Missa
de Ano Novo. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21.
“Marcas do que se foi; sonhos que
vamos ter”. Nesta noite de passagem ou de início de Ano Novo, procuramos, num
primeiro momento, colocar em Deus as marcas do ano que se foi (ou que se vai);
num segundo momento, os sonhos que vamos ter, em 2014.
Quais
marcas o ano que termina deixa em nós? Algumas marcas são de alegria; outras,
de tristeza; algumas, de vitória; outras, de derrota; algumas, de conquista;
outras, de perda. A vida nos marca, o tempo nos marca. O nosso desafio é ver,
nessas marcas, os sinais de Deus, os sinais do desígnio que Ele tem para cada
um de nós, para toda a humanidade, um desígnio que muitas vezes não entendemos,
mas que, pela fé, podemos acolher, segundo as palavras do apóstolo Paulo, que
diz: “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu desígnio” (Rm 8,28). A fé nos diz que tudo aquilo que
Deus permitiu que nos acontecesse neste ano que termina foi em função do nosso
bem, da nossa salvação.
No coração de muitas pessoas, nesta
passagem de ano, existe um sentimento de desamparo, de solidão, de não ser
importante para ninguém. Mas a Palavra nos diz que “Deus enviou aos nossos
corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai!”. Para nós entendermos
o alcance dessa afirmação bíblica e a consequência prática dela para a nossa
vida, precisamos nos lembrar dessas palavras de Jesus aos seus discípulos:
“Vocês se dispersarão, cada um para o seu lado, e me deixarão sozinho. Mas eu
não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16,32).
Muitas pessoas, ao longo deste ano que
termina, desabaram e se desestruturaram diante de alguns acontecimentos, mas
quem, como Jesus, consegue professar: “Eu não estou só, porque o Pai está
comigo”, permanece em pé; não desaba, não se desestrutura. Por isso, nesta
noite rezamos por toda a humanidade, para que a face do Pai esteja voltada
sobre cada ser humano, de modo que, diante de cada acontecimento bom ou ruim,
alegre ou triste, de conquista ou de perda, cada pessoa possa ter o seu coração
sereno e proclamar: “Eu não estou só, porque o Pai está comigo”.
“Marcas do que se foi; sonhos que vamos
ter”. Para que possamos realizar os “sonhos que vamos ter”, neste novo ano,
pedimos “que Deus nos dê a sua graça e a sua bênção; que a sua face resplandeça
sobre nós; que na terra se conheça o seu caminho, e a sua salvação por entre os
povos” (Sl 67,2-3). Assim como o salmista, nós clamamos: “É tua face, Senhor,
que eu procuro, não me escondas a tua face... Tu és o meu socorro!” (Sl
27,8-9). Quantas vezes temos a sensação de que Deus esconde de nós a Sua face?
“Eu dizia tranquilo: ‘Nada, jamais, me fará tropeçar!’. Senhor o teu favor me
firmava sobre fortes montanhas; mas escondeste tua face e eu fiquei perturbado”
(Sl 30,7-8).
Nós
nem sempre conseguimos enxergar Deus em tudo o que nos acontece. Por isso, o
Evangelho nos coloca diante da atitude de Maria, que “conservava cuidadosamente
todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração” (Lc 2,19). Para uma
geração como a nossa, marcada pela dispersão interior e exterior, que não
encontra tempo para meditar os acontecimentos em seu coração, vale este alerta:
“Todos os problemas do homem derivam do
fato de que ele não é capaz de ficar sentado sozinho, em silêncio, num
aposento” (Blaise Pascal). Quem escolhe viver como escravo do mundo, torna-se
escravo do tempo e vive atropelado pelos acontecimentos. Quem escolhe viver
como filho de Deus, torna-se senhor de si mesmo e mantém a serenidade diante
dos acontecimentos.
“O Senhor mostre para ti a sua face e te
conceda a paz!” (Nm 6,26). Hoje, 1º. de janeiro, é o Dia Mundial da Paz. Segundo
o Papa Francisco, a fraternidade é o fundamento e o caminho para a paz.
Fraternidade significa “ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um
verdadeiro irmão... O egoísmo diário... está na base de muitas guerras e
injustiças: muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não
sabem reconhecer-se como tais... A raiz da fraternidade está contida na
paternidade de Deus” (Papa Francisco, Mensagem
para o Dia Mundial da Paz).
Nesta entrada do Ano Novo, enquanto
alguns “cristãos’ assumem atitudes supersticiosas, próprias de “pagãos”, tipo “cor amarela para isso, cor
vermelha para aquilo”; “comer lentilha, carregar grãos de romã na carteira”
etc., a Palavra de Deus nos convida a algumas atitudes dignas de verdadeiros
filhos de Deus: “Confie no Senhor e faça o bem... Entrega o teu caminho ao
Senhor, confia nele e ele agirá... Descansa no Senhor e espera nele” (Sl
37,3.5.7); “Ande na presença de Deus e seja íntegro” (citação livre de Gn
17,1). E mesmo se você carrega dores em seu coração neste momento, olhe com
confiança para o ano que se inicia, lembrando-se disso: “Os favores do Senhor
não terminaram, suas compaixões não se esgotaram; elas se renovam todas as
manhãs, grande é a sua fidelidade!... É bom esperar em silêncio a salvação de
Deus” (Lm 3,22-23.26). Tenha um abençoado Ano Novo!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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