terça-feira, 23 de dezembro de 2025

A "PALAVRA QUE SE FEZ CARNE" SÓ PODE SER OUVIDA NA SIMPLICIDADE E NO SILÊNCIO

 Missa de Natal. Palavra de Deus (Noite): Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14; (Dia): Isaías 52,7-10; Hebreus 1,1-6; João 1,1-18.

 

 “Eu vos anuncio uma grande alegria (...): Nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). Como você está celebrando este Natal? A notícia do nascimento de Jesus enche seu coração de alegria, ou a tristeza pela enfermidade, pela dificuldade financeira, pela perda de alguém, pelo rompimento de um relacionamento etc., tem sufocado a alegre notícia de saber que, antes de você vir ao mundo e se confrontar com muitas situações tristes, o seu Salvador já havia nascido?

“Nasceu para vós”. Jesus não nasceu para si mesmo, assim como não viveu para si mesmo. Ele nasceu para cada um de nós. Além disso, viveu e morreu em favor da salvação de cada um de nós. Crer que Jesus se tenha feito pessoa humana e entrado na história humana não muda nada na vida de ninguém. O que muda é o fato de crermos que Ele nasceu como Salvador de cada um de nós; nasceu como “a luz da verdade que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). Luz é sinônimo de vida, verdade, direção e orientação. Vivendo dentro da grande desorientação do mundo atual, onde a IA se tornou um instrumento perfeito para se disseminar todo tipo de mentira nas redes sociais, nós seguimos Jesus: Caminho (orientação), Verdade (aquilo que é sólido e digno de confiança) e Vida (sentido e transcendência).

 A simplicidade do nascimento de Jesus – seu primeiro berço foi uma manjedoura, lugar onde os animais comem – é um ótimo questionamento para nós, que nos afastamos de tudo o que é simples e passamos a viver escravos das constantes solicitações da tecnologia e da propaganda de consumo. Como a nossa mente não suporta o excesso de informações (ou seria, na verdade, desinformações?) e o nosso emocional se esgota devido ao excesso de solicitações, a manjedoura de Jesus continua a nos alertar que a doença está no excesso, enquanto que a cura está na simplicidade. Nenhum excesso (comida, bebida, dinheiro, bens, poder, sexo, validação etc.) é capaz de responder à nossa busca mais profunda: a busca pelo sentido da vida.

No dia em que celebramos o nascimento do nosso Salvador precisamos ter a coragem de escutar o nosso coração, com suas angústias e tristezas, suas perguntas ainda sem respostas, seu vazio que não pode ser preenchido com nada que o mundo invente e nos venda com a falsa promessa de felicidade. Aliás, quanto mais presentes uma criança ganha, menos ela os valoriza; quanto menos, mais valorização e cuidado. Justamente porque a celebração do Natal foi corrompida pela indústria e pelo comércio, na sua sede insaciável de vender e lucrar conosco, para muitas pessoas o sentido do Natal passou a depender da quantidade de presentes que ganham.

O verdadeiro sentido do Natal está numa Palavra que se fez pessoa humana e desejou entrar em diálogo conosco: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Jesus, Palavra viva do Pai, se fez pessoa humana para falar ao humano de cada um de nós. Ele se fez “carne” para dialogar com a nossa carne, a qual, no sentido bíblico, significa debilidade, ambiguidade, contradição, miséria, insuficiência, algo sujeito à tentação e ao pecado, aquilo que é chamado a ser (ideal), mas que constantemente se acomoda ao que é (real)... Jesus é verdadeiramente a Palavra viva do Pai para falar à nossa carne, e essa Palavra só pode curar, perdoar, libertar, ressuscitar e transformar aquele que faz silêncio para ouvi-La; aquele que, em meio às inúmeras solicitações por atenção, toma a decisão de ouvi-La!            

            “Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está voltado para o seio do Pai, este nos deu a conhecê-Lo” (Jo 1,18). O Filho nasceu para nos libertar de toda compreensão doentia ou deformada que tínhamos do Pai. Portanto, só podemos conhecer o Deus único e verdadeiro ouvindo o Filho, a quem o Pai concedeu o poder sobre toda carne, ou seja, sobre todo ser humano. Mas qual poder? O poder de nos dar a vida eterna. “Ora, a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,2-3).

Que você tenha um Natal habitado pelo silêncio e pela simplicidade de coração, para permitir ao Filho pronunciar sobre a sua carne a Palavra da Verdade, e lhe introduzir na intimidade amorosa, curativa e libertadora do Pai.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

 

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