Missa Maria, Mãe de Deus. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21.
Fim de 2025: mais um ano vivido, e
também um ano a menos em nossa existência terrena. Nossos dias escorrem como
água pelo vão dos nossos dedos: “Pode durar setenta anos nossa vida, os
mais fortes talvez cheguem a oitenta; a maior parte é ilusão e
sofrimento: passam depressa e também nós assim passamos” (Sl 90,10). Ter a
consciência de que temos um ano a menos para viver, em nossa breve existência
neste mundo, deveria nos fazer abandonar as coisas fúteis e inúteis, e
direcionar nossas energias para aquilo que é verdadeiramente essencial. Muitos
de nós já não podem se dar ao luxo de gastar tempo e energia com ilusões que
levam a um constante sofrimento inútil.
Diante da constatação do quanto a nossa
vida corre rápida e o quanto nós perdemos tempo com ilusões e sofrimentos
desnecessários, o salmista pede a Deus: “Ensinai-nos
a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria! Que a bondade
do Senhor e nosso Deus repouse sobre nós e nos conduza! Tornai fecundo, ó
Senhor, nosso trabalho, fazei dar frutos o labor de nossas mãos!” (Sl
90,12.16-17).
Ao encerrarmos o ano de 2025 algumas
perguntas precisam ser respondidas: O que a vida tentou me ensinar neste ano,
mas eu fiz de conta que não era comigo? Em quais momentos eu senti medo, raiva,
tristeza, ou frustração, mas engoli e segui, como se nada tivesse acontecido?
Que situações eu evitei enfrentar, acreditando que elas iriam se resolver
sozinhas? Tudo aquilo de que fugimos em 2025 voltará a nos encontrar em 2026,
em algum momento, porque, ou nós escolhemos ouvir por bem as perguntas que a
vida nos coloca, ou teremos que ouvi-las por mal.
É possível que todos nós desejemos ou
tenhamos nos proposto mudanças neste novo ano. Mas já fizemos isso muitas
outras vezes, e pouca coisa mudou. O problema está na nossa vontade, que é
fraca. Sem uma vontade séria e decidida da nossa parte, nada muda em nós, nem à
nossa volta. Nossa vontade tem que ser treinada, disciplinada. Nenhum hábito
muda sem ser exercitado ao longo de seis meses, no mínimo. E por falar em
hábito, algo que todos nós precisamos nos propor é visualizar menos telas e ler
livros. Eis alguns benefícios da leitura: 1. Ajuda a exercitar a imaginação e
criatividade. 2. Amplia o vocabulário e melhora a escrita. 3. Contribui para a
redução da ansiedade e do estresse. 4. Exercita a memória, aumenta o
conhecimento e previne demência. 5. Promove o relaxamento e melhora a qualidade
do sono.
Na época em que Jesus nasceu, apenas 10%
da população sabia ler. Maria aprendeu a ler a vida por meio dos acontecimentos:
“Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu
coração” (Lc 2,19). Guardar e meditar no coração significa escutar o que a vida
quer nos ensinar; significa entender que os acontecimentos não são fruto do
acaso, mas consequência das nossas atitudes ou da alta delas, e também
intervenções de Deus, que deseja abrir nossa vida para novos caminhos. Contudo,
nada pode ser guardado e meditado no coração quando nossos olhos vivem fixados
nas telas.
Hoje estamos invocando as bênçãos de
Deus para o novo ano: “Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção. Que Deus nos
dê a sua graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós!” (Sl 67,4.6).
Contudo, não podemos esperar as bênçãos do céu para a nossa vida de cada dia
transferindo para as mãos daqueles que nos governam tarefas que são nossa
responsabilidade: “Abençoem... Abençoem e não amaldiçoem. Alegrem-se com os que
se alegram, chorem com os que choram... A ninguém paguem o mal com o mal; seja
a preocupação de vocês fazer o que é bom para todas as pessoas... Não se deixem
vencer pelo mal, mas vençam o mal pelo bem” (Rm 12,14-15.17.21).
Elevemos nossas mãos de filhos para
segurar as mãos do Pai, permitindo que Ele nos conduza em cada dia do ano que
está nascendo: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e ele agirá” (Sl
37,5). Muito mais do que as vozes dos nossos projetos, planos, do nosso medo ou
das nossas preocupações, queremos nos orientar pela voz do Espírito Santo, que
clama em nós: “Abá, ó Pai!” (Gl 4,6). Assim, façamos agora a nossa oração:
Abbá, Papai! Desde criança eu
aprendi que era conduzido(a) por Ti, nesse estranho caminho que é o meu. Jamais
considerei a vida como um peso que eu tenho de levar sozinho(a), pois teu amor
me sustenta e me ampara. Mas confesso que às vezes tenho medo, e esse medo me impede
de fazer a travessia. Continuo a ficar do lado de cá, ao que já me é familiar,
não avançando rumo ao desconhecido, quando somente ali poderia fazer a
experiência de que tu me amparas.
Abbá, Papai! Sei que o que o Senhor
espera de mim não é que eu faça grandes coisas por Ti, mas que eu me atreva a
me entregar confiantemente em tuas mãos, crendo que a tua atitude para comigo
é, radicalmente, positiva. E a firmeza que o Senhor me oferece é um dom que tu
concedes gratuitamente a quem se atreve a confiar em ti em meio às tormentas da
vida. Abençoa-me, Papai, com a verdade do teu amor, e guia meus passos neste
novo ano que se inicia. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!*
Pe. Paulo Cezar Mazzi
*Trechos
de Dolores Aleixandre, Revela-me o teu nome.
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