quinta-feira, 12 de abril de 2012

A FERIDA ABERTA DA NOSSA FALTA DE FÉ


A FERIDA ABERTA DA NOSSA FALTA DE FÉ

Missa do 2º. Dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 4,32-35; 1João 5,1-6; João 20,19-31. 

            O evangelho deste segundo domingo da Páscoa nos fala de portas fechadas e de feridas abertas. As nossas portas estão fechadas porque as nossas feridas estão abertas. Nós nos fechamos para evitar que alguma coisa venha (ou continue a) nos ferir. Contudo, o nosso fechamento abre novas feridas, seja nos nossos relacionamentos, seja em nossa sociedade, seja em nossas comunidades de fé.
            De maneira muito diferente viviam os primeiros cristãos: eram “um só coração e uma só alma... Tudo entre eles era posto em comum... Entre eles ninguém passava necessidade... Era distribuído conforme a necessidade de cada um” (At 4,32-35). O que impedia os primeiros cristãos de se fecharem, apesar das feridas que sofriam no mundo em que viviam, era a fé na ressurreição, a fé na verdadeira vida.
            O modo de vida dos primeiros cristãos nos ajuda a compreender que o verdadeiro motivo que nos faz manter as nossas portas fechadas não são as feridas que o mundo ou as pessoas nos causam, mas a nossa falta de fé. Na verdade, a ferida mais profunda e que está mais aberta em nós é a falta de fé. Como Tomé, nós só conseguimos crer naquilo que podemos ver e tocar. Porém, Jesus nos visita neste oitavo dia após a Páscoa, como visitou Tomé e os demais discípulos, para dizer a cada um de nós: “Não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20,27).
           Quando você, por causa das feridas que já sofreu, fecha as portas do seu coração para a fé, se torna uma pessoa vencida. Se a 1ª. Carta de São João diz: “Esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4), deixar a sua fé morrer significa permitir que você se transforme numa pessoa vencida, derrotada. Essa é a ironia do nosso mundo moderno: uma época em que mais e mais pessoas decidem viver sem um vínculo sério e profundo com Deus, por meio de uma comunidade de fé, e essas mesmas pessoas, ao se depararem com problemas, dores e sofrimentos, recorrem a remédios, a drogas e ao desespero, menos à fé.
            Mas o que significa fé? Fé não significa crer numa doutrina, mas numa pessoa: “Quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1Jo 5,5). E o próprio final do evangelho de hoje nos declara porque foi escrito: “(...) para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,31). Uma forma de você alimentar a sua fé, além da sua oração diária, é o contato, também diário, com a Sagrada Escritura, um livro escrito na fé e para a fé daquele que lê. A Escritura nos conduz a Cristo, o Filho de Deus. Somente nele temos a vida, não a vida biológica, mas a verdadeira vida.  
           Neste segundo domingo da Páscoa, apresentamos a Jesus Ressuscitado todas as nossas portas fechadas, fechadas por causa do medo, por causa da nossa falta de fé, não simplesmente por causa das feridas que já sofremos ou que estamos sofrendo. Jesus Ressuscitado pode atravessar essas portas fechadas, chegar até nós e curar a ferida da nossa falta de fé.
           Trazemos para a nossa oração todas as pessoas que se fecharam no individualismo, atitude que tem aberto mais e mais feridas em nossa sociedade, multiplicando os necessitados no meio de nós – atitude oposta à dos primeiros cristãos. Pedimos ainda a Jesus Ressuscitado o dom da sua paz sobre a vida de cada pessoa. A nossa falta de paz também é fruto da nossa falta de fé.
           Num mundo como o nosso, onde se respira medo, insegurança, vazio, falta de sentido, ameaças e violência, precisamos diariamente silenciar, nos colocar na presença do Ressuscitado, e respirar o sopro do seu Espírito sobre nós, Espírito que nos transforma em pessoas portadoras de paz e de fé, comunicando aos outros a verdadeira vida que nos vem pela ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus.     

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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