Missa do 6º dom. Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 15,1-2.22-29; Apocalipse 21,10-14.22-23; João 14,23-29.
“Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo
14,23). Onde Deus mora? Normalmente, nós vamos a um templo, a uma igreja, para nos
encontrar com Deus. Jesus nos surpreende ao revelar que o Deus que é amor mora
num coração que ama – mais do que isso, num coração que não desiste de amar. Se
muitas pessoas se relacionam com Deus movidas por alguma necessidade ou por
medo de que, sem Ele, tudo desabe, Jesus nos convida a nos relacionar com ele e
com o Pai movidos pelo amor. Este é o grande desafio da nossa vida de fé:
caminhar com o Pai e com o Filho não porque precisamos de algo que eles nos
deem, mas porque eles nos amam e nós queremos viver nesse amor.
Já no Antigo Testamento Deus havia
deixado claro: “É amor que eu quero, não sacrifícios” (Os 6,6). Qualquer
sacrifício que desejemos oferecer a Deus, se não nos levar a amar, de nada
vale. Jesus explica que amá-lo consiste concretamente em guardar a sua palavra,
o que significa viver segundo o mandamento do amor: “Como eu vos amei, assim
também deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34). Como é o nosso
relacionamento com Jesus? Quem ama deseja estar junto do amado. Nós reservamos
um tempo diário para estar com Jesus, na oração? Se é verdade que Jesus está
presente de modo mais concreto naqueles que não são amados neste mundo, nós
procuramos amar essas pessoas?
Estamos caminhando para o final do tempo
da Páscoa, o qual se encerrará com a festa de Pentecostes. Por isso, Jesus nos
fala da vinda do Espírito Santo: “O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai
enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos
tenho dito” (Jo 14,26). Do quê nós precisamos ser defendidos? Não só do
espírito do mal que age no mundo, mas também do nosso pecado, das nossas
infidelidades. Precisamos ser defendidos de nós mesmos, da nossa preguiça
espiritual, do comodismo, de uma vida fechada em si mesma e, por isso,
indiferente às necessidades do próximo e da nossa própria Igreja. Precisamos
ser defendidos do nosso medo e da nossa covardia perante os desafios que a vida
nos chama a enfrentar. Sobretudo, precisamos ser defendidos das mentiras e das
desinformações que as redes sociais despejam sobre nós todos os dias, recorrendo
ao Defensor, que também é chamado por Jesus de “Espírito da Verdade” (Jo
15,26).
Ao anunciar a sua volta para o Pai,
Jesus nos deixa a sua paz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou
como o mundo” (Jo 14,27). O mundo não tem paz alguma para nos dar; muito pelo
contrário. Já a paz que Jesus nos dá nasce da sua absoluta confiança no Pai. Ele
quer que vivamos dessa confiança: “O Pai é maior do que eu” (Jo 14,28). O Pai é
maior do que tudo o que nos acontece. O Pai é maior inclusive do que o nosso
próprio coração, quando nos acusa de alguma falha: “Deus é maior que o nosso
coração e conhece todas as coisas” (1Jo 3,20). Ainda a respeito da paz que
Jesus nos dá, devemos recordar das palavras de São Francisco de Assis: “Se algo
rouba a paz do teu coração, é porque ocupou o lugar de Deus”.
Por fim, Jesus nos dá um conselho: “Não
se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,28). A perturbação nasce da
falta de confiança no Pai. Ela também tem como fonte perder-se nas urgências e
não cuidar do essencial. Já o coração intimidado é um coração retraído diante
da existência; um coração que, ao invés de se deixar conduzir pela força do
Espírito Santo, se deixa dominar pela própria covardia frente aos desafios da
vida. Se queremos superar essa intimidação diante da realidade, devemos nos
recordar do conselho do Papa Francisco: “Importa cuidar do trigo e não perder a
paz por causa do joio” (EG n.24). Trata-se de manter o foco e concentrar nossas
energias no bem que podemos fazer, e não desperdiçar energia tentando anular o
mal que existe no mundo.
Na medida em que nos preparamos para a festa de Pentecostes, recordemos esses quatro pontos do Evangelho: 1. Pautar o nosso relacionamento com o Pai e com o Filho pelo amor, e não pelo medo, muito menos pelo interesse; 2. Obedecer à voz do Defensor em nossa consciência e não cair no erro de, enquanto com uma das mãos pedimos a sua ajuda, com a outra nos mantemos presos ao nosso pecado de estimação; 3. Amar e promover a paz, lembrando de que ela só nos habita quando estamos na vontade de Deus – sempre que nos afastamos dessa vontade, perdemos a paz; 4. Não se perturbar nem se intimidar perante os desafios que a vida nos apresenta, mas aprender a confiar a Deus as nossas preocupações e nos manter firmes em nosso propósito, sabendo que “o vento pode soprar o quanto quiser; a montanha jamais se curva diante dele” (provérbio chinês).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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