Missa do 15º.
dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 55,10-11; Romanos 8,18-23; Mateus 13,1-9.
Perguntemos aos professores e
educadores se ainda acreditam na sua missão de educar, de formar a consciência
das novas gerações e de ajudá-las a darem uma resposta de justiça, bondade e verdade
a um mundo cada vez mais ferido pela injustiça, maldade e mentira...
Perguntemos aos pregadores do Evangelho se ainda acreditam na sua missão de
converterem corações de pedra em corações de carne, de despertarem nos seus
ouvintes o desejo de se levantarem das sombras da morte e de caminharem na
direção da luz da vida... Perguntemos aos pais ou responsáveis pelas crianças
de hoje se ainda acreditam na sua missão de anunciar ideais e de propor valores
a uma geração que escolhe fechar-se em si mesma, atrofiando-se nas suas emoções
e não indo além dos interesses do seu próprio ego...
Toda atitude de ensinar, todo
esforço em falar, em anunciar uma palavra, toda tentativa de educar, corrigir, e
formar é um SEMEAR. Dizendo de outra forma, todo professor, educador, pai, mãe,
pregador do Evangelho, todo responsável por orientar alguém na vida é um SEMEADOR.
Se nós perguntarmos aos inúmeros semeadores de hoje se eles ainda acreditam na
sua missão de semear, provavelmente muitos deles nos dirão que não. Semear tornou-se
uma missão profundamente ingrata, frustrante, decepcionante, porque parece que
as sementes são cada vez mais “desperdiçadas” em terrenos ruins, fechados,
impenetráveis, terrenos que parecem preferir conviver sempre mais com pedras e
espinhos, rejeitando a possibilidade de produzirem frutos como bondade,
justiça, paz, esperança, mudança, transformação, amadurecimento etc.
Este é o grande engano dos
semeadores: entristecer-se pelos frutos que ainda não vieram ao invés de
alegrar-se pelas sementes que já conseguiram lançar no coração das pessoas que
lhe são confiadas. E, se considerarmos a bendita cobrança por “resultados” à
qual estamos cada vez mais habituados, ficará difícil manter-se na missão de
semear. Isso explica o cansaço, a decepção, a perda de sentido e até mesmo a
desistência de tantos semeadores, cujo terreno do próprio coração deixou de
receber a semente da fé e da esperança, e passou a ser coberto pela erva
daninha do desânimo.
Jesus foi o grande Semeador, e como
tal, passou por momentos de crise e de forte questionamento da sua missão. Ele
também chegou ao ponto de se perguntar se ainda havia sentido em semear, em
apostar no ser humano, em perder tempo tentando ajudar pessoas a repensarem sua
maneira de ver a si mesmas, os outros, a vida, o mundo e o próprio Deus. Jesus
viveu momentos fortes de decepção com o ser humano, mas uma coisa o ajudou a
não abandonar sua missão de Semeador: a fé na força da semente. Ele sabia
perfeitamente que Deus disse a respeito da força da sua Palavra, pelo profeta
Isaías: “a palavra que sair de minha boca não voltará para mim vazia; antes,
realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao
enviá-la” (Is 55,11). Essa convicção sempre fez Jesus avançar e aprofundar-se na
sua missão de Semeador. E Ele semeou por toda parte, em todo tipo de terreno,
semeou abundantemente sua Palavra, na certeza de que qualquer coração que a
acolhesse passaria por uma transformação, ainda que mínima.
Este é o grande ensinamento da
parábola do semeador: Deus é abundante na sua graça e na sua misericórdia; Ele
quer salvar a todos, e por isso deseja que a sua Palavra chegue a todos: aos
que estão abertos e aos que estão fechados, aos que creem e aos que não creem,
aos justos e aos injustos, aos santos e aos pecadores etc. Este mesmo Deus,
generoso e abundante no semear a sua semente, procura por semeadores generosos,
não mesquinhos, muito menos preguiçosos, semeadores que se desacomodem e
coloquem seus pés também, e, sobretudo, nos terrenos cheios de pedras e de
espinhos, ou seja, que se coloquem junto das pessoas que aparentemente estão mais
fechadas à Palavra, que demonstram aversão, antipatia ou que fazem críticas
ácidas à Igreja e a seus ministros (algumas vezes, com razão). Esses terrenos
também necessitam da semente do Evangelho; essas pessoas são as que mais
precisam ser visitadas pela pessoa do semeador.
A parábola do semeador necessita
urgentemente de uma releitura em nossa Igreja, uma vez que muitos de nós,
semeadores, estamos cada vez mais colocando condições para o nosso semear,
escolhendo terrenos que consideramos bons, porque há ali garantia de retorno
para o nosso trabalho. É preocupante perceber o quanto muitas vezes nos negamos
a colocar os pés em terrenos pedregosos e espinhosos, sujeitando-nos a suar o
rosto somente se e quando houver garantia de que nosso trabalho não será em
vão, a ilusória garantia de que nenhuma das nossas sementes será desperdiçada,
além da pretensiosa garantia de que colheremos o quanto antes os frutos das
sementes que lançamos.
Jesus hoje procura por semeadores
que se disponham a colocar seus pés também no terreno espinhoso do luto, tornando-se
acessíveis quando são chamados a um funeral, ocasião mais do que oportuna para
se lançar a semente da esperança e da fé na ressurreição no coração de pessoas
que dificilmente são alcançadas pela nossa ação pastoral. Jesus também procura
por semeadores que não se esquivem de colocar seus pés no terreno espinhoso da
dor, visitando pessoas enfermas, deprimidas, enlutadas, desempregadas,
machucadas afetivamente; justamente ali nós encontramos corações arados pelo sofrimento,
verdadeiros “terrenos rasgados”, à espera da semente de uma palavra de
conforto, de ânimo, de coragem, de direção, de retomada do sentido da vida.
Enfim, o Evangelho nos convida,
primeiramente, a reavivar o sentido da nossa missão de semeadores. Assim como
Jesus, somos chamados constantemente a “sair a semear”, procurando desinstalar-nos
e colocar-nos junto das pessoas nos mais diferentes caminhos da vida, tendo
consciência de que não nos cabe, como semeadores, responder pela qualidade do
terreno, mas pela fidelidade em lançarmos a semente no momento oportuno e
também no inoportuno, na esperança de que ela pode nos surpreender e germinar
onde jamais imaginaríamos que isso acontecesse. A nós cabe “deixar cair” a
semente da qual somos portadores, “desperdiçando” a Palavra com generosidade e
abundância, sem a preocupação com os resultados. Além disso, o Evangelho nos convida
a todos a uma revisão do tipo de terreno que somos, pois cada um de nós é
responsável pelas pedras e pelos espinhos que deixa acumular ou crescer no
terreno da sua alma. Embora a Palavra de Deus seja viva e eficaz, realizando
aquilo que diz, ela não é algo mágico; sua eficácia depende em muito da nossa
colaboração, do nosso remover os obstáculos que estão impedindo a graça de Deus
agir e nos transformar a partir de dentro.
Obrigado por sempre nos presentear com as reflexões tão precisas e que nos fazem repensar nosso modo de agir!!! Um grande abraço do amigo!!
ResponderExcluir