sábado, 19 de abril de 2025

A RESSURREIÇÃO NOS HABITA COMO A VIDA DE UMA ÁRVORE ESCONDIDA DENTRO DE UMA SEMENTE

 Missa da Páscoa do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.

          “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa fé” (1Cor 15,14). Dizendo de outra forma, se Cristo não tivesse ressuscitado, nós não teríamos razão alguma para crer em Deus; nossas perguntas não teriam resposta, nossas feridas não teriam cura, nossa fome e sede de justiça jamais seriam saciadas e nós nunca mais nos encontraríamos com os nossos entes queridos que já partiram desta vida terrena. Toda a nossa fé se sustenta unicamente no fato de que Cristo ressuscitou. Essa fé, por sua vez, tem como fundamento o testemunho dos apóstolos: “Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (At 10,40-41).

Mas Jesus ressuscitou para que? “Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14,9). Isso significa que Cristo é o Senhor de tudo o que em nós ainda está vivo e também de tudo o que já morreu em nós. Além disso, devemos saber que, “quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,8). Não pertencemos à morte; não pertencemos a este mundo, no qual sofremos muitas tribulações, mas pertencemos àquele que venceu este mundo!  

Eis a razão pela qual nós hoje cantamos com o salmista: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 118,24). Jesus ressuscitou para que, não obstante as dificuldades que temos que enfrentar nesta vida terrena, nos alegremos e exultemos porque Ele, o Ressuscitado, está agora diante da face do Pai, dia e noite, intercedendo por nós (cf. Hb 9,24). “Este é o dia que o Senhor fez para nós” (Sl 118,24), dia que durará cinquenta dias, porque inaugura na Igreja o Tempo Pascal, o qual se encerrará com a festa de Pentecostes, Tempo no qual o Ressuscitado aparecerá aos seus discípulos, comprovando a sua ressurreição, e os preparará para receber o dom do Espírito Santo, garantia da nossa futura ressurreição (cf. Ef 1,13-14; 4,30; Rm 8,11).

Como somos chamados a viver neste Tempo Pascal? “Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres” (Cl 3,1-2). Sempre precisamos estar cientes de que vivemos num mundo que não olha para o alto, que reduz a fé em Deus a uma busca de felicidade somente aqui e agora, um mundo que não crê na recompensa por uma vida justa (cf. Sb 2,22). Mergulhados na luta pela sobrevivência e afastados da realidade social por meio da indústria da distração (canais de streaming, mundo digital e realidade virtual), nós facilmente perdemos o foco e esquecemos a meta a qual fomos chamados: aspirar às coisas celestes, desejar o céu, viver como cidadãos do céu e não como pessoas mundanas e terrenas.

Se é verdade que cada vez mais pessoas deixam de crer em Deus, em seu Filho ressuscitado e na Igreja, é porque muitos de nós, cristãos, vivemos como pagãos, buscando somente o que é terreno. E se nós mesmos não sentimos a presença do Ressuscitado junto a nós, esquecendo a sua promessa: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20), é porque também nos esquecemos de que a nossa vida de homens e mulheres destinados à ressurreição “está escondida com Cristo, em Deus” (Cl 3,3). O Espírito Santo, garantia da nossa ressurreição, habita em nós como a vida de uma árvore habita escondida dentro de uma semente. Não é apenas o mundo que não enxerga a ressurreição em nós; nós mesmos não a vemos, e muitas vezes não a sentimos pulsar dentro de nós. E isso acontece porque ainda não aceitamos esta verdade: “Não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem; pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (2Cor 4,18). Só pode sentir a promessa da ressurreição em sua vida quem sabe que “caminhamos pela fé e não pela visão” (2Cor 5,7).

            O Evangelho nos indica o primeiro sinal da ressurreição de Jesus: o túmulo vazio. Ele está vazio porque Jesus derrotou a morte. Na verdade, a morte de Jesus esvaziou todos os túmulos, como ele mesmo afirma: “Eu sou o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho comigo as chaves da morte e da região dos mortos” (citação livre de Ap 1,18). Neste Tempo Pascal, somos chamados a deixar Jesus esvaziar os nossos túmulos, a devolver vida ao que deixamos que morresse em nós, a amar a nossa vida escondida ao invés de sofrermos a angústia de não sermos reconhecidos pelo mundo, a deixar a Palavra do Ressuscitado aquecer o nosso coração (cf. Lc 24,32) devolvendo-lhe a chama da fé, e a comungar a sua presença real na Eucaristia, para que nossos olhos se abram (cf. Lc 24,31) e possamos dizer, como os apóstolos: “Verdadeiramente o Senhor ressuscitou!” (Lc 24,34).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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