sexta-feira, 7 de julho de 2017

FARDOS E CANSAÇOS QUE NÃO NOS DIZEM RESPEITO

Missa do 14º. dom. comum. Palavra de Deus: Zacarias 9,9-10; Romanos 8,9.11-13; Mateus 11,25-30.

Este é o convite de Jesus para nós hoje: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Uma reclamação muito comum em nossos dias é esta: “Estou cansado(a)”. Estamos cansados do quê? Qual é a causa do nosso cansaço? Existe o cansaço próprio do trabalho, sobretudo braçal, além do cansaço do transporte. Nas grandes capitais, por exemplo, há trabalhadores que gastam cerca de quatro horas por dia no trânsito, para ir e vir do trabalho. Outros não se cansam tanto fisicamente, mas mentalmente: são pessoas que trabalham com números, dados, informações, metas e cobranças, muitas delas esgotadas a ponto de terem que recorrer a tratamentos psiquiátricos.
Mas existe um outro lado da moeda quando falamos de cansaço. O que dizer de uma geração que parece que “nasceu cansada”? O que dizer dos filhos que cresceram recebendo tudo da mão dos pais e que nunca têm disposição para ajudar? O que dizer também de pessoas adultas que vivem “folgando” em cima dos outros? Aqui precisamos ter senso crítico e nos lembrar de uma verdade muito simples, quando falamos de cansaço e de sobrecarga: por trás de uma pessoa cansada ou sobrecarregada, sempre existe uma outra (ou várias) folgada(s). Neste caso, o cansaço é fruto da falta de atitude de quem se deixa sobrecarregar, muitas vezes agindo assim por medo de perder o afeto do outro.
  Ao nos convidar a depositar n’Ele o nosso cansaço, o nosso fardo, Jesus também disse: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso” (Mt 11,29). A mansidão e a humildade do coração de Jesus podem nos ensinar a nos livrar de fardos inúteis e de cansaços desnecessários. Jesus sempre escolheu viver na humildade e na simplicidade. Além disso, ele nunca aceitou ser empurrado pelas pressões externas. Todas as cobranças e exigências do mundo à sua volta eram “filtradas” em seu coração, um coração que procurava se colocar diante do Pai todos os dias, e ali ele separava aquilo que parecia ser urgente daquilo que de fato era essencial.
Aquilo que nos adoece, porque consome nossas energias e nos esgota interiormente, é justamente a falta de humildade e de simplicidade. Nós nos deixamos envolver por uma rede de complexidade desnecessária e perdemos a simplicidade de vida. A tecnologia nos prometeu simplificar a vida, mas o que temos é uma vida cada vez mais complicada, com os nossos olhos, a nossa mente e o nosso coração cada vez mais ocupados, sobrecarregados de mensagens, de informações, de estímulos, de apelos consumistas e de “cobranças”. Tudo isso nos esgota, nos deixa irritados e profundamente insatisfeitos, sem paz interior.  
O caminho da cura e da libertação passa pela reaproximação da humildade e da simplicidade de vida, por recuperar aquilo que é essencial, na certeza de que precisamos de muito pouco para ser felizes. É uma questão de não mais nos permitir ser jogados de um lado para outro, por causa da nossa desordem interior, desperdiçando energia com a soberba, o orgulho, a vaidade, a arrogância e a preocupação em aparentar ter. Ao invés disso, somos convidados por Jesus a tomar sobre nós o seu jugo, o que significa abraçar o Evangelho como norma de vida, pautando a nossa existência pela simplicidade do coração de Deus, do Pai que escolheu revelar-se aos humildes e simples de coração.
É verdade que também em nossa vida espiritual existe um certo cansaço. Muitas vezes sentimos que nossa fé e nossa esperança estão cansadas, esgotadas. Contudo, o salmista agora a pouco nos lembrava de que o Senhor é misericórdia, piedade, amor, paciência e compaixão. “O Senhor é muito bom para com todos; sua ternura abraça toda criatura... Ele sustenta todo aquele que vacila e levanta todo aquele que tombou” (Sl 145,9.14). Justamente quando o cansaço espiritual nos faz vacilar e tombar diante das dificuldades, devemos nos voltar para o nosso Deus, pois “Ele dá força ao cansado e revigora o enfraquecido. Mesmo os jovens se cansam e se esgotam...; mas os que põem a sua esperança no Senhor renovam suas forças, abrem asas como as águias, correm e não se esgotam, caminham e não se cansam” (Is 40,29-31).
Como cristãos, como discípulos de Jesus Cristo, somos convidados não somente a nos refugiar no seu coração manso e humilde, mas também a nos fazer extensão do Seu coração, procurando levar uma palavra de conforto às pessoas cansadas e abatidas, pessoas esgotadas em sua esperança por causa de uma sociedade desumanizada como a nossa, pessoas sobrecarregadas pelo descaso e pela indiferença de um sistema financeiro que privilegia o lucro e a obtenção de resultado em detrimento da pessoa humana. Mesmo tendo que sobreviver nessa economia desumana e anticristã, não deixemos que o nosso coração se desumanize e se esgote, afastando-se da humildade e da simplicidade do coração de Jesus.
  
Nas asas do Senhor – Eros Biondini


Pe. Paulo Cezar Mazzi

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