Missa do 3º. dom. do advento. Palavra de
Deus: Isaías 35,1-6a.10; Tiago 5,7-10; Mateus 11,2-11.
“Alegre-se
a terra que era deserta e intransitável... Criai ânimo!” (Is 35,1.4). “Ficai firmes
e fortalecei vossos corações” (Tg
5,8). Como você sente as pessoas com as quais convive: alegres ou tristes,
animadas ou desanimadas? Como você se encontra neste momento, neste final de
ano: animado(a) ou desanimado(a), fortalecido(a) ou enfraquecido(a)?
Com
toda certeza, neste momento não há quem não sinta o cansaço do ano que termina.
Mas há algo dentro de muitos de nós que tem nos roubado a alegria, não somente
a alegria de viver, mas a alegria da nossa fé, a alegria de servirmos a Deus, a
alegria do Evangelho: o desânimo. Cansaço é diferente de desânimo: mesmo
cansado(a), eu posso estar alegre pelo trabalho que realizei, pela luta que
empreendi. Mas o desânimo nos rouba a alegria e o sentido de trabalharmos, de
lutarmos por aquilo que acreditamos.
Muitos
estão desanimados. E por quê? “Alguns, por sustentarem projetos irrealizáveis...;
outros, por não aceitarem a custosa evolução dos processos, querendo que tudo
caia pronto do céu... A ânsia moderna de chegar a resultados imediatos faz com
que ... não tolerem ... alguma contradição, um aparente fracasso, uma cruz”, afirma
o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” (n.82).
Quando
você projeta algo para a sua vida, quando você sonha, mantém seus pés no chão,
mantém o senso de realidade, seja em relação a você, seja em relação às outras
pessoas? Você aceita o fato de que toda mudança e toda transformação são processuais,
ou continua a exigir que elas caiam prontas do céu?
Quando
Jesus iniciou o seu ministério, muitos se decepcionaram com ele, porque Jesus
não veio eliminar a contradição que há no ser humano, nem nos garantir lutas
sem fracassos e uma vida sem cruz. Por isso, ele disse: “Feliz aquele que não
se escandaliza por causa de mim!” (Mt 11,6). Você já se escandalizou com Jesus,
pela forma como ele age na sua vida? Você sabe lidar com a contradição que todo
ser humano, incluindo você, carrega dentro de si? Como você lida com o fracasso,
com a cruz?
Por
exigirem resultados imediatos em tudo o que fazem, por não tolerarem
contradições, nem fracassos, nem cruz, muitas pessoas se comportam na vida como
“caniços agitados pelo vento” (cf. Mt 11,7): são pessoas que não suportam frustrações;
pessoas que se dobram sempre que o vento sopra contra elas; pessoas que desistem
do caminho que estão fazendo porque receberam críticas, ou porque não foram elogiadas,
reconhecidas, paparicadas etc.
Para
uma geração como a nossa, que por muito ou por pouco tem a mania de desistir
dos seus ideais, dos seus valores, dos seus compromissos, o profeta Isaías diz:
“Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Criai ânimo,
não tenhais medo! Vede, é vosso Deus; (...) é ele que vem para vos salvar” (Is
35,3-4). Do mesmo modo, o apóstolo Tiago nos exorta: “Ficai firmes até à vinda
do Senhor... Ficai firmes e fortalecei vossos corações, pois a vinda do Senhor
está próxima” (Tg 5,7.8).
Tiago
compara a firmeza e a fortaleza de ânimo ao agricultor. Mesmo não vendo sinal
de chuva no céu, ele trabalha a terra e a prepara, na esperança de que a chuva
virá. Do mesmo modo, a você não cabe controlar quando a chuva vem, isto é,
quando e de que forma Deus vai agir na sua vida, mas a você cabe trabalhar o
terreno da sua vida, para que quando Deus derramar a graça d’Ele em sua vida, o
seu esforço seja recompensado e você possa colher o fruto do seu esforço.
Hoje
é o domingo da alegria, pela expectativa da chegada do Salvador. Em todo final
de ano multiplicam-se as confraternizações e as festas. O que está por trás do
excesso de comida e de bebida? Por que alguns têm tanta necessidade de beber?
Que tipo de vazio estão tentando preencher? Uma alegria que só vem para fora
depois que a pessoa bebe é uma triste alegria, uma alegria que tenta esconder
dores não enfrentadas pela pessoa, feridas que ela não aceita tratar, vozes que
ela se recusa a ouvir no seu coração...
Sempre
que permitirmos que o deserto do nosso coração deixe de ser intransitável e que
o Senhor tenha acesso a ele; sempre que cultivarmos a terra da nossa vida por
meio da oração, da perseverança, da fortaleza de ânimo, do serviço humilde e
constante em favor do anúncio da alegria do Evangelho, suportando o mesmo
sofrimento que os profetas suportaram, experimentaremos a alegria do encontro
com Aquele que vem para nos salvar, e essa alegria ninguém poderá tirá-la de
nós, como o próprio Jesus nos prometeu (cf. Jo 16,22).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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