quinta-feira, 22 de maio de 2025

NÃO SE INTIMIDE PERANTE OS DESAFIOS QUE A VIDA LHE APRESENTA

 Missa do 6º dom. Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 15,1-2.22-29; Apocalipse 21,10-14.22-23; João 14,23-29.

 

“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). Onde Deus mora? Normalmente, nós vamos a um templo, a uma igreja, para nos encontrar com Deus. Jesus nos surpreende ao revelar que o Deus que é amor mora num coração que ama – mais do que isso, num coração que não desiste de amar. Se muitas pessoas se relacionam com Deus movidas por alguma necessidade ou por medo de que, sem Ele, tudo desabe, Jesus nos convida a nos relacionar com ele e com o Pai movidos pelo amor. Este é o grande desafio da nossa vida de fé: caminhar com o Pai e com o Filho não porque precisamos de algo que eles nos deem, mas porque eles nos amam e nós queremos viver nesse amor.

Já no Antigo Testamento Deus havia deixado claro: “É amor que eu quero, não sacrifícios” (Os 6,6). Qualquer sacrifício que desejemos oferecer a Deus, se não nos levar a amar, de nada vale. Jesus explica que amá-lo consiste concretamente em guardar a sua palavra, o que significa viver segundo o mandamento do amor: “Como eu vos amei, assim também deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34). Como é o nosso relacionamento com Jesus? Quem ama deseja estar junto do amado. Nós reservamos um tempo diário para estar com Jesus, na oração? Se é verdade que Jesus está presente de modo mais concreto naqueles que não são amados neste mundo, nós procuramos amar essas pessoas?       

Estamos caminhando para o final do tempo da Páscoa, o qual se encerrará com a festa de Pentecostes. Por isso, Jesus nos fala da vinda do Espírito Santo: “O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26). Do quê nós precisamos ser defendidos? Não só do espírito do mal que age no mundo, mas também do nosso pecado, das nossas infidelidades. Precisamos ser defendidos de nós mesmos, da nossa preguiça espiritual, do comodismo, de uma vida fechada em si mesma e, por isso, indiferente às necessidades do próximo e da nossa própria Igreja. Precisamos ser defendidos do nosso medo e da nossa covardia perante os desafios que a vida nos chama a enfrentar. Sobretudo, precisamos ser defendidos das mentiras e das desinformações que as redes sociais despejam sobre nós todos os dias, recorrendo ao Defensor, que também é chamado por Jesus de “Espírito da Verdade” (Jo 15,26).

Ao anunciar a sua volta para o Pai, Jesus nos deixa a sua paz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo” (Jo 14,27). O mundo não tem paz alguma para nos dar; muito pelo contrário. Já a paz que Jesus nos dá nasce da sua absoluta confiança no Pai. Ele quer que vivamos dessa confiança: “O Pai é maior do que eu” (Jo 14,28). O Pai é maior do que tudo o que nos acontece. O Pai é maior inclusive do que o nosso próprio coração, quando nos acusa de alguma falha: “Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas” (1Jo 3,20). Ainda a respeito da paz que Jesus nos dá, devemos recordar das palavras de São Francisco de Assis: “Se algo rouba a paz do teu coração, é porque ocupou o lugar de Deus”.

Por fim, Jesus nos dá um conselho: “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,28). A perturbação nasce da falta de confiança no Pai. Ela também tem como fonte perder-se nas urgências e não cuidar do essencial. Já o coração intimidado é um coração retraído diante da existência; um coração que, ao invés de se deixar conduzir pela força do Espírito Santo, se deixa dominar pela própria covardia frente aos desafios da vida. Se queremos superar essa intimidação diante da realidade, devemos nos recordar do conselho do Papa Francisco: “Importa cuidar do trigo e não perder a paz por causa do joio” (EG n.24). Trata-se de manter o foco e concentrar nossas energias no bem que podemos fazer, e não desperdiçar energia tentando anular o mal que existe no mundo.

Na medida em que nos preparamos para a festa de Pentecostes, recordemos esses quatro pontos do Evangelho: 1. Pautar o nosso relacionamento com o Pai e com o Filho pelo amor, e não pelo medo, muito menos pelo interesse; 2. Obedecer à voz do Defensor em nossa consciência e não cair no erro de, enquanto com uma das mãos pedimos a sua ajuda, com a outra nos mantemos presos ao nosso pecado de estimação; 3. Amar e promover a paz, lembrando de que ela só nos habita quando estamos na vontade de Deus – sempre que nos afastamos dessa vontade, perdemos a paz; 4. Não se perturbar nem se intimidar perante os desafios que a vida nos apresenta, mas aprender a confiar a Deus as nossas preocupações e nos manter firmes em nosso propósito, sabendo que “o vento pode soprar o quanto quiser; a montanha jamais se curva diante dele” (provérbio chinês).  

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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