Missa
da Sagrada Família de Nazaré. Palavra de Deus: Eclesiástico 3,3-7.14-17a; Colossenses
3,12-21; Mateus 2,13-15.19-23.
Em meados de outubro, a imprensa divulgou
o fim do “casamento” – na verdade, eles viviam “juntos” desde 2007 – de Grazi
Massafera e Cauã Reymond. Considerando a influência da televisão, especialmente
das novelas e mini-séries, na vida do povo brasileiro, convém perguntar: Quantos
artistas você conhece que, na vida real, formam uma família estruturada? Além
disso, por trás dos escritores de novela e de mini-séries você encontra, muitas
vezes, pessoas sem uma experiência positiva de família, pessoas que precisam
gritar para o público a dor de uma ferida que não foi curada, nem cicatrizada
dentro delas. Talvez sem dar-se conta disso, alguns criadores de novelas e
mini-séries assumem o papel de Herodes no mundo atual: precisam destruir nos
outros o sonho de família que foi destruído neles também.
Passando das novelas e mini-séries para a vida
real, todos nós percebemos os efeitos de um ataque contra a família,
tradicionalmente formada por um pai, uma mãe e filhos. A família, que é a
estrutura mais básica e necessária para a saúde física, emocional e espiritual de
qualquer pessoa, é também a estrutura mais fragilizada da nossa sociedade que, devido
ao individualismo, tem se tornado incapaz de sustentar um compromisso sempre
que dói fazê-lo. Como vivemos a era da troca, “se aparecer algo mais vantajoso, a pessoa troca.
Troca de igreja, troca de partido, troca de família, troca de clube, troca de
empresa. Trocar é, hoje, um dos verbos mais vividos por uma geração que não
aceita sofrer além da cota” (Pe. Zezinho).
Para fugir de Herodes, a família de
Jesus teve que se exilar no Egito. Onde você encontra exílio para salvar a
sua família hoje? Como todos nós sofremos a influência do mundo em que vivemos,
precisamos construir nosso próprio exílio, aquele lugar dentro de nós, ou a
nossa própria casa, onde reavaliamos aquilo que o mundo nos apresenta como “novos
valores” – quando, muitas vezes, são apenas contra-valores –, distinguimos/separamos
o joio do trigo, e procuramos ficar com aquilo que convém à nossa família,
aquilo que convém para fortalecer o nosso relacionamento com aqueles a quem
amamos.
Assim como a nossa, a família de Jesus sofreu
forte hostilidade por parte do mundo, mas ela conseguiu resistir e se firmar
porque a consciência e o coração de José estavam voltados para Deus. Toda
decisão que José tomava era sob a orientação de Deus. Da mesma forma, Deus nos
orienta hoje, na sua Palavra, a honrar e respeitar os nossos pais, amparando-os
também, e, sobretudo, na velhice, sendo compreensivos para com eles (1ª.
leitura). Portanto, não devemos adotar a mentalidade de que “começou a dar
trabalho, eu abandono”, fazendo com que hoje muitos se tornaram filhos que
abandonaram seus pais e pais que abandonaram seus filhos.
A Palavra de Deus também nos orienta
hoje quanto ao relacionamento dentro de casa, o qual deve ser revestido de misericórdia,
bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-nos uns aos outros e perdoando-nos
mutuamente (2ª. leitura). Em quantas famílias os gritos, as ofensas e os palavrões
tomaram o lugar da mansidão e da paciência, e se tornaram rotina, o arroz com
feijão de cada dia? Em quantas casas não há falta de pão, mas falta de afeto?
Quantos pais se esforçam para dar uma vida digna para os filhos, mas não se
esforçam para se comunicar com eles? Em quantas casas, tanto os pais quanto os
filhos estão conectados via internet com pessoas distantes, expressando palavras
de carinho, mas vivem sem conexão e sem comunicação de carinho com os que estão
dentro de casa?
Existem atitudes que precisam ser
revistas na família. A esposa não deve ser desleixada com a casa, nem consigo
mesma, mas dedicada para com o marido. O marido, por sua vez, deve expressar,
com palavras e atitudes, o seu amor pela esposa, lembrando que palavras e
atitudes grosseiras costumam construir um muro que bloqueia o afeto da esposa
para com o marido. A necessidade da obediência dos filhos em relação aos pais
revela a inversão de valores que muitas famílias vivem hoje: filhos que mandam
nos pais; filhos que determinam aos pais o que querem comer, o que querem
ganhar, e pais que assumem o papel de empregados dos filhos, fazendo todas as
suas vontades. Aos pais cabe a tarefa de colocar limites nos filhos e, ao mesmo
tempo, incentivá-los, encorajá-los para enfrentar a vida e para lutar por
aquilo que sonham, sem exigir que a vida lhes dê tudo de mão beijada, coisa que
ela não costuma fazer.
Cada
um de nós tem a sua história de vida e de família. É preciso acolher e
respeitar cada pessoa, cada família, como se encontra hoje. Por iniciativa do
Papa Francisco, será realizado, nos dois próximos anos, um Sínodo sobre a
Família, enfrentando com coragem diversos desafios pastorais; entre eles, os
casais em segunda união e a união entre pessoas do mesmo sexo. Peçamos ao
Espírito Santo que torne a nossa Igreja sempre mais fiel à missão de Jesus
Cristo, que disse: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, e sim os
doentes... Eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mt 9,12-13).
Onde que quer
exista uma família doente, desestruturada, formada longe do “tradicional”; onde
quer que exista um relacionamento ferido, é lá, especialmente, que a Igreja
deve estar como Mãe, cujo coração ama a todos, mas cujas entranhas se comovem
pelo filho mais frágil, mas desestruturado. Que também nós trabalhemos em favor
das famílias, para fortalecer aquelas que têm resistido aos Herodes de hoje, e
para amparar aquelas que foram feridas e fragilizadas na sua estrutura, e que são,
sem dúvida, objeto da compaixão de Deus Pai, neste momento da nossa história.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir