Missa de São
Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo
4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.
Quem são as nossas referências hoje?
Quem as nossas crianças ou os nossos jovens têm como referência hoje? Quem é a
sua referência de pai e mãe, de líder político e religioso? Quem é sua
referência no campo profissional, ou no campo da fé? Quem é sua referência de
pessoa, de ser humano? Você tem alguma pessoa que seja referência de
fidelidade, de retidão e de honestidade? Existe
hoje um vazio quando falamos de referência. Na verdade, ter alguém como
referência é até certo ponto frágil ou mesmo perigoso, porque estamos falando
de pessoas, de seres humanos, e não há ser humano que não seja falível. Mas a
ausência de referências hoje se deve também a um certo “nivelamento por baixo”,
um abandono dos grande ideais, à adoção de um estilo de vida mais “light”,
menos radical, também no sentido dos valores que deveriam guiar nossa consciência
e nossa conduta, seja como pessoas, seja como profissionais, seja como cristãos
inseridos numa sociedade cada vez mais paganizada.
Para nós, que vivemos numa época de
pobreza de referências, a liturgia de hoje nos fala de duas referências de fé:
Pedro e Paulo, dois homens que tiveram suas vidas modificadas pelo contato com
a pessoa de Jesus e com a mensagem do seu Evangelho. Pedro, de simples pescador
de peixes, tornou-se o líder humano da Igreja que Jesus fundou sobre os
apóstolos, chamados a serem pescadores de homens. Paulo, de grande perseguidor
da Igreja, tornou-se o maior apóstolo de Jesus, no sentido de propagar seu
Evangelho entre os povos pagãos. Dois homens frágeis e limitados, mas que se
tornaram duas colunas da Igreja de Jesus Cristo, pela forma como se deixaram
transformar pelo Evangelho.
Pedro é uma referência de fé para
nós quando consideramos a sua convicção a respeito de quem é Jesus: “Tu és o
Messias (Cristo), o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16), ao que Jesus respondeu: “Tu
és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). A
convicção de Pedro a respeito de Jesus, uma convicção firme como a pedra, a
rocha, é uma referência para o nosso tempo, marcado por pessoas inconsistentes,
relacionamentos inconsistentes e uma fé inconsistente. Nós somos chamados a
fazer o mesmo caminho que Pedro fez, de convivência com Jesus, de intimidade com
o seu Evangelho, permitindo que ele corrija a nossa maneira de entender a sua presença
em nossa vida e purifique o sentido da nossa fé, para que nos tornemos pessoas
mais consistentes, firmes, convictas da própria fé, de forma que não mais nos
quebremos e nem nos sintamos desorientados diante da realidade que nos cerca.
Paulo também é uma referência para a
nossa fé, na medida em que nos ensina que todo cristão tem um combate a
combater – o combate da fé –, uma vez que nossa fé é combatida não só por
acontecimentos que a questionam, mas também por pessoas que cada vez mais
abandonam a sua fé, dando-nos a impressão de que somos pessoas ingênuas e
iludidas, portadoras de uma fé que para nada mais serve hoje em dia. Paulo
também nos convida a completar a corrida que iniciamos, independente das quedas
que já sofremos no percurso da vida, pois há uma meta a ser alcançada, um
projeto a ser concluído, e não podemos parar no meio do caminho. Por fim, o
apóstolo nos incentiva a guardar a nossa fé, no sentido de defendê-la, de
conservá-la viva, pois ela é nossa condição para o encontro definitivo com o
Senhor.
As duas narrativas bíblicas que lemos
hoje, acerca de Pedro e de Paulo, mencionam um momento crítico em que os dois
viveram, quando se encontravam presos e com a vida ameaçada. Portanto, os dois
apóstolos são para nós uma referência de como lidar com as adversidades, de
como enfrentar os conflitos, procurando reafirmar a nossa fé, conforme
testemunhou o salmista: “Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, e de todos
os temores me livrou. Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, e o Senhor
o libertou de toda angústia. O anjo do Senhor vem acampar ao redor dos que
o temem, e os salva” (Sl 34,5.7.8). Assim também, o próprio Paulo disse: “O
Senhor esteve a meu lado e me deu forças... O Senhor me libertará de todo mal e
me salvará para o seu Reino celeste” (2Tm 4,17.18).
Jesus foi uma referência viva para
Pedro e para Paulo, como o próprio Paulo testemunhou: “Sei em quem depositei a
minha fé” (2Tm 1,12). Assim como esses apóstolos, nós precisamos ter Jesus como
nossa referência de vida, num mundo onde a perda de referência deixa as pessoas
cada vez mais desorientadas e frágeis. A festa de hoje nos convida a abraçar o
testemunho de vida desses apóstolos, tendo-os também como referência para o
fortalecimento da nossa fé, encontrando o nosso lugar na Igreja que Jesus
fundou sobre os apóstolos e em relação à qual garantiu: “o poder do inferno
nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18).
Hoje rezamos especialmente pelo Papa
Francisco. Como Pedro, ele foi escolhido por Jesus para confirmar seus irmãos
na fé. Sabemos o quanto o Papa Francisco tem usado as chaves que Jesus lhe
confiou para ligar na terra inúmeras pessoas ao céu, ao coração de Deus, com o
seu incansável apostolado, a sua firmeza, a sua misericórdia e o seu desejo de
uma Igreja mais coerente com Jesus Cristo e o seu Evangelho. Francisco encontra
não apenas rejeição, mas também uma forte oposição por parte de algumas pessoas
de dentro da nossa Igreja. No entanto, ele é uma referência clara do Evangelho
e do próprio Jesus Cristo para pessoas até mesmo fora da nossa Igreja. Rezemos
para que o Papa Francisco continue a combater o seu bom combate, terminar obra
que o Espírito Santo lhe confiou na Igreja e manter viva a sua fé.