Missa de finados. Palavra de
Deus: Jó 19,1.23-27a; Filipenses 3,20-21; João 11,17-27.
Existem muitas coisas que
diferenciam as pessoas: a cor da pele, o país onde nasceram, a condição
econômica, o tipo de educação, o tipo de família, a crença – um se declara
desta igreja, outro daquela; um se declara desta religião, outro daquela, um de
diz ateu, outro agnóstico etc. Apesar de tudo aquilo que nos diferencia uns dos
outros, a morte nos iguala a todos, a morte atinge a todos.
Sabemos que todos nós um dia
morreremos. Mas a nossa fé nos faz saber algo mais: “Eu sei que o meu redentor
está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem
destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus” (Jó 19,25-26). A nossa
fé nos permite dizer que temos um Redentor. “É ele quem redime da cova a tua
vida” (Sl 103,4). Ter um Redentor significa que temos Alguém que nos tira da
morte, Alguém que um dia nos fez uma promessa: “Eis que eu vou abrir os vossos
túmulos e vos fazer subir dos vossos túmulos, ó meu povo. Então sabereis que eu
sou o Senhor... Porei o meu espírito dentro de vós e haveis de reviver” (Ez
37,12-14).
Cada um de nós pode dizer
como Jó: ‘O meu Redentor, Aquele que redime a minha vida da cova da morte, Aquele
que me resgata, está vivo. Ele venceu a morte. Por último, depois de tudo, Ele
se levantará sobre o pó da minha miséria, da minha mortalidade. Depois que a
doença ou o próprio envelhecimento tiver destruído a minha pele, na minha
carne, no meu corpo mortal, verei a Deus. O que me espera é o encontro com o Pai;
eu O verei face a face’.
O destino último da nossa
vida são as mãos do Pai, e não o pó da terra. Foi por isso que o próprio Jesus
morreu dizendo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Quem,
diariamente se coloca nas mãos do Pai, não teme a morte, e pode dizer como o
salmista: “O Senhor é minha luz e salvação: de quem terei medo?” (Sl 27,1). A
luz de Deus nos permite contemplar, no grão de trigo que morre na terra, a
espiga que vai brotar (cf. Jo 12,24). Mesmo carregando em nosso corpo os sinais
da morte que um dia nos atingirá, podemos dizer: “Sei que a bondade do Senhor
eu hei de ver na terra dos vivos. Espera no Senhor e tem coragem. Espera no
Senhor!” (Sl 27,13-14).
Mais do que despertar em nós
a consciência da morte, a Palavra do Senhor quer nos lembrar que somos cidadãos
do céu; portanto, nós pertencemos ao céu. “De lá aguardamos o nosso Salvador, o
Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará
semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3,20-21). A ressurreição não é apenas uma
verdade para a nossa alma, mas também para o nosso corpo. Este corpo sujeito à
morte, chamado de “corpo humilhado”, será transformado pelo Senhor Jesus
Cristo, em “corpo glorificado”. É por isso que, quando professamos a nossa fé,
dizemos: “creio na ressurreição da carne e na vida eterna”
Por mais que nós lutemos
pela vida, chega um momento em que a morte sempre parece se impor, pondo fim a
muitos dos nossos sonhos, a muitas das nossas esperanças. Assim aconteceu com a
família de Marta, Maria e Lázaro. Quando Jesus chegou em Betânia, encontrou Lázaro
sepultado há quatro dias. Se o profeta Oséias disse que “no terceiro dia” Deus
faria o seu povo reviver (cf. Os 6,2), passado o terceiro dia, não há nada mais
a esperar. O quarto dia é a imagem da total falta de esperança: nada mais pode
ser feito. O que morreu, morreu definitivamente. Será?
As palavras de Marta a Jesus
– “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo 11,21) –
também estão presentes em nossa vida, em nossos questionamentos. Nós costumamos
pensar que se Deus está presente em nossa vida, o mal não nos atingirá jamais.
No entanto, Jesus, sabendo da doença de Lázaro, permitiu que ele morresse, para
nos lembrar que a sua presença em nossa vida não é para nos poupar de todo e
qualquer tipo de mal, nem para nos impedir que um dia nós morramos, mas para
nos garantir que a morte não é o nosso fim, mas uma porta estreita, pela qual
temos que passar, para chegarmos à verdadeira vida.
“Teu irmão ressuscitará” (Jo
11,23). Hoje, ao visitar cada túmulo ou nos lembrar de todos os nossos parentes
e amigos que faleceram, precisamos ter em nosso coração as palavras de Jesus: ‘Teu
filho ressuscitará... Teu pai ressuscitará... Tua mãe ressuscitará...’ “Eu sou
a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá” (Jo 11,25).
Cremos em Jesus e no poder da sua Ressurreição? A nossa fé no Senhor Jesus, nossa
Ressurreição e nossa Vida, se mostra não apenas na maneira como encaramos a
morte – a nossa e a dos outros – mas também na maneira como vivemos a nossa
vida...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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