* Missa
do 2º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 49,3.5-6; 1Coríntios 1,1-3; João
1,29-34.
A nossa religião cristã é herdeira da religião
judaica. “Religião” significa “religar” o ser humano com Deus, mas não somente
com Deus: também consigo mesmo (com sua própria verdade), com seu semelhante,
com a natureza (meio ambiente) e com o mundo (âmbito social). No Antigo
Testamento, essa re-ligação era feita da seguinte forma: depois que o ser
humano tomava consciência de que havia quebrado sua comunhão com Deus, por
causa de atitudes erradas (pecado), ele oferecia algum animal em sacrifício. O sangue
daquele animal era apresentado a Deus para pedir o perdão dos pecados, já que o
pecado sempre nos leva para a morte.
Quando João Batista apresenta Jesus
como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, algo totalmente novo é
anunciado à humanidade. A “religião”, a re-ligação do ser humano com Deus não
se assenta mais sobre aquilo que o ser humano sacrifica (oferece) a Deus, mas
sobre o fato de o próprio Deus oferecer seu Filho como Cordeiro, cuja vida foi
vivida como oferta (sacrifício) em favor da salvação de todas as pessoas. Se
Jesus é o Cordeiro de Deus, ele é dom de Deus para nós, mostrando que a
salvação não depende do fato de oferecermos alguma coisa a Deus, mas de acolher
o Filho que o Pai nos ofereceu na manjedoura (Natal), na cruz (Páscoa) e hoje
nos oferece no altar de nossa Igreja (Eucaristia).
Sendo “Cordeiro de Deus”, Jesus é
aquele “que tira o pecado do mundo”. Mas, em que sentido, se o mundo continua
marcado pelo pecado, tanto no âmbito pessoal quanto no social? Diferente do
sangue dos cordeiros do Antigo Testamento, que eram sacrificados sem
consciência, o sangue de Jesus foi derramado de maneira consciente em favor de
cada um de nós. Esse sangue “há de purificar a nossa consciência das obras mortas (atitudes caracterizadas como
pecado) para que prestemos culto ao Deus vivo” (Hb 9,14).
Graças ao sangue de Jesus, derramado
livre e conscientemente em favor de cada um de nós, recuperamos a consciência
de que somos pessoas livres e podemos ter uma outra postura diante da vida,
diante dos acontecimentos, e não precisamos viver como vítimas perante o nosso
passado, o mundo ou a nossa tendência a pecar. O pecado só nos domina enquanto
suas motivações são inconscientes. Na medida em que tomamos consciência dessas
motivações, podemos dar-lhes uma resposta mais acertada, mais madura e,
portanto, libertadora.
Como discípulos do Cordeiro, cada um
de nós pode fazer suas as palavras do salmista: “sacrifício e oblação não
quisestes, mas abristes, Senhor, meus ouvidos... E então eu vos disse: ‘Eis que
venho... com prazer faço a vossa vontade’” (Sl 40,7-9). Assim como Jesus,
oferecemos ao Pai a nossa vontade, a nossa consciência e a nossa liberdade.
Este é, sem dúvida, o verdadeiro sacrifício. É por meio dele que derramamos
nosso suor (nosso sangue), para tornar o mundo à nossa volta livre do pecado.
Assim como Jesus, não fechamos nossos ouvidos, não nos fazemos de surdos diante
dos apelos de Deus, mas tomamos consciência da missão que Ele nos confia no
mundo de hoje: “Ele me preparou desde
o nascimento para ser seu servo, para recuperar...,
para fazer unir-se a ele... Tu és o
meu servo. Eu te farei luz das
nações” (citação livre de Is 49,3.5-6).
* Esta reflexão é uma reedição do 2o. domingo do tempo comum de 2011.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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