Missa do 2º. dom. do advento. Palavra de
Deus: Gênesis 3,9-15.20; Efésios 1,3-6.11-12; Lucas 1,26-38.
“Onde você está?”, perguntou o Senhor
Deus a Adão (cf. Gn 3,9). Deus, que tudo vê e tudo conhece, fez esta pergunta a
Adão, para que ele tomasse consciência da direção que o pecado estava dando à
sua vida, quando Adão decidiu desobedecer a Deus. Hoje Deus dirige esta
pergunta a cada um de nós: “Onde você está?” Por que será que isso está
acontecendo na sua vida? Qual tem sido a sua parcela de responsabilidade
naquilo que está acontecendo com você? “Observe o seu caminho”, a maneira de
conduzir sua vida, “reconheça o que você fez”, para que chegar na situação em
que chegou (cf. Jr 2,23).
Diante
da pergunta de Deus, Adão disse: “Ouvi tua voz, (...) fiquei com medo (...) e
me escondi” (Gn 3,10). Você já se deu conta da voz de Deus que fala à sua
consciência? Você sente medo de Deus, ou se sente amado(a) por Ele? Você se
esconde de Deus no seu dia a dia (no seu ativismo), ou se deixa encontrar por
Ele (na sua oração)? Adão estava com vergonha da sua nudez, mas hoje a Palavra
do Senhor nos convida a olhar para a nossa nudez, para as consequências maléficas
e destruidoras que o pecado causa em nós, e reconhecer que somente o Senhor
pode cobrir a nossa nudez; somente Ele pode curar as feridas que o pecado tem
aberto em nós, em nossa família, em nossa sociedade. Por maior que possa ser o
nosso pecado, devemos nos lembrar da Palavra que diz: “Onde foi grande o
pecado, muito maior foi a graça” de Deus em nos salvar (cf. Rm 5,20).
Por
que iniciamos essa reflexão mencionando o pecado de Adão e o nosso? Porque a
liturgia de hoje nos coloca diante do dogma da Imaculada Conceição da Virgem
Maria, dogma que afirma que Maria, preparada por Deus para ser a Mãe de Seu
Filho, foi concebida sem a mancha do pecado original, isto é, do pecado que todos
nós herdamos de Adão (cf. Rm 5,12). Diferente de Maria, nós não somos
“imaculados”. Temos consciência que estamos “maculados” com o nosso pecado, “maculados”
com certas concessões que nos “mancham” por meio da corrupção, da
desonestidade, da mentira. Diferente de Maria, que foi chamada pelo anjo de
“cheia de graça” (Lc 1,28), nós podemos não estar “cheios” da graça de Deus neste
momento, mas estamos aqui para receber do Senhor a Sua graça, a graça que nos
santifica por meio da Palavra que Ele nos diz (cf. Jo
15,3).
Pensemos no significado dessas palavras: imaculada/maculada, pura/impura, limpa/suja.
Há dias atrás, o Papa Francisco nos pediu para rezarmos pelos filhos que
recebem “pão sujo” de seus pais. O que é o “pão sujo”? É o pão adquirido com
trabalho desonesto, corrupto. Quantos filhos, “talvez educados em colégios
caros, talvez criados em ambientes cultos, recebem dos pais comida suja, porque
seus pais, trazendo pão sujo para casa, perderam sua dignidade!”. Quantos
filhos têm fome de dignidade? Deus quer que o pão que nós comemos em casa seja
fruto de um trabalho honesto, disse o Papa Francisco.
De maneira provocadora, o Papa Francisco agora nos diz,
na sua Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, que prefere uma Igreja “suja”,
que sai de si e vai até os outros, para curá-los, para salvá-los; não uma
Igreja “pura”, fechada em si mesma, preservada do contato com o sofrimento
humano: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas
estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e comodidade de se agarrar às
próprias seguranças” (EG 49). Que tipo de Igreja temos sido?
Por
fim, lembremos que se a nossa vida não é uma vida sem pecado, apesar disso, ela
deve se tornar o “lugar da graça” de Deus, o lugar onde o Pai possa gerar seu
Filho Jesus em nós, e por meio de nós, no mundo. O próprio Pai nos amou e nos
escolheu em seu Filho Jesus “para que sejamos santos e irrepreensíveis, e
vivamos sob o seu olhar, no amor” (Ef 1,4). Adão e Eva fugiram desse olhar
amoroso do Pai. Maria, pelo contrário, escolheu viver sob esse olhar: “Eis aqui
a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Que neste
tempo de Advento, possamos a cada dia converter o
nosso “não” (fechamento à vontade de Deus) em “sim” (abertura e docilidade à
Sua vontade). Peçamos ao Espírito Santo que nos dê discernimento para
percebermos, em cada atitude do nosso dia a dia, se ela nos torna mais cheios ou
mais vazios da graça de Deus, se ela nos purifica ou nos macula...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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