sábado, 7 de abril de 2012

VIDA ESCONDIDA

VIDA ESCONDIDA

Missa do domingo de Páscoa – Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34ª.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.

“Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). As coisas que você vê à sua volta fazem você acreditar na ressurreição? Quando você vê inúmeras pessoas doentes, a escalada sempre maior da violência, a maldade das pessoas, o alastramento das drogas em todos os setores da sociedade, a continuidade da corrupção e da impunidade no Brasil, a desorientação de tantos adolescentes e jovens, o desmantelamento das famílias, a degradação do meio ambiente, o descaso com a vida etc, você ainda consegue acreditar na vitória da vida sobre a morte?
“Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). Mas, com certeza você também vê doentes que não se entregam à própria dor; pessoas que, à semelhança de Jesus, escolhem passar pelo mundo fazendo o bem, não se importando se são reconhecidas ou não; pessoas que a cada dia se levantam e dizem: “Por hoje não” – por hoje eu não vou beber, não vou usar drogas; empresários, políticos, pais e mães de família que trabalham honestamente; jovens que estudam e trabalham, construindo seu próprio futuro; famílias que decidem construir suas casas diariamente sobre a rocha do evangelho e não sobre a areia do mundo; pessoas que dedicam parte de seu tempo livre para defender o meio ambiente; pessoas, enfim, que acreditam na força e no valor da vida. 
            “Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). Olhe para a sua própria vida. Que sinais estão presentes nela e sustentam a sua fé na vitória de Cristo sobre a morte? Talvez, como Maria Madalena, Pedro e o outro discípulo, você ainda esteja diante de sinais que misturam morte e vida: túmulo vazio, faixas de linho no chão e um pano enrolado à parte, sinais que você interpreta erroneamente, como Maria Madalena: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2). Talvez alguma coisa muito preciosa tenha sido tirada de você, e por isso você não consegue crer na ressurreição, crer que a vida é mais forte do que a morte.
            Mas o que significa crer na ressurreição? O evangelho do domingo de Páscoa poderia nos colocar diretamente diante de Jesus Ressuscitado (o que será feito nos dois próximos domingos), mas ele nos coloca, primeiro, diante de um túmulo vazio, túmulo que nos lembra que crer na ressurreição não significa crer que não vamos morrer, ou que vamos ser poupados de sofrimento, mas significa crer que vamos vencer a morte e o sofrimento. O nosso sofrer e a nossa morte não são a negação da ressurreição, mas o lugar existencial onde experimentaremos a nossa própria ressurreição (cf. 2Cor 5,2-4).
            Portanto, o dia de Páscoa nos convida a retirar a pedra do túmulo do nosso desânimo, do nosso abatimento, túmulo que representa tantas atitudes nossas por meio das quais nos enterramos vivos, morremos antes da hora, abandonamos os nossos valores, pensando que ficar dentro de um túmulo seja melhor do que sair e enfrentar a vida e correr o risco de sermos machucados.
            O Pai, que ressuscitou seu Filho e lhe concedeu manifestar-se aos discípulos, que comeram e beberam com Jesus após a ressurreição (cf. At 10,40-41), nos convida a nos esforçar por “alcançar as coisas do alto” (Cl 3,1), onde está seu Filho. Isso significa que “as coisas terrestres” são incapazes de responder à nossa sede de sentido e de vida. Justamente por isso, nossa consciência precisa estar voltada para onde se encontra a nossa verdadeira vida.
            Mesmo crendo na ressurreição, a nossa vida continuará a ser uma “vida escondida com Cristo, em Deus” (Cl 3,3). “Vida escondida” significa que, aos olhos do mundo, nós, que cremos na ressurreição, continuamos a ser simples mortais. Mas a nossa fé nos diz que quando Cristo, nossa vida, aparecer em seu triunfo, seremos revestidos de glória, seremos com Ele ressuscitados (cf. Cl 3,4). Portanto, neste dia de Páscoa, cantamos com alegria: “E quando amanhecer o dia eterno, a plena visão, ressurgiremos por crer nesta vida escondida no Pão!”
            Feliz Páscoa!
                                   Pe. Paulo Cezar Mazzi

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