Missa
do 3º. dom. da páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 3,13-15.17-19; 1Jo
2,1-5a; Lucas 24,35-48.
O que leva uma pessoa a passar pela
vida fazendo mal a si mesma e/ou aos outros? O que leva alguém a passar a vida
inteira acorrentado a um vício? O que faz com que um relacionamento que tem
tudo para dar certo dê errado? O que explica a atitude fanática de matar
pessoas em nome de Deus ou em nome do dinheiro? O que está por trás dessa
inversão de valores em que vivemos e que faz com que rejeitemos o bem e
escolhamos o mal? A resposta para todas essas perguntas é uma só: a IGNORÂNCIA.
Esta foi a denúncia do apóstolo
Pedro ao povo judeu, após a ressurreição de Jesus: “Vós rejeitastes o santo e o
justo e pedistes a libertação para um assassino... Vós agistes por
ignorância... Arrependei-vos e convertei-vos...” (At 3,14.17.19). Quantas
coisas erradas já fizemos na vida, ou ainda estamos fazendo, por ignorância,
porque ignoramos o nosso valor, a nossa capacidade, a nossa verdade, ou porque
ignoramos o valor e a capacidade das pessoas que convivem conosco? Quantas
coisas ignoramos a respeito de nós mesmos, das outras pessoas e do próprio Deus?
Uma
conhecida parábola descreve as consequências da ignorância em nossa vida: um
jovem passa por um circo, vê um elefante enorme amarrado por uma das patas a
uma pequena estaca e se pergunta por que o elefante, com toda a sua força
física, não rompe a corda e não se liberta daquela vida aprisionada... É quando
alguém lhe explica que, desde filhote, o elefante cresceu amarrado àquela
estaca: ele só permanece preso ali porque desconhece, ou seja, IGNORA a força
que tem. Assim como esse elefante, muitas pessoas passam sua vida amarradas a
uma estaca chamada droga, relacionamento doentio, situação injusta, condição
indigna etc., porque IGNORAM/desconhecem a força que têm...
Mais
uma vez, o Senhor Jesus ressuscitado vai ao encontro dos discípulos e vê o
coração deles tomado por preocupações e dúvidas. Por que as preocupações e as
dúvidas encontram mais espaço em nosso coração do que a confiança, a fé, a
alegria e a esperança? Porque ignoramos/desconhecemos não só a presença do
Ressuscitado junto a nós, como ignoramos/desconhecemos que somos portadores da verdade
e da força da ressurreição em nosso coração. Por que muitas vezes nosso coração
está cheio de culpa e vivemos nos condenando e nos punindo – muitas vezes de
maneira inconsciente –, devido a pecados que cometemos? Porque ou
ignoramos/desconhecemos, ou nos esquecemos de que “temos junto do Pai um
defensor, Jesus Cristo, o justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos
pecados...” (1Jo 2,1-2).
No
livro do profeta Oséias encontramos o retrato de um país destruído pela
ignorância, retrato que se encaixa perfeitamente não só no Brasil, mas em
tantos outros países da atualidade: “Não há sinceridade nem bondade, nem
conhecimento de Deus na terra. Juram falso, assassinam, roubam, cometem
adultério, usam de violência e acumulam homicídio sobre homicídio... Meu povo está
sendo destruído por falta de conhecimento” (Os 4,1-2.6), ou seja, por
ignorância.
No
âmbito pessoal, o nosso maior problema não é a ignorância em si, mas o fato de
que aprendemos a usar a ignorância como forma de sobrevivência, isto é, como
desculpa para não nos trabalhar, para não enfrentar os verdadeiros conflitos
que estão levando à ruína nosso relacionamento, para não nos desinstalar da
sala da nossa casa e da frente da TV ou do computador, onde recebemos
“atualizações” diárias de uma ignorância inteligentemente programada pelos
meios de comunicação para nos manter “domesticados”, como aquele elefante preso
a uma estaca por uma corda.
Jesus ressuscitado “abriu a
inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras...” (Lc 24,45). Até
que ponto você deseja conhecer a verdade que é capaz de te libertar (cf. Jo
8,32)? Até que ponto você deseja que seja retirado dos seus olhos o véu que
impede você de ver a vida como realmente ela é (cf. 2Cor 3,12-16)? Até que
ponto você está disposto(a) a jogar fora a muleta da sua ignorância e ter a
coragem de parar em pé sobre suas próprias pernas, ao invés de continuar a
responsabilizar os outros pela sua infelicidade?
Senhor Jesus, hoje venho a ti com a
minha ignorância. Embora ela tenha se tornado uma boa desculpa para eu não
fazer as mudanças que preciso fazer, eu reconheço que preciso ser liberto(a)
dela, Senhor. Preciso ter a coragem de tirar o véu, de jogar fora a muleta, de
assumir atitudes concretas para não continuar mais a destruir a minha vida e a
vida dos outros por causa da minha ignorância. Abre a minha inteligência,
Senhor. Torna-me consciente do meu valor, da minha dignidade e da força da Tua
ressurreição em mim. Torna-me também consciente do valor e da dignidade das
outras pessoas. Que eu possa ajudá-las a reconheceram a força que carregam
dentro de si, para se libertarem das amarras pessoais e sociais que as mantém
prisioneiras de sofrimentos que, aos Teus olhos, são totalmente injustos e
desnecessários. Retira-nos a todos da ignorância, Senhor, para que nenhum povo caminhe
mais na direção da sua própria destruição. Amém.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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