Sobre bebês sem cérebro e adultos sem consciência
No dia 12 de abril p.p., o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por 8 votos a 2, que o aborto de fetos com anencefalia deixa de ser crime. Na ocasião, dois dos oito juízes que votaram a favor desse tipo de aborto alegaram que o sofrimento da mãe em gerar um filho que, devido ao problema de anencefalia, viverá apenas algumas horas depois de nascido – embora existam casos em que a criança tenha vivido mais de um ano – é um “sofrimento inútil”.
O que os juízes do Supremo Federal entendem por “sofrimento inútil”? Se uma mãe gera, dá à luz, cria e educa um filho com luta, sacrifício e muito sofrimento, e anos mais tarde esse filho fica doente ou sofre um acidente e vem a morrer, o sofrimento dela foi inútil, porque o filho morreu? O que seria um sofrimento “útil”? Seria somente aquele que nos dá o “resultado” que esperamos?
Pergunte aos pais de filhos com síndrome de down ou que nasceram com alguma deficiência física se eles consideram seus filhos como uma inutilidade; se eles consideram que estão sofrendo inutilmente por gerarem e criarem filhos com alguma limitação. Pergunte a você mesmo(a) como você se sente diante da expressão “sofrimento inútil”.
Com toda certeza, existem sofrimentos que são inúteis, principalmente aqueles que são provocados pela nossa teimosia, por alimentarmos vícios e comportamentos autodestrutivos, por fazermos coisas que sabemos que são injustas e estão erradas. Mas chamar de “sofrimento inútil” o esforço em gerar uma vida que depois, cedo ou tarde, irá morrer – com qual vida não acontece isso? – é assinar um atestado de ignorância sobre o significado do que seja “sofrimento”, bem como sobre o significado do que seja “inútil”.
O que restou de toda a discussão entre os juízes do STF a respeito desse assunto foi a constatação de que “caberá à mãe decidir” se vai abortar ou se vai levar até o fim a gravidez do filho anencéfalo. Caberá à consciência da mãe a decisão sobre o assunto. Como as novas gerações estão se mostrando cada vez mais despreparadas para lidar com o sofrimento, serão pouquíssimos os casos em que não ocorrerá este tipo de aborto.
Para toda pessoa que se considera cristã, vale o alerta da Sagrada Escritura: “Não se conformem com este mundo, mas transformem-se, renovando a mente de vocês, a fim de poderem discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,2). Quando você julgar que determinado sofrimento parece inútil na sua vida, pergunte a Deus, na sua consciência, se Ele também considera tal sofrimento “inútil”.
Se há um problema sério a ser enfrentado em nossa sociedade não são os bebês sendo gerados sem cérebro, mas os adultos fazendo escolhas e tomando decisões sem consciência, sem se perguntarem com sinceridade qual é a vontade de Deus a respeito da decisão que precisam tomar.
Pe. Paulo Cezar Mazzi