Missa da Epifania do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.
No coração de todo ser humano, no mais íntimo
de cada um de nós, existe uma súplica: “É tua face, Senhor, que eu procuro. Não
escondas de mim a tua face” (Sl 27,8-9). A nossa busca por Deus é a nossa busca
por sentido. Não nos basta apenas existir; nós precisamos de uma razão para
existir, e somente Deus pode responder à nossa busca por sentido de vida.
A procura dos magos do Oriente pelo
menino Jesus nos fala do quão sofrida às vezes se torna a nossa busca por Deus,
pois a Escritura diz: “Tu és o Deus escondido” (Is 45,15). O Deus a quem o
nosso coração busca é “escondido” porque mora dentro de nós, e não fora, como
afirmou Santo Agostinho: “Eu
era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava. Mas
Tu me deixaste conhecer-Te. Eis que estavas dentro e eu fora! Estavas comigo e
não eu Contigo”.
Apesar de não termos um contato direto e
imediato com Deus, o autor da carta aos Hebreus afirma que “quem se aproxima de
Deus (quem procura por Deus) deve crer que Ele existe e recompensa aqueles que
o procuram” (Hb 11,6). Os magos deixam isso claro: existe uma recompensa para
quem busca Deus, para quem se desacomoda e se põe a percorrer o sofrido caminho
da fé, atravessando noites escuras, suportando perguntas angustiantes em sua
alma, até que possa encontrar-se com Aquele que é a verdade. Sim; a busca por
Deus é a busca pela verdade. Por isso, só pode encontrar Deus quem O procura de
coração sincero (cf. Sl 145,18).
A alegria dos magos, ao encontrarem Jesus, nos
recorda a maneira como Deus se expressa no Antigo Testamento: “Deixei-me
encontrar por aqueles que não perguntavam por mim. Deixei-me encontrar por
aqueles que não me procuravam. A uma nação que não invocava o meu nome eu
disse: ‘Aqui estou, aqui estou!’” (Is 65,1). Essas palavras se referem aos
povos pagãos, povos representados aqui no Evangelho pelos magos do Oriente.
Quantas pessoas, que nós jamais imaginaríamos que estivessem abertas a Deus,
foram alcançadas pela graça d’Ele e se abriram à Sua verdade?
Se hoje somos chamados a nos alegrar pela
oferta da salvação de Deus em Seu Filho Jesus, acolhida com alegria pelos povos
pagãos, precisamos também considerar o perigo do nosso fechamento a Deus: “Estendi
as mãos todos os dias a um povo desobediente, que andava por caminho mau,
seguindo seus próprios caprichos” (Is 65,2). Deus estende Suas mãos todos os
dias, para salvar o ser humano, mas muitos não se dão ao trabalho de estender
suas próprias mãos para segurar as mãos de Deus. Muitos até gostariam de ter um
encontro íntimo e transformador com Deus, mas não se dispõem a sair do seu
comodismo, da sua preguiça espiritual. Como uma geração como a atual, preguiçosa
e acomodada, vai se dispor a buscar Deus?
Foi graças à luz de uma estrela que os magos do
Oriente puderam encontrar Jesus. A luz dessa estrela nos recorda a palavra de
Jesus: “Vós sois a luz do mundo... Brilhe a vossa luz diante das pessoas, para
que elas vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos
céus” (Mt 5,14.16). Como cristãos, somos chamados a fazer brilhar a luz das
nossas boas obras, isto é, do nosso esforço diário em nos comportar como Jesus
se comportou, lembrando sempre que o brilho da nossa luz deve glorificar o Pai
e não a nós mesmos.
Assim que encontraram o Menino Jesus, os
magos se ajoelharam e o adoraram. Adorar significa respeitar Deus; colocar-nos
humildemente diante da Sua presença misteriosa; não nos apropriarmos d’Ele como
se fosse um objeto sagrado que pudéssemos usar a nosso favor. Adorar significa
buscar a Deus por quem ele é, e não porque necessitamos d’Ele. Significa também
jogar fora os nossos ídolos, nossas falsas seguranças, e reconhecer que a nossa
cura, a nossa salvação não vem de nós mesmos, mas do Deus vivo e verdadeiro. Adorar
significa ainda nos desarmar, substituindo o medo pela confiança, permitindo
que Deus possa tomar posse de nós e nos inundar com a Sua graça, que tudo
transforma.
Diante de Jesus, o verdadeiro presente de Deus
para a humanidade, os magos “abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes:
ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11). Que o Pai nos ensine a enxergar em cada ser
humano o ouro da sua dignidade e da sua unicidade, o incenso do sagrado que
carrega em si como Seu filho amado e a mirra da sua fragilidade, espaço por
meio do qual a força do Pai se manifesta como amor que redime, como bálsamo que
alivia a dor e como convite ao amadurecimento e à superação dos seus
obstáculos.
Oração: Meu Deus, eu procuro a Tua
face. Tu és o Deus escondido, o Deus que eu não posso manipular e usar segundo
os meus caprichos. Quero respeitar o Teu mistério, a Tua transcendência, o Teu
sagrado. Eu creio que o Senhor sempre se deixa encontrar por quem O procura de
coração sincero, e que o Senhor nunca deixa sem resposta quem pergunta por Ti. Acolho
a luz do Teu Filho! Ele é o presente que o Senhor oferece a toda a humanidade. Concede-me
a graça de, ao longo deste novo ano, enxergar em cada ser humano o ouro da sua
dignidade, o incenso do sagrado que carrega em si como Seu filho amado e a
mirra da sua fragilidade. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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