sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A MARCA DO DEUS VIVO

Missa de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a.

Você tem um ideal na vida? O ideal funciona como “uma força que nos puxa para cima”, ou que nos “empurra para frente”, nos ajudando a superar os obstáculos que encontramos no caminho. Alguns têm como ideal serem o melhor numa determinada profissão. Outros têm como ideal tornarem-se ricos, pessoas de sucesso. Alguns poucos têm como ideal trabalharem pela humanidade, tornarem o mundo um lugar melhor. Mas também é verdade que não são poucas as pessoas que abriram mão dos seus ideais, desacreditaram que a sua própria vida ou que o mundo em que vivem poderia se tornar melhor. Desistindo dos seus ideais, elas se jogaram no rio da vida como uma folha seca, e se deixaram levar pela água.
         Embora cada um de nós possa ter o seu ideal de vida, o nosso ideal como cristãos e como filhos de Deus é a santidade, e ser santo, sobretudo no mundo de hoje, significa ir contra a corrente: “O cristão não pode ser uma folha que se joga em um rio e se deixa levar pela água. É preciso nadar contra a corrente” (Pe. Léo). Ser santo significa não se permitir ser arrastado pelo fluxo do mundo, pelas tendências atuais da moda, da onda do momento, mas deixar-se conduzir pelo Espírito Santo de Deus, ainda que o Espírito Santo nos obrigue a andar na contramão, a nadar contra a corrente.
Muitos dirão que é impossível tornar-se santo no mundo em que vivemos. No entanto, o livro do Apocalipse afirma que o início da nossa santificação se dá na terra, não no céu. É enquanto estão na terra que os servos de Deus são “marcados na fronte” (Ap 7,3). Os santos são pessoas que aparentemente não se diferenciam das demais, mas elas trazem em si “a marca do Deus vivo” (Ap 7,2). Hoje tem se tornado cada vez mais comum as pessoas se tatuarem. Você se deixa marcar pela santidade do Deus vivo? As pessoas enxergam em você – especificamente, nas suas atitudes – a marca da santidade de Deus?
No céu, as pessoas santas são descritas como pessoas que estão de pé, diante do trono de Deus e de seu Filho, o Cordeiro, e trajam roupas brancas (cf. Ap 7,9). Mas as roupas brancas delas não significam que viveram na terra em palácios, em redomas de vidro, protegidas contra as “sujeiras”, as misérias e as dores do mundo. Pelo contrário, enquanto estavam na terra, essas pessoas tiveram que lidar com diversas tribulações, como o sofrimento, a dor, a maldade, a corrupção, a violência, a injustiça que há no mundo. Assim como Jesus, elas se “sujaram”, se envolveram com a miséria humana, mas, no momento da morte, “lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14).
         O livro do Apocalipse deixa claro que não há santificação sem tribulação. Qual é a sua tribulação, neste momento? Ela é fruto do seu afastamento de Deus, ou da sua fidelidade à vontade de Deus? Ela é fruto da sua decisão de soltar-se como uma folha e deixar-se levar pelo rio do mundo, ou é fruto da sua decisão de nadar contra a corrente e deixar-se conduzir pelo Espírito Santo? Quando a tribulação é consequência da nossa decisão em caminhar segundo a vontade de Deus, é possível ser feliz mesmo na tribulação.  
       Jesus deixa claro no Evangelho que sem santidade não há felicidade. Para o nosso mundo, a felicidade depende do consumo (o que você come, bebe, veste, possui); ela depende da beleza, do triunfo, do dinheiro, do sucesso. No entanto, o alemão Vettel, ao conquistar o tetra campeonato mundial de fórmula 1 na Índia, disse: “Assim que cruzei a linha de chegada me deu um vazio”. A felicidade que o mundo nos promete, além de exigir a eliminação de toda e qualquer tribulação, dura tanto quanto o efeito de uma droga: passado o efeito, o vazio que sentíamos antes se torna maior ainda...
Ao mencionar as bem-aventuranças no Evangelho, Jesus revela que a felicidade que vem de Deus transcende este mundo; ela não se resume ao aqui e agora. A felicidade nasce da coerência com o nosso caminho de santidade, um caminho que passa pela pobreza em espírito, o que significa ter a Deus como nosso único e verdadeiro bem; pelo lidar com a aflição, com a fome e a sede de justiça, e com a perseguição por causa do Evangelho; pela atitude de misericórdia, de mansidão e de promoção da paz diante dos conflitos; enfim, pela pureza de coração, pureza que significa rejeitar o que não convém à nossa santidade e abraçar o que convém a ela.
Retomemos o nosso ideal de santidade, espelhando-nos em todos os santos que, passando por inúmeras tribulações, aprenderam a suportá-las, nadando contra a corrente e deixando-se conduzir pelo Espírito Santo de Deus. 

                                                               Pe. Paulo Cezar Mazzi

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