quinta-feira, 30 de abril de 2015

SER CAPAZ DE PERMANECER E DE TER RAIZ EM SI MESMO(A)

Missa do 5º. dom. da páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João 3,18-24; João 15,1-8.

            Nos caminhões, nas floriculturas ou nos viveiros que vendem mudas de árvores frutíferas, normalmente encontramos propagandas do tipo: “Jabuticabeira já produzindo!” Essa é a questão: “Já produzindo!” Para uma geração como a nossa, que vive sob a dinâmica da pressa e do imediato, não tem sentido plantar uma árvore que demore 25 anos para crescer e começar a produzir frutos. Queremos os frutos já, agora, para nós e não para os outros que vierem depois de nós! Estamos tão adoecidos pelo individualismo que nos tornamos incapazes de cultivar algo que não será desfrutado por nós, mas para os que vierem depois de nós.
            Sabemos que nas últimas décadas, a produção de alimentos foi acelerada. Os hormônios embutidos na ração dada aos animais fazem com que eles estejam prontos para o abate em 45 dias, coisa que antes demorava de dois a três meses. Os defensores do “já produzindo!” alegam que a humanidade cresceu muito e é preciso acelerar a produção de alimentos. Desse modo, a maioria dos alimentos chegam à nossa mesa “incrementados” com hormônios, agrotóxicos ou modificados geneticamente. Isto certamente tem um custo para a nossa saúde...
            No Evangelho que acabamos de ouvir, Jesus também fala da importância de produzirmos frutos. No entanto, o nosso fruto não pode ser forçado, não pode ter um gosto artificial, nem muito menos ser um fruto que transmite doenças para quem dele se alimenta. Para Jesus, o nosso fruto só pode nascer da atitude de permanecer: permanecer nas mãos do Pai, sobretudo quando Ele, o agricultor, precisa nos podar para que o nosso fruto se torne melhor; permanecer em Jesus nas diversas estações existenciais – quando é outono e nossas folhas caem; quando é inverno e parece que morremos por completo; quando é primavera e a vida escondida em nós começa a dar sinais de ressurreição; quando é verão e nossas flores dão lugar a frutos que transmitem vida aos outros.
            “Permanecer” é uma palavra carregada de ambiguidade para a nossa geração. Muitos de nós permanecemos horas numa academia, ou diante da TV, do celular ou do computador, mas não conseguimos permanecer quinze minutos em oração diante do Senhor. Muitos de nós nunca fomos educados a permanecer, porque no primeiro choro que emitimos ou na primeira birra que fizemos, vieram imediatamente nos dar algum tipo de consolo, ainda que errado. Os frutos só são abundantes quando as raízes são profundas. No entanto, muitos de nós não aceitamos nos enraizar em nada: assim que somos frustrados em nossos desejos, sacudimos a terra das nossas raízes e vamos em busca de um outro lugar onde nossos caprichos possam ser plenamente satisfeitos – como se esse lugar existisse...      
            Na parábola do semeador, Jesus deixa claro que algumas pessoas não têm raiz em si mesmas; são volúveis, inconstantes: sempre que surge uma dificuldade, abandonam o barco (cf. Mt 13,21). São pessoas que estão com Deus enquanto Ele lhes fornece água e adubo, mas que se revoltam contra Ele quando chega o momento de serem podadas em alguma coisa. São pessoas que cada hora estão numa igreja, numa religião, num emprego, num relacionamento, numa modalidade esportiva etc. São pessoas que se cansam facilmente do mundo exterior porque não cuidam da sua raiz interior.
               O que é essa raiz interior? É a convicção acerca do que Jesus acabou de nos afirmar: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). É a convicção de que quando você se coloca em oração, deve permanecer ali, independente se está experimentando consolação ou desolação. É a convicção de que há galhos em você que se tornaram estéreis, inúteis, e precisam ser cortados e jogados fora, assim como há galhos em você que, embora estejam produzindo alguns frutos, precisam ser podados, para que os frutos se tornam melhores. Muitas pessoas se desenraizaram de Deus porque não entenderam ou não aceitaram o momento da poda. No entanto, sem poda não há fecundidade, e toda poda fere nosso narcisismo, humilha nosso orgulho, desmascara nossa ilusão... Quem não aceita passar pela tristeza da poda não experimenta a alegria de ver-se produzindo frutos.
            Algumas perguntas: Que frutos nossa comunidade/Igreja produz para a sociedade humana? Que frutos eu posso produzir em casa, no local de trabalho, na escola/faculdade, na minha comunidade de fé? O que precisa ser podado em minha vida, em meu relacionamento, em minha casa, em meu local de trabalho, em nossa comunidade de fé? Que frutos eu tenho colhido em minha permanência na internet? Eu tenho raiz em mim mesmo(a)? Onde, em quê ou em quem as minhas raízes estão agarradas neste momento? 

                                                                    Pe. Paulo Cezar Mazzi

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