EU TE FAREI PASSAR
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Páscoa significa passagem. Deus se revelou no Antigo Testamento como Aquele que fez Israel sair da escravidão do Egito, Aquele que fez Israel passar pelo Mar Vermelho a pé enxuto, Aquele que fez Israel entrar na Terra Prometida. Se Israel passou de uma situação de morte para uma situação de vida, não foi por ele mesmo, por sua própria força, nem pelo seu merecimento, mas por pura graça de Deus. Foi Deus quem fez Israel passar da morte para a vida.
A Páscoa que nós celebramos não é mais a do Antigo Testamento, a da libertação de Israel do Egito, mas a Páscoa da nossa libertação em Cristo. Foi o próprio Jesus quem disse: “Em verdade, em verdade, vos digo: quem escuta a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não vem a julgamento, mas passou da morte para a vida” (Jo 5,24). Justamente porque todos os dias nos deparamos com situações de morte, precisamos nos alimentar do Evangelho de Jesus, cuja Palavra nos faz passar da morte para a vida, aquela Palavra que nos convida a sair dos nossos túmulos, como Jesus fez com Lázaro: “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43).
Acolhemos com alegria este Tempo Pascal, que agora viveremos pelos próximos cinquenta dias, tendo no coração essa promessa divina: “Eu te farei passar”. Se temos que atravessar momentos sombrios, podemos dizer com o salmista: “Ainda que eu passe por um vale tenebroso nenhum mal temerei, pois estás (Senhor) junto a mim” (Sl 23,4). Se temos que enfrentar situações onde nos sentimos ameaçados, lembramos a promessa de Deus: “Quando passares pela água, estarei contigo; quando passares por rios, eles não te submergirão. Quando atravessares o fogo, ele não te queimará, a chama não te atingirá... Eu sou o Senhor, o teu Deus... o teu Salvador” (Is 43,2-3).
O Tempo Pascal nos desafia também a fazer uma difícil passagem: a passagem do rancor, da raiva, da mágoa, do ódio, para o amor: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Aquele que não ama permanece na morte” (1Jo 3,14). Todas as vezes que, apesar das dificuldades próprias da convivência humana, você escolhe alimentar em si e nas suas atitudes o amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,7), você experimenta a ressurreição, você faz a Páscoa, você passa da morte para a vida.
Diante da certeza de que Deus, com a força da Sua graça, sempre nos faz passar da escravidão para a liberdade, do pecado para a graça, da angústia para a alegria, da morte para a vida, não podemos nos esquecer de que “é preciso que passemos por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus” (At 14,22).
As tribulações que ainda se fazem presentes em nossa vida e na vida do mundo não podem ser interpretadas como prova de que Cristo não ressuscitou, mas como um lembrete de que a passagem diária da morte para a vida nunca será feita sem dor, sem luta, sem a necessidade de perseverança da nossa parte. Se você passa por momentos de tribulação, segure firme nas mãos do Pai, que fez seu Filho passar da morte para a vida, e confie: Ele te fará passar!
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