purificar e transformar.
O fogo do Espírito pode remover tanto a sujeira do nosso pecado pessoal quanto
a ferrugem da corrupção que corrói a consciência dos homens que estão no poder
e são diretamente responsáveis pela violência, pelo desemprego, pela
desestruturação de tantas famílias e pelas péssimas condições da Saúde e da Educação
em nosso país. O fogo é a imagem visível da graça do Espírito Santo, graça que
tudo muda e tudo transforma. Hoje nós clamamos por esse fogo do céu, para que
toque naquilo que em nós ou em nosso país se tornou duro como ferro, para que
se abra à mudança, à transformação. Sim. O Espírito Santo pode converter o
coração de pedra num coração de carne (cf. Ez 36,26); Ele pode fazer com que o
coração dos pais se volte para os filhos e o coração dos filhos se volte para
os pais, restaurando as famílias; Ele pode fazer com que o coração daqueles que
são responsáveis pelo Governo e pela Justiça em nosso país se volte para a
verdade, para a justiça e para o bem comum.
No dia de Pentecostes, o fogo do
Espírito desceu sobre os discípulos em forma de língua. Desse modo, entendemos
que o Espírito Santo é a “língua oficial da Igreja”, e deve se tornar também a
“língua oficial” de cada discípulo de Jesus. Só Ele pode nos fazer anunciar o
Evangelho de modo que as pessoas do nosso tempo possam entendê-lo e se sentir
tocadas pela graça de Deus (cf. At 2,8.11). Só o Espírito Santo pode nos
convencer de que é preciso abandonar linguagens velhas e ultrapassadas, que não
estão mais ajudando as pessoas do nosso tempo a entenderem o que Deus está lhes
dizendo. Só o Espírito Santo pode nos fazer falar do mistério de Cristo de modo
a convencer os corações a respeito da verdade da salvação. Hoje também pedimos
que o Espírito Santo nos conceda “língua de discípulo”, ou seja, uma boca capaz
de levar palavras de conforto a toda pessoa que está abatida (cf. Is 50,4).
Sim. Aquele que é o Divino Consolador pode e deseja fazer de nós consoladores
de corações abatidos (cf. Is 61,1), nesse tempo de não pouca desolação.
Numa época de desintegração de
famílias, de grupos, de relacionamentos, de valores; num tempo como o nosso,
fortemente marcado pela inconsistência – uma inconsistência que fragiliza a
nossa fé, as nossas emoções e, consequentemente, nos torna sempre mais frágeis
perante a vida – precisamos recordar que o Espírito Santo é o único capaz de
nos devolver “consistência”. Ele une o que em nós e à nossa volta está
disperso, fragmentado, quebrado, estilhaçado. Ele é o princípio unificador. Sob
a sua luz podemos compreender que os diversos fios traçados no bordado da nossa
vida têm um sentido e estão compondo a obra que o Pai está fazendo em cada um
de nós, até que recuperemos a imagem de seu Filho Jesus Cristo, o homem
perfeito.
Hoje entregamos ao Espírito Santo
nossa fragmentação e divisão interiores, bem como a inconsistência sempre mais
marcante em nossa cultura moderna, e Lhe pedimos um coração unificado,
consistente, forte o bastante para não quebrarmos como vidro diante das
pancadas que levamos no caminho da vida. Que Ele nos remeta constantemente às
nossas raízes espirituais: desde o nosso batismo, somos animados/sustentados
pelo mesmo Espírito, estamos vinculados ao mesmo Senhor e pertencemos ao mesmo
Deus. Que a consciência dessa comunhão vital nos ajude a colocar o dom recebido
do Espírito a serviço do bem comum (cf. 1Cor 12,4-7).
“Como o Pai me enviou, também eu vos
envio... Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,21-22). Enfim, o dia de Pentecostes
nos convida a manter as nossas portas e janelas abertas, seja para levarmos ao
mundo a força transformadora do Espírito Santo, seja para recebermos seu
constante vento renovador. Não nos esqueçamos do que Jesus disse, ao se referir
ao Espírito Santo: “O vento sopra onde quer” (Jo 3,8). Quem tem a coragem de
manter suas portas e janelas abertas consegue ouvir os apelos do Espírito nos
tempos atuais, apelos que continuamente nos desinstalam, nos provocam e nos
desafiam a falar de Deus de modo que cada pessoa, dentro da sua cultura, da sua
dor e da sua história de vida específicas, pode compreender-se dentro da história
da salvação e colocar o seu dom específico a serviço do bem da humanidade.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Orações ao Espírito Santo:
“Respirai em
mim, ó Espírito Santo, para que todos os meus pensamentos possam ser santos. Agi
em mim, ó Espírito Santo, para que meu trabalho também possa ser santo. Aproximai-vos
do meu coração, ó Espírito Santo, para que eu só ame o que for santo. Fortalecei-me,
ó Espírito Santo, para que eu defenda tudo o que for santo. Guardai-me, pois, ó
Espírito Santo, para que eu sempre possa ser santo. Amém” (Oração atribuída a
Santo Agostinho).
“Ó Espírito
Santo, dai-me um coração grande, aberto à vossa silenciosa e forte palavra
inspiradora, fechado a todas as ambições mesquinhas, alheio a qualquer
desprezível competição humana, compenetrado do sentido da santa Igreja! Um
coração grande, desejoso de se tornar semelhante ao coração do senhor Jesus! Um
coração grande e forte para amar todos, para servir a todos, para
sofrer por todos! Um coração grande e forte para superar todas as
provações, todo tédio, todo cansaço, toda desilusão, toda ofensa! Um
coração grande e forte, constante até o sacrifício, quando for
necessário! Um coração cuja felicidade é palpitar com o coração de Cristo e
cumprir humilde, fiel e virilmente, a vontade do Pai. Amém” (Papa Paulo
VI).
Uma reflexão tão profunda, de grandes verdades e tão consoladora, só pode advir de um coração igualmente profundo e verdadeiro, amigo do Espirito Santo e cheio de fé.
ResponderExcluirGrata por partilhar as riquezas do Evangelho... Deus te abençoe Pe. Paulo... Shalon!