quinta-feira, 28 de novembro de 2013

EXISTE UMA RECOMPENSA PELA DOR DA ESPERA

Missa do 1º. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 2,1-5; Romanos 13,11-14a.; Mateus 24,37-44.

     Iniciamos hoje o tempo do Advento. Advento significa “esperar por Aquele que vem”. Por isso, neste momento é importante perguntar-se: o que eu espero, em relação à minha vida? Eu espero por algo? O que eu espero de Deus? Espero algo apenas para esta vida presente, ou espero algo em relação à minha vida futura, isto é, em relação à minha salvação?
     O que é a espera? A espera é a certeza do nosso coração de que existe algo mais, e nenhuma realidade presente pode preencher ou substituir esse algo mais que Deus tem para nos dar. Por outro lado, toda espera é sofrida. Mas o Advento nos diz que há uma recompensa para a dor da espera, há uma esperança para o presente de quem se abre para o futuro de Deus. A questão, portanto, é saber: o que você espera? Qual esperança sustenta a sua vida?
     Muitos desistiram de esperar. Muitos se desencantaram com as promessas de Deus, cederam à tentação de abandonar Aquele que estamos esperando, para irem atrás de algo mais concreto, mais imediato. Muitos estão colocando a esperança da porta para fora de sua vida, ao dizerem “cansei de esperar”: cansei de esperar mudanças em mim, em determinada pessoa, numa determinada situação... Cansei de esperar em Deus... Mas aqui nós precisamos lembrar as palavras do Salmo 25,3: “Os que esperam em ti não ficam envergonhados, ficam envergonhados os que por um nada negam sua fé” (Sl 25,3).
     Apesar do nosso cansaço e de todos os motivos que teríamos para abandonar a esperança, Jesus nos convida a esperar por sua vinda. Mas Ele nos alerta que ela se dará como o dilúvio se deu no tempo de Noé. Nada de extraordinário aconteceu; todos estavam vivendo seu dia a dia absorvidos em suas próprias preocupações. “Eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos...” (Mt 24,39). Não é esse também o retrato da nossa geração? Cada um absorvido no seu próprio mundo, lidando com seus próprios problemas; cada um olhando para a tela do seu celular, do seu tablet, do seu computador, cada um perdido dentro de si mesmo, sem se dar conta do que está acontecendo no mundo à sua volta?  
     É para todos nós que Paulo dirige seu apelo, neste início de Advento: “Já é hora de despertar...” (Rm 13,11). Já é hora de deixarmos de viver dopados, anestesiados, hipnotizados com a tecnologia que cada vez mais nos mergulha no mundo virtual e nos torna ausentes do mundo real. Precisamos ter um comportamento de pessoas destinadas para o encontro com o seu Senhor e Salvador. Tudo aquilo que fizermos – o nosso comer e beber, o nosso trabalhar e descansar, o nosso prazer e distração, o nosso conectar-se ao virtual e ao real – tudo isso seja vivido para glorificar a Deus (cf. 1Cor 10,31) e não para nos afastar de Deus.
     Assim como o dilúvio arrastou a todos, assim a vinda de Jesus diz respeito a todos. Nela, “um será levado e o outro será deixado” (Mt 24,40). “Ser levado” significa ser salvo; “ser deixado” significa perder-se. Portanto, Jesus nos diz: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor... Ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24,42.44). Estar preparado significa viver com o coração voltado para Deus; significa viver na consciência de que, na hora em que menos imaginarmos, seremos convidados a deixar o provisório e abraçar o definitivo. Então, o encontro com o Senhor Jesus será a recompensa pela dor da espera que sofremos.
     A melhor forma de nos prepararmos para o encontro com o Senhor é permitir que a sua Palavra oriente nosso proceder na vida pública e privada, em casa e no trabalho, em relação àquilo que pensamos, sentimos e fazemos. Quando isso acontece, as nossas espadas e lanças – nossas atitudes que ferem, que prejudicam os outros, que causam injustiça e sofrimento em nossa sociedade – são transformadas em arados e foices – em atitudes que promovem a vida por meio da solidariedade, da compaixão, do perdão e da reconciliação (cf. Is 2,4). Quando vivemos nossa vida na espera do encontro com o Senhor, nos damos conta de que não tem mais sentido vivermos armados e fazendo guerra contra tantas pessoas à nossa volta. A nossa verdadeira arma deve ser a fé, assim como a nossa verdadeira guerra consiste em perseverar e não desistir de esperar pelo Senhor.
     Enfim, o tempo do Advento nos faz este convite: “Vinde... deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5). Deixemos com que a luz do Senhor nos mostre um outro horizonte para a nossa vida, e encha o nosso coração de alegria, assim como o coração do vigia se enche de alegria quando chega a aurora de um novo dia. Mas não apenas deixemo-nos guiar pela luz do Senhor; sejamos também portadores dessa luz. Por meio da Novena de Natal – e também das redes sociais – levemos essa luz do Senhor, e a luz que é o próprio Senhor, a tantas casas/famílias/ambientes de trabalho/pessoas que precisam ter sua guerra transformada em paz, seu ressentimento transformado em perdão, seu distanciamento transformado em comunhão, sua tristeza transformada em alegria, seu desespero transformado em esperança. 

                                                                                                                                                             Pe. Paulo Cezar Mazzi
             

     

Nenhum comentário:

Postar um comentário