terça-feira, 24 de dezembro de 2013

NÃO MAIS ENTREGUES A NÓS MESMOS, MAS AO FILHO, QUE SE FEZ HUMANO COMO NÓS

Missa da noite de Natal. Palavra de Deus: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14

            Encarnação: Deus, que é Espírito (cf. Jo 4,24), assumiu, em Seu Filho Jesus Cristo, a carne humana. Deus, a Quem ninguém nunca viu face a face (cf. Jo 1,18), assumiu um rosto humano em Seu Filho Jesus Cristo, e este rosto tem características próprias: é um rosto pobre, humilde e simples. Talvez você seja uma das tantas pessoas que não conseguem enxergar Deus presente na sua vida, ou na vida do mundo. Mas a questão é: você reconhece a presença de Deus naquilo que em você e na sua vida é pobre, humilde e simples? Quanto mais a sua vida se afasta da pobreza (esvaziamento de si), da humildade e da simplicidade, mais você sente Deus distante, ausente da sua vida.
            O Evangelho nos recorda que a entrada do Filho de Deus na história humana se deu durante a noite, para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que disse: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Quem habita nas sombras da morte hoje? Os moradores de rua e os viciados no crack; os idosos esquecidos e abandonados por suas famílias; os que se sentem condenados, seja por seus erros, seja por uma doença; os desempregados; as famílias desestruturadas; as casas onde não existe diálogo, nem afeto... Onde quer que exista alguém que esteja envolvido pela sombra da morte, nós clamamos, nesta noite de Natal: “Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós!”
            O nascimento de Jesus se dá em Belém, muito longe de Nazaré, onde seus pais moravam. Justamente naquele contexto de insegurança e de angústia para Maria e José, sem encontrarem ao menos um lugar na hospedaria, se completaram os dias para o parto e Maria deu à luz o seu Filho. Algum tempo mais tarde, o que aconteceria com Jesus, Maria e José? Teriam que fugir para o Egito, porque Herodes estava procurando matar o Menino (cf. Mt 2,13-18).    
          O Filho de Deus entra em nossa história sentindo em Si mesmo aquilo que tantas pessoas vivem hoje: a dor da rejeição, da humilhação, da ameaça, a fúria cega da intolerância e da violência, característica dos nossos tempos. Para inúmeras pessoas, esta noite de Natal é uma noite de dor, porque alguém foi arrancado delas pela violência de uma doença, de um acidente, de uma dependência química ou da dívida dessa dependência... Além disso, considerando que o presente mais pedido pelas crianças a seus pais neste Natal foi um Tablet ou um iPad, convém perguntar: há algum aplicativo nesses aparelhos que falem de Jesus ou do Evangelho a essas crianças? Na vida delas e de seus pais há um lugar para Jesus nascer, pela fé? Por todas essas situações, nós clamamos, mais uma vez: “Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós!”
            Segundo o apóstolo Paulo, Jesus nasceu para manifestar a graça de Deus como salvação para todas as pessoas (cf. Tt 2,11). O Natal nos recorda que a presença de Jesus e da sua salvação se dão em nossa vida por graça de Deus, e não pelos nossos méritos. Além disso, Jesus nasceu para todos, porque Deus quer que todos sejam salvos cf. 1Tm 2,4). Por isso, o Papa Francisco insiste que a Igreja deve ter suas portas sempre abertas: abertas para acolher a todos e abertas para que possamos levar a alegria do Evangelho a todas as pessoas, sobretudo àquelas que estão afastadas. Não podemos fechar a porta da Igreja com normas e leis que nos façam mais parecidos com os discípulos dos fariseus do que com os discípulos de Jesus Cristo. Como o anjo aos pastores, assim devemos ser nós em relação às pessoas que se encontram distantes do contato com a alegria do Evangelho: “Não tenham medo! Eu lhes anuncio uma grande alegria... Hoje... nasceu para vocês um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,10). O Natal não consiste apenas em saber que Jesus nasceu, mas em saber que Ele nasceu para você! Ele nasceu como teu Salvador! E se você quer honrar o nascimento de Jesus, esforce-se por renunciar ao mal, por viver na justiça e na piedade e por esperar pela segunda vinda do “nosso grande Deus e Salvador Jesus” (Tt 2,12-13). Por nós e por todos aqueles a quem devemos anunciar a alegria do Evangelho, clamemos: “Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós!”
           Esta noite é uma noite de alegria “porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho” (Is 9,5). Seu nome é “Conselheiro admirável” – portanto, sigamos os conselhos do seu Evangelho; “Deus forte” – pois o Pai lhe confiou o poder de redimir, de salvar e de dar a vida eterna a todo ser humano (cf. Jo 17,2); “Pai dos tempos futuros” – porque, apesar das lágrimas das nossas perdas, o Senhor nos diz: “... existe uma recompensa para a tua dor... Há uma esperança para o teu futuro” (Jr 31,16-17); “Príncipe da paz” – porque, na sua cruz, ele derrubou o muro da inimizade que separava as pessoas, e veio anunciar a paz a todos, aos que estavam perto e aos que estavam longe (cf. Ef 2,14-18). Que o nosso coração seja como o dos pastores na noite de Natal, um coração pobre, vazio de si, capaz de reconhecer, acolher e adorar Aquele que nasceu para nós como Salvador. 

            FELIZ NATAL!!!
                                              Pe. Paulo Cezar Mazzi

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