Missa de todos os Santos. Palavra de
Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a.
Você tem um ideal na vida? O ideal
funciona como “uma força que nos puxa para cima”, ou que nos “empurra para
frente”, nos ajudando a superar os obstáculos que encontramos no caminho. Alguns
têm como ideal serem o melhor numa determinada profissão. Outros têm como ideal
tornarem-se ricos, pessoas de sucesso. Alguns poucos têm como ideal trabalharem
pela humanidade, tornarem o mundo um lugar melhor. Mas também é verdade que não
são poucas as pessoas que abriram mão dos seus ideais, desacreditaram que a sua
própria vida ou que o mundo em que vivem poderia se tornar melhor. Desistindo
dos seus ideais, elas se jogaram no rio da vida como uma folha seca, e se
deixaram levar pela água.
Embora cada um de nós possa ter o
seu ideal de vida, o nosso ideal como cristãos e como filhos de Deus é a
santidade, e ser santo, sobretudo no mundo de hoje, significa ir contra a
corrente: “O cristão não pode ser uma folha que se joga em um rio e se deixa
levar pela água. É preciso nadar contra a corrente” (Pe. Léo). Ser santo
significa não se permitir ser arrastado pelo fluxo do mundo, pelas tendências
atuais da moda, da onda do momento, mas deixar-se conduzir pelo Espírito Santo
de Deus, ainda que o Espírito Santo nos obrigue a andar na contramão, a nadar
contra a corrente.
Muitos dirão que é impossível tornar-se
santo no mundo em que vivemos. No entanto, o livro do Apocalipse afirma que o
início da nossa santificação se dá na terra, não no céu. É enquanto estão na
terra que os servos de Deus são “marcados na fronte” (Ap 7,3). Os santos são
pessoas que aparentemente não se diferenciam das demais, mas elas trazem em si
“a marca do Deus vivo” (Ap 7,2). Hoje tem se tornado cada vez mais comum as
pessoas se tatuarem. Você se deixa marcar pela santidade do Deus vivo? As
pessoas enxergam em você – especificamente, nas suas atitudes – a marca da
santidade de Deus?
No céu, as pessoas santas são descritas
como pessoas que estão de pé, diante do trono de Deus e de seu Filho, o
Cordeiro, e trajam roupas brancas (cf. Ap 7,9). Mas as roupas brancas delas não
significam que viveram na terra em palácios, em redomas de vidro, protegidas
contra as “sujeiras”, as misérias e as dores do mundo. Pelo contrário, enquanto
estavam na terra, essas pessoas tiveram que lidar com diversas tribulações,
como o sofrimento, a dor, a maldade, a corrupção, a violência, a injustiça que
há no mundo. Assim como Jesus, elas se “sujaram”, se envolveram com a miséria
humana, mas, no momento da morte, “lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do
Cordeiro” (Ap 7,14).
O livro do Apocalipse deixa claro
que não há santificação sem tribulação. Qual é a sua tribulação, neste momento?
Ela é fruto do seu afastamento de Deus, ou da sua fidelidade à vontade de Deus?
Ela é fruto da sua decisão de soltar-se como uma folha e deixar-se levar pelo
rio do mundo, ou é fruto da sua decisão de nadar contra a corrente e deixar-se
conduzir pelo Espírito Santo? Quando a tribulação é consequência da nossa
decisão em caminhar segundo a vontade de Deus, é possível ser feliz mesmo na
tribulação.
Jesus deixa claro no Evangelho que
sem santidade não há felicidade. Para o nosso mundo, a felicidade depende do
consumo (o que você come, bebe, veste, possui); ela depende da beleza, do
triunfo, do dinheiro, do sucesso. No entanto, o alemão Vettel, ao conquistar o
tetra campeonato mundial de fórmula 1 na Índia, disse: “Assim que cruzei a
linha de chegada me deu um vazio”. A felicidade que o mundo nos promete, além
de exigir a eliminação de toda e qualquer tribulação, dura tanto quanto o
efeito de uma droga: passado o efeito, o vazio que sentíamos antes se torna
maior ainda...
Ao mencionar as bem-aventuranças no
Evangelho, Jesus revela que a felicidade que vem de Deus transcende este mundo;
ela não se resume ao aqui e agora. A felicidade nasce da coerência com o nosso
caminho de santidade, um caminho que passa pela pobreza em espírito, o que
significa ter a Deus como nosso único e verdadeiro bem; pelo lidar com a
aflição, com a fome e a sede de justiça, e com a perseguição por causa do
Evangelho; pela atitude de misericórdia, de mansidão e de promoção da paz
diante dos conflitos; enfim, pela pureza de coração, pureza que significa
rejeitar o que não convém à nossa santidade e abraçar o que convém a ela.
Retomemos o nosso ideal de santidade,
espelhando-nos em todos os santos que, passando por inúmeras tribulações,
aprenderam a suportá-las, nadando contra a corrente e deixando-se conduzir pelo
Espírito Santo de Deus.
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