Festa da Apresentação do Senhor. Palavra de Deus: Malaquias 3,1-4; Hebreus 2,14-18; Lucas 2,22-32.
Nossa celebração se iniciou hoje com o
acendimento das velas, porque Jesus, ao ser apresentado no Templo, é
reconhecido como “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32). A vela que cada um de
nós carrega consigo nos recorda também a missão que somos: “Eu te estabeleci
como luz das nações, a fim de que a minha salvação chegue até as extremidades da
terra” (Is 49,6). Onde quer que a vida nos coloque ali se encontra a nossa
missão de ser a presença salvífica de Deus para as pessoas que convivem
conosco.
A luz da vela também nos recorda que
Jesus “é como o fogo da forja” (Ml 3,2), ou seja, fogo que transforma. Mas não
só; Ele é também fogo que purifica a prata (cf. Ml 3,3). Quando o ourives expõe
a prata ao fogo para ser purificada, ele a mantém exposta ao fogo até que seu
rosto seja refletido nela. Do mesmo modo, o fogo das provações tem como
objetivo nos tornar semelhantes a Jesus Cristo, cuja vida foi uma oferenda ao
Pai pela salvação da humanidade.
De fato, quando os pais de Jesus o “apresentam”
ao Senhor, estão “oferecendo-o” para o serviço de Deus, a exemplo de Ana, mãe
de Samuel: “Eu o dedico ao Senhor por todos os dias que viver” (1Sm 1,28). Apresentar,
oferecer, dedicar o filho a Deus significa ter consciência de que ele pertence
a Deus e nasceu para cumprir um desígnio de Deus, e não para satisfazer as
expectativas dos próprios pais, muito menos para ser uma mera engrenagem para
manter a máquina do mercado funcionando. Neste sentido, cada um de nós precisa
se perguntar ao quê tem dedicado a sua vida, a sua existência: se às ilusões
deste mundo, se às cobranças do mercado ou se à missão para a qual nasceu.
Embora a “apresentação” de Jesus no
Templo não tenha a ver com o sacramento do Batismo, a festa de hoje deve
questionar a ausência das crianças na vida da Igreja. É cada vez maior o número
de crianças que não são mais trazidas ao Sacramento do Batismo, sobretudo
porque a maioria das famílias está em situação irregular perante as normas da
Igreja. A ação pastoral da nossa Igreja ainda não teve a coragem de abraçar o
convite do Papa Francisco: “Todos podem participar de alguma forma na vida
eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos
sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale, sobretudo,
quando se trata daquele sacramento que é a ‘porta’: o Batismo” (EG, n.47).
Neste ano do Jubileu, onde a esperança
precisa ser renovada no coração de cada um de nós, da Igreja e da humanidade,
olhamos para o velho Simeão, descrito no Evangelho de hoje como um homem que “esperava
a consolação do povo Israel” (Lc 2,25). Só espera a consolação quem está
vivendo uma situação de desolação. Além das desolações externas – guerra, violência,
injustiça, dificuldade financeira, doenças etc. – todos nós experimentamos na
vida momentos de desolação espiritual, quando Deus parece ter se ausentado da
nossa existência. Ora, é na desolação que devemos intensificar a nossa vida de
oração e fortalecer a nossa esperança em Deus. “Que o Deus da esperança vos
cumule de alegria e paz em vossa fé, a fim de que pela ação do Espírito Santo a
vossa esperança transborde” (Rm 15,13).
Esperando pela consolação do povo de Israel,
o velho Simeão foi conduzido ao Templo “movido pelo Espírito” (Lc 2,27). Hoje
pedimos que o Espírito Santo, nosso Consolador, mova os idosos na direção da fé
e da esperança, para que cada um deles, antes de deixar este mundo, possa rezar
como Simeão: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo
partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação” (Lc 2,29-30). Quanto
mais a luz da visão biológica se apaga nos olhos das pessoas idosas, que brilhe
mais ainda a luz da fé e da esperança em seus corações, na certeza de poderem
contemplar face a face o rosto resplandecente do Ressuscitado.
A carta aos Hebreus nos recorda hoje que
Jesus foi apresentado no Templo em nosso favor: “Visto que os filhos têm em
comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição” (Hb 2,14).
Se a nossa condição humana é marcada por inconstância, fragilidade e
infidelidade, Jesus abraçou tudo isso em seu corpo, chegando inclusive a sofrer
as mesmas tentações que sofremos: “Tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é
capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação” (Hb 2,18). Quando o mal nos
assedia, tentando enfraquecer a nossa fé e esvaziar as razões da nossa
esperança, podemos contar com a intercessão de Jesus diante do Pai em nosso
favor e, por isso, dizer como o apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me
fortalece” (Fl 4,13).
Uma última palavra a respeito da Festa
da Apresentação do Senhor: “Com que me apresentarei ao Senhor?”. O profeta
Miquéias responde: “Foi-te anunciado, ó homem, o que é bom e o que Deus exige
de ti: nada mais do que praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar humildemente
com teu Deus!” (Mq 6,8).
Pe. Paulo Cezar Mazzi