sexta-feira, 30 de junho de 2017

REFERÊNCIAS

Missa de São Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.  

            Quem são as nossas referências hoje? Quem as nossas crianças ou os nossos jovens têm como referência hoje? Quem é a sua referência de pai e mãe, de líder político e religioso? Quem é sua referência no campo profissional, ou no campo da fé? Quem é sua referência de pessoa, de ser humano? Você tem alguma pessoa que seja referência de fidelidade, de retidão e de honestidade?      Existe hoje um vazio quando falamos de referência. Na verdade, ter alguém como referência é até certo ponto frágil ou mesmo perigoso, porque estamos falando de pessoas, de seres humanos, e não há ser humano que não seja falível. Mas a ausência de referências hoje se deve também a um certo “nivelamento por baixo”, um abandono dos grande ideais, à adoção de um estilo de vida mais “light”, menos radical, também no sentido dos valores que deveriam guiar nossa consciência e nossa conduta, seja como pessoas, seja como profissionais, seja como cristãos inseridos numa sociedade cada vez mais paganizada.
            Para nós, que vivemos numa época de pobreza de referências, a liturgia de hoje nos fala de duas referências de fé: Pedro e Paulo, dois homens que tiveram suas vidas modificadas pelo contato com a pessoa de Jesus e com a mensagem do seu Evangelho. Pedro, de simples pescador de peixes, tornou-se o líder humano da Igreja que Jesus fundou sobre os apóstolos, chamados a serem pescadores de homens. Paulo, de grande perseguidor da Igreja, tornou-se o maior apóstolo de Jesus, no sentido de propagar seu Evangelho entre os povos pagãos. Dois homens frágeis e limitados, mas que se tornaram duas colunas da Igreja de Jesus Cristo, pela forma como se deixaram transformar pelo Evangelho.
            Pedro é uma referência de fé para nós quando consideramos a sua convicção a respeito de quem é Jesus: “Tu és o Messias (Cristo), o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16), ao que Jesus respondeu: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). A convicção de Pedro a respeito de Jesus, uma convicção firme como a pedra, a rocha, é uma referência para o nosso tempo, marcado por pessoas inconsistentes, relacionamentos inconsistentes e uma fé inconsistente. Nós somos chamados a fazer o mesmo caminho que Pedro fez, de convivência com Jesus, de intimidade com o seu Evangelho, permitindo que ele corrija a nossa maneira de entender a sua presença em nossa vida e purifique o sentido da nossa fé, para que nos tornemos pessoas mais consistentes, firmes, convictas da própria fé, de forma que não mais nos quebremos e nem nos sintamos desorientados diante da realidade que nos cerca.
            Paulo também é uma referência para a nossa fé, na medida em que nos ensina que todo cristão tem um combate a combater – o combate da fé –, uma vez que nossa fé é combatida não só por acontecimentos que a questionam, mas também por pessoas que cada vez mais abandonam a sua fé, dando-nos a impressão de que somos pessoas ingênuas e iludidas, portadoras de uma fé que para nada mais serve hoje em dia. Paulo também nos convida a completar a corrida que iniciamos, independente das quedas que já sofremos no percurso da vida, pois há uma meta a ser alcançada, um projeto a ser concluído, e não podemos parar no meio do caminho. Por fim, o apóstolo nos incentiva a guardar a nossa fé, no sentido de defendê-la, de conservá-la viva, pois ela é nossa condição para o encontro definitivo com o Senhor.          
                As duas narrativas bíblicas que lemos hoje, acerca de Pedro e de Paulo, mencionam um momento crítico em que os dois viveram, quando se encontravam presos e com a vida ameaçada. Portanto, os dois apóstolos são para nós uma referência de como lidar com as adversidades, de como enfrentar os conflitos, procurando reafirmar a nossa fé, conforme testemunhou o salmista: “Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, e de todos os temores me livrou. Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, e o Senhor o libertou de toda angústia. O anjo do Senhor vem acampar ao redor dos que o temem, e os salva” (Sl 34,5.7.8). Assim também, o próprio Paulo disse: “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças... O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste” (2Tm 4,17.18).
            Jesus foi uma referência viva para Pedro e para Paulo, como o próprio Paulo testemunhou: “Sei em quem depositei a minha fé” (2Tm 1,12). Assim como esses apóstolos, nós precisamos ter Jesus como nossa referência de vida, num mundo onde a perda de referência deixa as pessoas cada vez mais desorientadas e frágeis. A festa de hoje nos convida a abraçar o testemunho de vida desses apóstolos, tendo-os também como referência para o fortalecimento da nossa fé, encontrando o nosso lugar na Igreja que Jesus fundou sobre os apóstolos e em relação à qual garantiu: “o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18).
            Hoje rezamos especialmente pelo Papa Francisco. Como Pedro, ele foi escolhido por Jesus para confirmar seus irmãos na fé. Sabemos o quanto o Papa Francisco tem usado as chaves que Jesus lhe confiou para ligar na terra inúmeras pessoas ao céu, ao coração de Deus, com o seu incansável apostolado, a sua firmeza, a sua misericórdia e o seu desejo de uma Igreja mais coerente com Jesus Cristo e o seu Evangelho. Francisco encontra não apenas rejeição, mas também uma forte oposição por parte de algumas pessoas de dentro da nossa Igreja. No entanto, ele é uma referência clara do Evangelho e do próprio Jesus Cristo para pessoas até mesmo fora da nossa Igreja. Rezemos para que o Papa Francisco continue a combater o seu bom combate, terminar obra que o Espírito Santo lhe confiou na Igreja e manter viva a sua fé.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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