quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

NA OBEDIÊNCIA DA FÉ, DEIXAR-SE SURPREENDER POR DEUS

Missa do 4º. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 7,10-14; Romanos 1,1-7; Mateus 1,18-24.

            “Pede ao Senhor teu Deus que te faça ver um sinal...” (Is 7,11). Essas palavras do profeta Isaías foram ditas ao rei Acaz, num momento em que uma guerra estava para se desencadear contra ele. Acaz estava com a sua consciência pesada, por ter feito algo que não agradou a Deus. Por isso, se recusou a pedir um sinal de que Deus ainda o amava e estava junto dele e do seu povo. Mas Isaías lhe disse: “O próprio Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel (Deus está conosco)” (Is 7,14).
            Numa época de desencanto como a nossa, onde muitas vezes nos sentimos acuados, como se não houvesse saída, nem horizonte para a nossa vida, precisamos pedir ao Senhor que nos faça ver o sinal da Sua presença junto a nós, o sinal da Sua misericórdia e do Seu amor para com a humanidade, o sinal da Sua salvação. E este é o sinal: nascerá um filho, para dizer que a vida resiste à guerra, à violência, à injustiça, a todo mal que há no mundo. Um filho nascerá para nos lembrar que Deus é maior do que tudo o que nos acontece. Ele entra em nossa história, marcada por tantas contradições, para fazer dela uma história de salvação.
            O menino que vai nascer se chamará “Emanuel”, que significa “Deus está conosco”. Deus está conosco para nos libertar e para nos salvar. Mas, você crê que Deus está com você, no seu dia a dia? Quando ouviu essas palavras do anjo: “O Senhor está contigo, valente guerreiro!”, Gedeão perguntou: “Se Deus está conosco, por que estão nos acontecendo essas coisas?” (Jz 6,13). Da mesma forma, talvez hoje você questione: se Deus está comigo, com a minha família, por que tanta coisa ruim está nos atingindo? Deus não nos explica o porquê disso ou daquilo, mas afirma que nós temos força suficiente para enfrentar o que está nos acontecendo: “Vai com a força que te anima, e salvarás Israel... Não sou eu quem te envia?” (Jz 6,12.14). O “Deus conosco” é o Deus que nos envia e que nos assiste na missão que nos confiou.
            Assim como Acaz, assim como Gedeão, nós não temos a compreensão de tudo o que acontece conosco, e muitas vezes nos sentimos impotentes, pequenos demais, frágeis, e pensamos que a melhor coisa é entregar os pontos, desistir, fugir da luta. José também se sentiu assim. Sua vida estava caminhando dentro da normalidade; seu casamento com Maria estava a ponto de se concretizar, quando, de repente, Maria aparece grávida, uma gravidez que se deu sem a participação de José, por ser obra do Espírito Santo. Essa notícia virou do avesso a vida de José.
            Quantas vezes, Deus permite que algum acontecimento vire do avesso a nossa vida? Como é que nós acolhemos essas surpresas de Deus? O Papa Francisco, na sua homilia no Santuário de Aparecida, disse que, "mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende". É preciso deixar-se surpreender por Deus. Há sempre algo maior que nos ultrapassa e revela que a nossa vida faz parte de um desígnio maior. Como fez com José, Deus nos convida a nos abrir ao Seu desígnio de salvação.
            Por não compreender ainda os desígnios de Deus, José se sentiu descartado. Mas, no sonho, Deus lhe mostrou que necessitava dele. Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo, mas caberia a José introduzi-lo na descendência de Davi. A gravidez de Maria sem a participação de José nos lembra que há coisas que acontecerão em nossa vida por pura graça de Deus. A salvação vem do alto, é obra do Espírito de Deus em nós. Por isso, hoje Deus nos diz o que disse a José: “Não tenha medo”; não tenha medo daquilo que Eu posso e quero fazer em você, em sua vida, em sua família. Contudo, para isso, Eu preciso da sua colaboração, preciso da “obediência da sua fé” (cf. Rm 1,5).
            O Evangelho nos diz que José era um homem "justo" (cf. Mt 1,19). Na Bíblia, a pessoa justa é aquela que, em todas as coisas, procura fazer a vontade de Deus. Peçamos ao Senhor que nos dê um coração justo como o de José, um coração que compreende que  "a fé é obediência": posso não entender os desígnios de Deus, mas confio e obedeço ao que Ele está orientando-me fazer. Peçamos ao Senhor um coração que submete o seu próprio querer ao querer de Deus, a sua própria vontade à vontade de Deus. Deixemo-nos surpreender por Deus e colaboremos com a Sua graça, para que a nossa história se torne história de salvação.  
              
                                                                   Pe. Paulo Cezar Mazzi

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