Missa do 5º. dom.
da páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João 3,18-24; João
15,1-8.
Nos caminhões, nas floriculturas ou nos
viveiros que vendem mudas de árvores frutíferas, normalmente encontramos propagandas
do tipo: “Jabuticabeira já produzindo!” Essa é a questão: “Já produzindo!” Para
uma geração como a nossa, que vive sob a dinâmica da pressa e do imediato, não
tem sentido plantar uma árvore que demore 25 anos para crescer e começar a
produzir frutos. Queremos os frutos já, agora, para nós e não para os outros
que vierem depois de nós! Estamos tão adoecidos pelo individualismo que nos
tornamos incapazes de cultivar algo que não será desfrutado por nós, mas para
os que vierem depois de nós.
Sabemos que nas últimas décadas, a
produção de alimentos foi acelerada. Os hormônios embutidos na ração dada aos
animais fazem com que eles estejam prontos para o abate em 45 dias, coisa que
antes demorava de dois a três meses. Os defensores do “já produzindo!” alegam
que a humanidade cresceu muito e é preciso acelerar a produção de alimentos. Desse
modo, a maioria dos alimentos chegam à nossa mesa “incrementados” com hormônios,
agrotóxicos ou modificados geneticamente. Isto certamente tem um custo para a
nossa saúde...
No Evangelho que acabamos de ouvir,
Jesus também fala da importância de produzirmos frutos. No entanto, o nosso
fruto não pode ser forçado, não pode ter um gosto artificial, nem muito menos
ser um fruto que transmite doenças para quem dele se alimenta. Para Jesus, o nosso
fruto só pode nascer da atitude de permanecer: permanecer nas mãos do Pai,
sobretudo quando Ele, o agricultor, precisa nos podar para que o nosso fruto se
torne melhor; permanecer em Jesus nas diversas estações existenciais – quando é
outono e nossas folhas caem; quando é inverno e parece que morremos por
completo; quando é primavera e a vida escondida em nós começa a dar sinais de
ressurreição; quando é verão e nossas flores dão lugar a frutos que transmitem
vida aos outros.
“Permanecer” é uma palavra carregada
de ambiguidade para a nossa geração. Muitos de nós permanecemos horas numa
academia, ou diante da TV, do celular ou do computador, mas não conseguimos permanecer
quinze minutos em oração diante do Senhor. Muitos de nós nunca fomos educados a
permanecer, porque no primeiro choro que emitimos ou na primeira birra que
fizemos, vieram imediatamente nos dar algum tipo de consolo, ainda que errado. Os
frutos só são abundantes quando as raízes são profundas. No entanto, muitos de
nós não aceitamos nos enraizar em nada: assim que somos frustrados em nossos
desejos, sacudimos a terra das nossas raízes e vamos em busca de um outro lugar
onde nossos caprichos possam ser plenamente satisfeitos – como se esse lugar
existisse...
Na parábola do semeador, Jesus deixa
claro que algumas pessoas não têm raiz em si mesmas; são volúveis,
inconstantes: sempre que surge uma dificuldade, abandonam o barco (cf. Mt 13,21).
São pessoas que estão com Deus enquanto Ele lhes fornece água e adubo, mas que
se revoltam contra Ele quando chega o momento de serem podadas em alguma coisa.
São pessoas que cada hora estão numa igreja, numa religião, num emprego, num
relacionamento, numa modalidade esportiva etc. São pessoas que se cansam
facilmente do mundo exterior porque não cuidam da sua raiz interior.
O que é essa raiz interior? É a convicção
acerca do que Jesus acabou de nos afirmar: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).
É a convicção de que quando você se coloca em oração, deve permanecer ali,
independente se está experimentando consolação ou desolação. É a convicção de
que há galhos em você que se tornaram estéreis, inúteis, e precisam ser
cortados e jogados fora, assim como há galhos em você que, embora estejam
produzindo alguns frutos, precisam ser podados, para que os frutos se tornam
melhores. Muitas pessoas se desenraizaram de Deus porque não entenderam ou não
aceitaram o momento da poda. No entanto, sem poda não há fecundidade, e toda
poda fere nosso narcisismo, humilha nosso orgulho, desmascara nossa ilusão...
Quem não aceita passar pela tristeza da poda não experimenta a alegria de
ver-se produzindo frutos.
Algumas perguntas: Que frutos nossa
comunidade/Igreja produz para a sociedade humana? Que frutos eu posso produzir em
casa, no local de trabalho, na escola/faculdade, na minha comunidade de fé? O
que precisa ser podado em minha vida, em meu relacionamento, em minha casa, em meu
local de trabalho, em nossa comunidade de fé? Que frutos eu tenho colhido em
minha permanência na internet? Eu tenho raiz em mim mesmo(a)? Onde, em quê ou
em quem as minhas raízes estão agarradas neste momento?
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Obrigada pelo texto!! Era o que eu estava precisando no momento
ResponderExcluirPADRE PALAVRA PODEROSA PARABENS, MUITO FORTE!!!
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