sábado, 7 de abril de 2012

Páscoa: sair do próprio túmulo
                                                
            Ressuscitar é romper o próprio túmulo. Aquele que “passou pela vida fazendo o bem” não podia permanecer prisioneiro da morte... Cobrimo-nos de pedras e rodeamos nosso coração de muros. Jesus afastou as pedras e derrubou o muro... Para os que creem em Jesus, a morte não é mais o fim definitivo e terrível, a ausência completa, a saudade sem remédio, a ruptura sem esperança, o desespero total. Em Jesus, a vida não é tirada, mas transformada.
            Mesmo aqui e agora há pessoas encerradas nos próprios túmulos. Pessoas fechadas em si mesmas, em seus interesses, construindo à sua volta um universo de egoísmo e exclusão... Há tanta gente com o coração empoeirado de tédio, de vazio, de falta de sentido. Soterrado ou empoeirado, sufocado ou sem brilho, nosso coração se faz menor, no mediocrizamos e chegamos a achar que o túmulo é normal, que a vida é assim mesmo e não há saída ou remédio, a não ser se conformar.
            Construir Páscoa é não se conformar e ressuscitar todos os dias. Ao invés de fechar-se, Páscoa é comunicar-se. Em tudo há um sentido, um brilho e uma semente de eternidade. Viver a ressurreição de Jesus hoje é deixar-se expandir e transbordar tudo o que é vida dentro de nós.
            É preciso sair do próprio túmulo. Ir removendo uma a uma as pedras que foram soterrando a vida que vive em nós. Deixar que a luz ilumine e dê brilho aos cantinhos mais obscuros e empoeirados da nossa história pessoal e social. Superar nossos medos, reconstruir nossos laços com a esperança.
            Minha Páscoa, nossa Páscoa não pode ser reduzida a um ovo de chocolate (ainda por cima, oco!). Ela se realiza quando o túmulo fica no passado, esquecido e abandonado. Quando o túmulo fica em minha história como o casulo fica na história de uma borboleta, uma fase, um tempo duro e difícil que passou, que foi vencido e superado.
Eduardo Machado, Jornal de Opinião, 02 a 08/04/2012, p.3.

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