sexta-feira, 17 de abril de 2015

LIBERTOS DA IGNORÂNCIA QUE NOS ADOECE E QUE TAMBÉM PODE NOS DESTRUIR

Missa do 3º. dom. da páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 3,13-15.17-19; 1Jo 2,1-5a; Lucas 24,35-48.

            O que leva uma pessoa a passar pela vida fazendo mal a si mesma e/ou aos outros? O que leva alguém a passar a vida inteira acorrentado a um vício? O que faz com que um relacionamento que tem tudo para dar certo dê errado? O que explica a atitude fanática de matar pessoas em nome de Deus ou em nome do dinheiro? O que está por trás dessa inversão de valores em que vivemos e que faz com que rejeitemos o bem e escolhamos o mal? A resposta para todas essas perguntas é uma só: a IGNORÂNCIA.
            Esta foi a denúncia do apóstolo Pedro ao povo judeu, após a ressurreição de Jesus: “Vós rejeitastes o santo e o justo e pedistes a libertação para um assassino... Vós agistes por ignorância... Arrependei-vos e convertei-vos...” (At 3,14.17.19). Quantas coisas erradas já fizemos na vida, ou ainda estamos fazendo, por ignorância, porque ignoramos o nosso valor, a nossa capacidade, a nossa verdade, ou porque ignoramos o valor e a capacidade das pessoas que convivem conosco? Quantas coisas ignoramos a respeito de nós mesmos, das outras pessoas e do próprio Deus?
Uma conhecida parábola descreve as consequências da ignorância em nossa vida: um jovem passa por um circo, vê um elefante enorme amarrado por uma das patas a uma pequena estaca e se pergunta por que o elefante, com toda a sua força física, não rompe a corda e não se liberta daquela vida aprisionada... É quando alguém lhe explica que, desde filhote, o elefante cresceu amarrado àquela estaca: ele só permanece preso ali porque desconhece, ou seja, IGNORA a força que tem. Assim como esse elefante, muitas pessoas passam sua vida amarradas a uma estaca chamada droga, relacionamento doentio, situação injusta, condição indigna etc., porque IGNORAM/desconhecem a força que têm...
Mais uma vez, o Senhor Jesus ressuscitado vai ao encontro dos discípulos e vê o coração deles tomado por preocupações e dúvidas. Por que as preocupações e as dúvidas encontram mais espaço em nosso coração do que a confiança, a fé, a alegria e a esperança? Porque ignoramos/desconhecemos não só a presença do Ressuscitado junto a nós, como ignoramos/desconhecemos que somos portadores da verdade e da força da ressurreição em nosso coração. Por que muitas vezes nosso coração está cheio de culpa e vivemos nos condenando e nos punindo – muitas vezes de maneira inconsciente –, devido a pecados que cometemos? Porque ou ignoramos/desconhecemos, ou nos esquecemos de que “temos junto do Pai um defensor, Jesus Cristo, o justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados...” (1Jo 2,1-2).   
No livro do profeta Oséias encontramos o retrato de um país destruído pela ignorância, retrato que se encaixa perfeitamente não só no Brasil, mas em tantos outros países da atualidade: “Não há sinceridade nem bondade, nem conhecimento de Deus na terra. Juram falso, assassinam, roubam, cometem adultério, usam de violência e acumulam homicídio sobre homicídio... Meu povo está sendo destruído por falta de conhecimento” (Os 4,1-2.6), ou seja, por ignorância.
No âmbito pessoal, o nosso maior problema não é a ignorância em si, mas o fato de que aprendemos a usar a ignorância como forma de sobrevivência, isto é, como desculpa para não nos trabalhar, para não enfrentar os verdadeiros conflitos que estão levando à ruína nosso relacionamento, para não nos desinstalar da sala da nossa casa e da frente da TV ou do computador, onde recebemos “atualizações” diárias de uma ignorância inteligentemente programada pelos meios de comunicação para nos manter “domesticados”, como aquele elefante preso a uma estaca por uma corda.
            Jesus ressuscitado “abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras...” (Lc 24,45). Até que ponto você deseja conhecer a verdade que é capaz de te libertar (cf. Jo 8,32)? Até que ponto você deseja que seja retirado dos seus olhos o véu que impede você de ver a vida como realmente ela é (cf. 2Cor 3,12-16)? Até que ponto você está disposto(a) a jogar fora a muleta da sua ignorância e ter a coragem de parar em pé sobre suas próprias pernas, ao invés de continuar a responsabilizar os outros pela sua infelicidade? 
            Senhor Jesus, hoje venho a ti com a minha ignorância. Embora ela tenha se tornado uma boa desculpa para eu não fazer as mudanças que preciso fazer, eu reconheço que preciso ser liberto(a) dela, Senhor. Preciso ter a coragem de tirar o véu, de jogar fora a muleta, de assumir atitudes concretas para não continuar mais a destruir a minha vida e a vida dos outros por causa da minha ignorância. Abre a minha inteligência, Senhor. Torna-me consciente do meu valor, da minha dignidade e da força da Tua ressurreição em mim. Torna-me também consciente do valor e da dignidade das outras pessoas. Que eu possa ajudá-las a reconheceram a força que carregam dentro de si, para se libertarem das amarras pessoais e sociais que as mantém prisioneiras de sofrimentos que, aos Teus olhos, são totalmente injustos e desnecessários. Retira-nos a todos da ignorância, Senhor, para que nenhum povo caminhe mais na direção da sua própria destruição. Amém.

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

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