Missa do 2º. dom. do avento. Palavra de Deus: Isaías 11,1-10; Romanos 15,4-9; Mateus 3,1-12.
Alguns dados do nosso mundo atual. A
Inteligência Artificial, que chegou com muitas promessas de prosperidade, está
sendo vista por muitos especialistas em economia global como uma bolha que vai
estourar daqui a algum tempo. A história mostra que todo otimismo extremo (IA)
sempre vem seguido por uma depressão extrema (1929). Por isso, o medo voltou a dominar
o mercado financeiro global. Um sinal concreto disso: o preço do ouro está
subindo. O ouro é um refúgio clássico numa época de incertezas.
Atualmente, duas superpotências se
enfrentam: EUA e China. A IA exige uma demanda muito grande de energia.
Enquanto os EUA (“capital” do Ocidente) continuam a apostar no petróleo como
fonte principal de energia, a China investe em energias renováveis, como a
eólica (vento) e a solar. Não há como duvidar de que a China (“capital” do
Oriente) está caminhando para se tornar a maior potência mundial. Uma leitura
importante: “A derrota do Ocidente”, de Emmanuel Todd (tradução somente no
português de Portugal).
A incessante e insana corrida por
acúmulo de riqueza tem como custo o esgotamento dos recursos naturais. Os
mesmos empresários bilionários do mundo, que negam esse esgotamento, estão
construindo bunkers (lugares debaixo da terra) para sobreviverem ao que eles
chamam de “apocalipse”. Mas nós, cristãos, no vivendo no meio das angústias
deste mundo, carregamos nos lábios uma constante oração: “Vem, Senhor Jesus”
(Ap 22,20).
Segundo o profeta Isaías, a vinda de
Cristo provocará uma mudança no interior das pessoas e até mesmo dos animais: “O
lobo e o cordeiro viverão juntos..., o leão comerá palha como o boi; a criança
de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa... Não haverá danos
nem mortes...” (Is 11,6.7.8.9). Dentro de nós há um lobo, um leão, uma cobra
venenosa; há uma pessoa que instintivamente age no sentido de se defender
quando ameaçada. Mas também moram em nós um cordeiro manso, um boi que não se
alimenta de sangue, uma criança capaz de brincar. A nossa saúde física, mental e espiritual depende de
aprendermos a colocar em diálogo o lobo e o cordeiro, o leão e o boi, a criança
e a cobra venenosa que nos habitam.
Se a profecia de Isaías nos parece uma
utopia, um sonho maravilhoso, mas tremendamente irreal, o apóstolo Paulo afirma
que tudo o que foi escrito no passado foi escrito para que, “pelo conforto
espiritual das Escrituras, tenhamos firme esperança” (Rm 15,4). Ora, a
esperança não se assenta sobre aquilo que somos agora, mas sobre aquilo que
podemos vir a ser, na medida em que nos deixamos conduzir pelo Espírito de
Deus. Ele pode nos conceder “a graça da harmonia e da concórdia uns com os
outros” (Rm 15,5). O Natal só é possível de ser celebrado quando nos dispomos à
reconciliação, à reaproximação, a acolher aqueles para os quais temos mantida
fechada a porta do nosso coração.
Nesta segunda
semana do advento, bate à porta da nossa consciência a voz de João Batista,
aquele que veio preparar a primeira vinda de Cristo: “Convertei-vos! (...)
Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!” (Mt 3,2-3). O contrário
da conversão – voltar-se para Deus – é a perversão – andar numa
direção que não é a de Deus, que não conduz para Deus. “Converter-se”, no seu
mais genuíno sentido bíblico, é abandonar os caminhos que nos levam para longe
de Deus (os caminhos do egoísmo, da autossuficiência, do orgulho, da
preocupação com os bens materiais) e voltar para trás, ao encontro de Deus; é tomar
a decisão de viver ao estilo de Jesus, no amor, na partilha, no serviço, no
perdão, no dom de si próprio a Deus e aos irmãos.
Para aqueles que têm a convicção de
estarem caminhando na direção de Deus, vale o alerta de João Batista a alguns
grupos religiosos do seu tempo: “Raça de cobras venenosas... Produzi frutos que
comprovem a vossa conversão” (Mt 3,7-8). Nós nos julgamos ‘filhos de Deus’, mas
muitas vezes nos comportamos como ‘filhos do maligno’, simbolizado biblicamente
pela serpente. Participamos das celebrações da nossa Igreja sem escutar a voz
da nossa consciência e sem a disposição de mudar nossas atitudes.
O que identifica a árvore é o fruto que ela
produz. “Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo” (Mt
3,10). Talvez você já tenha montado sua árvore de Natal. Os enfeites dela apontam para os frutos. Que frutos as pessoas
têm encontrado em você? As suas atitudes têm ajudado a despertar a fé e a
esperança nos outros? Na sua segunda vinda, o
Senhor Jesus virá como Juiz. Julgar, no sentido bíblico, significa separar. “Ele
está com a pá na mão; ele vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas
a palha ele a queimará num fogo que não se apaga” (Mt 3,12). Trigo – imagem bíblica
de uma pessoa que amadureceu como bom fruto; palha – imagem bíblica de uma
pessoa vazia, desprovida de conteúdo. Você está cuidando do seu cultivo
pessoal, para um dia se tornar trigo e não palha?
Algumas tarefas que podemos assumir durante
esta segunda semana do Advento: 1) Colocar em diálogo nosso lobo e nosso
cordeiro; 2) Quem devemos acolher? A quem devemos voltar a abrir a porta ou à
porta de quem precisamos bater, em busca de reconciliação? 3) Nós estamos amadurecendo
como trigo ou como palha?
Pe. Paulo Cezar Mazzi