Missa do Batismo do Senhor. Palavra de Deus: Isaías
42,1-4.6-7; Atos dos Apóstolos 10,34-38; Mateus 3,13-17.
No
diálogo com Nicodemos, Jesus deixa claro que existem dois nascimentos: um
nascimento “na carne” e um nascimento “no Espírito”. O primeiro nascimento é
fruto da carne, isto é da intervenção humana: um homem e uma mulher se unem
sexualmente e geram “na carne” uma nova vida. Mas, como o próprio Jesus afirma,
“o que nasceu da carne é carne” (Jo 3,6), e a Escritura diz que “a carne e o sangue
não podem herdar o Reino de Deus” (1Cor 15,50). Por isso, é necessário que,
depois de você ter nascido “na carne”, ocorra com você um outro nascimento, o
que Jesus chama de “nascer do alto” (Jo 3,3). Esse nascimento ocorre sem a
intervenção humana, pois é fruto da “força do Alto” (cf. At 1,8), que é o Espírito
de Deus. Só este “nascer do alto” é que nos possibilita entrar em comunhão com
Deus, como afirma Jesus: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar
no Reino de Deus” (Jo 3,5).
Da
mesma forma como ninguém de nós pediu para nascer, mas a vida nos foi ofertada
como um dom, assim a maioria de nós, católicos, não pediu para “nascer da água
e do Espírito”: o Batismo nos foi oferecido como um dom de salvação, um dom
pedido à Igreja pelos nossos pais e padrinhos. Embora algumas pessoas, depois
de adultas, tenham declarado que o batismo que receberam não foi realizado “em
nome delas”, isto é, não foi uma escolha delas, esta celebração do Batismo do
Senhor se apresenta como uma oportunidade de você dizer se é em seu nome que
você aceita viver segundo o batismo que recebeu.
Mas,
o que significa viver segundo o batismo que você recebeu? Embora o batismo nos
torne filhos de Deus, a Escritura diz: “Todos os que são conduzidos pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8,14). A memória do nosso batismo nos
lança um questionamento: Eu vivo como filho(a) de Deus? Eu me deixo conduzir
pelo Espírito de Deus? O profeta Isaías, falando do servo de Deus, descreve
como vive um batizado, alguém que se deixa conduzir pelo Espírito de Deus: é
uma pessoa que “não clama nem levanta a voz” (Is 42,2) – uma pessoa que fala
com mansidão, que não grita, nem agride os outros com suas palavras ou com seu
tom de voz; é uma pessoa que “não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio
que ainda fumega” (Is 42,3) – uma pessoa que enxerga nos outros qualquer sinal
mínimo de bondade, de luz, de possibilidade de mudança, e aposta nessa mudança;
é uma pessoa que “não desanimará nem se deixará abater, enquanto não
estabelecer a justiça na terra” (Is 42,4); alguém que luta e sofre para que o
mundo se torne um lugar mais justo para todos. Enfim, a Escritura revela que
cada um de nós foi batizado em vista de uma missão: tornar-se uma pessoa justa,
ser uma luz para os outros, ajudar a “abrir os olhos aos cegos”, a “tirar os
cativos da prisão” e a “livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (cf. Is
42,7).
Batismo
significa mergulho. Quando Jesus se aproximou de João para ser batizado, João
reagiu: “Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3,14). Mas a
resposta de Jesus a João – resposta que hoje se dirige a cada um de nós – poderia
ser traduzida nessas palavras: “Antes que você mergulhe em mim, na minha vida,
na minha luz, na minha santidade, sou eu quem devo mergulhar na sua morte, na
sua escuridão, no seu pecado”. Só quando Jesus mergulha em nós com a sua graça
é que nos tornamos pessoas justificadas, redimidas, destinadas ao Reino de
Deus.
Hoje, ao renovar as promessas do nosso batismo,
renovamos o nosso propósito de viver como Jesus: andar por toda a parte fazendo
o bem (cf. At 10,38). Renovamos também o nosso compromisso de nos deixar
conduzir pelo Espírito de Deus, o que significa ouvir e obedecer a voz do Pai
em nossa consciência. Após o batismo de Jesus, uma voz veio do céu e declarou:
“Este é o meu filho amado, no qual pus o meu agrado” (Mt 3,17). Como batizados,
ouçamos a voz do Pai; deixemo-nos orientar todos os dias por essa voz, seja na
leitura/meditação da Palavra, seja no silêncio da nossa oração pessoal, seja na
voz do irmão que sofre. Que a nossa presença de batizados junto às outras
pessoas possa ajudá-las a sentirem que o céu está aberto sobre elas e que,
sobre as águas tempestuosas deste mundo em que elas se sentem mergulhadas, há
uma voz dizendo-lhes: “Você é o meu filho amado! Você é a minha filha amada!"
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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