Missa do 14º.
dom. comum. Palavra de Deus: Zacarias 9,9-10; Romanos 8,9.11-13; Mateus
11,25-30.
Este
é o convite de Jesus para nós hoje: “Vinde a mim todos vós que estais cansados
e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).
Uma reclamação muito comum em nossos dias é esta: “Estou cansado(a)”. Estamos
cansados do quê? Qual é a causa do nosso cansaço? Existe o cansaço próprio do
trabalho, sobretudo braçal, além do cansaço do transporte. Nas grandes
capitais, por exemplo, há trabalhadores que gastam cerca de quatro horas por
dia no trânsito, para ir e vir do trabalho. Outros não se cansam tanto
fisicamente, mas mentalmente: são pessoas que trabalham com números, dados,
informações, metas e cobranças, muitas delas esgotadas a ponto de terem que
recorrer a tratamentos psiquiátricos.
Mas
existe um outro lado da moeda quando falamos de cansaço. O que dizer de uma
geração que parece que “nasceu cansada”? O que dizer dos filhos que cresceram
recebendo tudo da mão dos pais e que nunca têm disposição para ajudar? O que
dizer também de pessoas adultas que vivem “folgando” em cima dos outros? Aqui
precisamos ter senso crítico e nos lembrar de uma verdade muito simples, quando
falamos de cansaço e de sobrecarga: por trás de uma pessoa cansada ou
sobrecarregada, sempre existe uma outra (ou várias) folgada(s). Neste caso, o
cansaço é fruto da falta de atitude de quem se deixa sobrecarregar, muitas
vezes agindo assim por medo de perder o afeto do outro.
Ao nos
convidar a depositar n’Ele o nosso cansaço, o nosso fardo, Jesus também disse:
“Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis
descanso” (Mt 11,29). A mansidão e a humildade do coração de Jesus podem nos
ensinar a nos livrar de fardos inúteis e de cansaços desnecessários. Jesus
sempre escolheu viver na humildade e na simplicidade. Além disso, ele nunca
aceitou ser empurrado pelas pressões externas. Todas as cobranças e exigências
do mundo à sua volta eram “filtradas” em seu coração, um coração que procurava
se colocar diante do Pai todos os dias, e ali ele separava aquilo que parecia
ser urgente daquilo que de fato era essencial.
Aquilo
que nos adoece, porque consome nossas energias e nos esgota interiormente, é
justamente a falta de humildade e de simplicidade. Nós nos deixamos envolver
por uma rede de complexidade desnecessária e perdemos a simplicidade de vida. A
tecnologia nos prometeu simplificar a vida, mas o que temos é uma vida cada vez
mais complicada, com os nossos olhos, a nossa mente e o nosso coração cada vez
mais ocupados, sobrecarregados de mensagens, de informações, de estímulos, de
apelos consumistas e de “cobranças”. Tudo isso nos esgota, nos deixa irritados
e profundamente insatisfeitos, sem paz interior.
O
caminho da cura e da libertação passa pela reaproximação da humildade e da simplicidade
de vida, por recuperar aquilo que é essencial, na certeza de que precisamos de
muito pouco para ser felizes. É uma questão de não mais nos permitir ser
jogados de um lado para outro, por causa da nossa desordem interior,
desperdiçando energia com a soberba, o orgulho, a vaidade, a arrogância e a
preocupação em aparentar ter. Ao invés disso, somos convidados por Jesus a
tomar sobre nós o seu jugo, o que significa abraçar o Evangelho como norma de
vida, pautando a nossa existência pela simplicidade do coração de Deus, do Pai
que escolheu revelar-se aos humildes e simples de coração.
É
verdade que também em nossa vida espiritual existe um certo cansaço. Muitas
vezes sentimos que nossa fé e nossa esperança estão cansadas, esgotadas.
Contudo, o salmista agora a pouco nos lembrava de que o Senhor é misericórdia,
piedade, amor, paciência e compaixão. “O Senhor é muito bom para com todos; sua
ternura abraça toda criatura... Ele sustenta todo aquele que vacila e levanta
todo aquele que tombou” (Sl 145,9.14). Justamente quando o cansaço espiritual
nos faz vacilar e tombar diante das dificuldades, devemos nos voltar para o
nosso Deus, pois “Ele dá força ao cansado e revigora o enfraquecido. Mesmo os
jovens se cansam e se esgotam...; mas os que põem a sua esperança no Senhor
renovam suas forças, abrem asas como as águias, correm e não se esgotam,
caminham e não se cansam” (Is 40,29-31).
Como
cristãos, como discípulos de Jesus Cristo, somos convidados não somente a nos
refugiar no seu coração manso e humilde, mas também a nos fazer extensão do Seu
coração, procurando levar uma palavra de conforto às pessoas cansadas e
abatidas, pessoas esgotadas em sua esperança por causa de uma sociedade
desumanizada como a nossa, pessoas sobrecarregadas pelo descaso e pela
indiferença de um sistema financeiro que privilegia o lucro e a obtenção de
resultado em detrimento da pessoa humana. Mesmo tendo que sobreviver nessa
economia desumana e anticristã, não deixemos que o nosso coração se desumanize
e se esgote, afastando-se da humildade e da simplicidade do coração de Jesus.
Nas
asas do Senhor – Eros Biondini
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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