Missa de Pentecostes. Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João 20,19-23.
No dia de Pentecostes, Deus derramou
sobre os apóstolos o dom do Espírito Santo. Mas esse dom não está reservado
somente para o dia de Pentecostes. O próprio Jesus, ao ensinar a oração do Pai Nosso,
disse que o Pai nos dará o Espírito Santo sempre que o pedirmos (cf. Lc 11,13).
Pedir o dom do Espírito Santo é tão necessário quanto pedir o pão nosso de cada
dia! Só Ele pode transformar em nossa vida aquilo que não podemos por nós
mesmos. Como ensina a oração da Igreja, é o Espírito Santo quem dá repouso ao
cansado, levanta o que caiu, aquece o que está frio, cura o que está ferido,
encoraja o que está paralisado pelo medo, fortalece o que se sente fraco,
ressuscita o que está morto, reúne o que está disperso, santifica o que está
marcado pelo pecado, lava o que está sujo, endireita o que está torto...
A palavra “Pentecostes” está ligada ao
número “cinquenta”, e cinquenta significa “plenitude”. O Espírito Santo sempre
parte de onde nós estamos, daquilo que somos, para nos levar aonde Deus quer
que estejamos, para nos conduzir à nossa plenitude como pessoas e filhos de
Seus. Porém, essa plenitude só é alcançada quando aceitamos que o Espírito de
Deus nos exponha a provações, desafios e dificuldades que irão nos conduzir à
verdade plena, pois ele é o Espírito da Verdade (cf. Jo 16,13).
O Espírito Santo foi descrito no evento
de Pentecostes por meio das imagens do vento
e das línguas de fogo (cf. At 2,2-3).
Enquanto vento de Deus, o Espírito Santo nos sacode fortemente com o Seu vento
para nos despertar, para nos desacomodar, para nos impulsionar a enfrentar os
desafios ao invés de fugirmos deles. O nosso grande desafio é acolher o vento
do Espírito, que “sopra onde quer” (Jo 3,8) e nos leva para onde devemos ir,
não para onde gostaríamos de ir, como disse o apóstolo Paulo: “Agora,
acorrentado pelo Espírito, dirijo-me a Jerusalém, sem saber o que lá me sucederá.
Senão que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me adverte dizendo que me
aguardam cadeias e tribulações” (At 20,22-23). Se queremos experimentar a força transformadora do Espírito Santo,
precisamos nos deixar “agarrar” por Ele e aceitar que Ele nos conduza para onde
Ele quer, da forma como Ele quer.
E as línguas de fogo? As línguas
favorecem nossa comunicação. Quando as línguas de fogo desceram sobre os
apóstolos, eles começaram a falar de Deus de modo que todas as pessoas,
independente da sua nacionalidade, podiam entender (cf. At 2,4.6.8.11). Diante
da “Torre de Babel” em que às vezes se transforma a nossa casa, o nosso
ambiente de trabalho, a nossa comunidade de fé, o nosso relacionamento com os
outros – sabendo que essa confusão nos divide e nos impede de construir
qualquer coisa juntos (cf. Gn 11,7.9) – precisamos silenciar, acolher e
obedecer à voz do Espírito, que sempre se manifesta a cada um em vista do bem
comum, em vista de restaurar a unidade do Corpo, lembrando a oração da Igreja:
“Vosso Espírito Santo move os corações, de modo que os inimigos voltem à
amizade, os adversários se deem as mãos e os povos procurem reencontrar a paz”
(Oração sobre a Reconciliação II). Toda pessoa que age movida pelo Espírito
Santo, trabalha pela unidade e pela comunhão, jamais pela divisão ou separação
dentro da Igreja (cf. 1Cor 12,4-6.12-13).
As línguas que desceram sobre os apóstolos
eram “línguas como que de fogo”. Esse fogo aponta para a força transformadora
do Espírito Santo em nós. O fogo endurece o barro (firmeza), purifica o metal
(santidade) e funde o ferro (transformação). Precisamos que o Espírito Santo
nos torne firmes, pois não recebemos um espírito de medo, mas de força (cf. 2Tm
1,7); que o Seu fogo queime nossas impurezas e nos torne uma oferenda santa
para o Senhor; que Ele realize a grande transformação que Deus prometeu: “Eu darei a vocês um coração
novo... Porei no íntimo de vocês o meu espírito... Porei o meu espírito em
vocês e vocês viverão” (Ez 36,26.27; 37,6). Todos nós precisamos passar por uma
profunda transformação, por uma reforma, por uma modificação. Mas isso só é possível
por meio do Espírito Santo: “Não pela força, não pelo poder, mas por meu
espírito, diz o Senhor” (Zc 4,6).
Em muitos de nós há um medo inconsciente a respeito
do Espírito Santo. Temos medo do que Ele possa fazer conosco e em nós; temos
medo da Sua profundidade e de que Ele nos leve ao profundo de nós mesmos; temos
medo de para onde Ele possa nos conduzir; temos medo da Sua liberdade, pois Ele
sopra onde quer; temos medo porque não podemos controlar o Espírito... Quando
esses medos forem reconhecidos e superados, quando pararmos de resistir ao
Espírito Santo, quando tivermos a coragem de nos lançar nos Seus braços e de
nos abrir à Sua graça, quando permitirmos que Ele penetre em nossas profundezas
e toque nas nossas raízes mais profundas, então começaremos a nos tornar homens
e mulheres novos, renovados, transformados...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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