quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

SEU CORPO É UM TEMPLO HABITADO POR DEUS OU OCUPADO POR DEMÔNIOS?

 Missa do 3º. Dom. Quaresma. Palavra de Deus: Êxodo 20,1-3.7-17; 1Coríntios 1,22-25; João 2,13-25.  

 

            Geralmente, a imagem que os Evangelhos nos dão de Jesus é a de um homem sereno, pacífico, manso e humilde. Mas a cena do Evangelho de hoje nos apresenta um Jesus enérgico, “agressivo”, que, ao ver o Templo, a casa do seu Pai, ser corrompido em casa de comércio, faz um chicote de cordas e expulsa todos do Templo. Essa atitude enérgica de Jesus tem uma justificativa: a religião jamais pode estar a serviço do enriquecimento dos seus dirigentes, sobretudo quando esse enriquecimento é fruto da exploração da miséria dos que buscam na religião o socorro de Deus. Além disso, a religião também não pode ser distorcida em autoajuda, em motivação empresarial, de modo que Deus seja instrumentalizado e colocado a serviço da ambição ou dos sonhos de enriquecimento dos “fiéis” que a frequentam.

“Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2,16). Quantos de nós temos uma relação “comercial” com Deus? Temos sonhos, projetos, desejos, e achamos que Deus é o encarregado de realizá-los. Consciente ou inconscientemente, muitas pessoas estão nas igrejas não para servirem a Deus, mas para se servirem d’Ele, em vista dos seus desejos egoístas. Essa maneira comercial de viver a fé foi chamada por Rodrigo Bibo, autor do livro “O Deus que destrói sonhos”, de “teologia da Xuxa”, uma vez que a mesma costumava cantar uma música cuja letra dizia: “Tudo o que eu quiser, o cara lá de cima vai me dar” (Lua de Cristal).

  A verdade é que, num primeiro momento, ninguém procura Deus gratuitamente, mas sempre movido por uma necessidade. Normalmente é a dor, e não o amor, que move as pessoas a irem a um templo e a orarem a Deus. Mas Jesus deseja nos conduzir a um nível mais profundo de fé, onde aquilo que nos move na direção de Deus não seja uma necessidade, mas simplesmente o amor, como um filho que procura o pai não porque precisa de algo, mas porque ama o pai e quer ficar na presença dele.

Ao ser questionado sobre seu “ataque” ao sistema corrompido do judaísmo do seu tempo, Jesus fez uma revelação surpreendente, que não foi compreendida de imediato: “Jesus estava falando do Templo do seu corpo” (Jo 2,21). Existem incontáveis templos na face da terra, mas somente Jesus é o verdadeiro Templo, porque somente por meio d’Ele podemos ter acesso ao Pai (cf. Ef 2,18). Numa época em que a descrença e a indiferença religiosa crescem mais do que a procura por Deus nas diversas religiões, todos precisamos ser “chicoteados” por essas palavras do apóstolo Paulo: “Os judeus pedem sinais milagrosos... Nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus... Esse Cristo é poder de Deus” (1Cor 1,22.23.24). O Corpo crucificado de Jesus, presente nos crucificados do nosso tempo, é o lugar do encontro com o verdadeiro Deus.

Se Jesus entendeu o seu Corpo como Templo de Deus, nós também devemos recobrar a consciência de que o Espírito de Deus habita em nós, o que significa que também o nosso corpo é templo de Deus (cf. 1Cor 3,16-17; 6,19). Desse modo, as palavras de Jesus – “Tirai isso daqui!” – também devem ser entendidas em relação ao nosso corpo. Justamente porque vivemos numa sociedade erotizada, que reduz o afeto ao prazer e à satisfação dos nossos desejos instintivos, o corpo é hoje um templo profanado por inúmeros comerciantes. A pornografia é uma das cinco indústrias mundiais que mais ganha dinheiro. Segundo a neurociência, o seu poder de viciar é mais forte que o da cocaína. Temos também a indústria do tráfico de órgãos: pessoas pobres são sequestradas e têm seus órgãos retirados para a venda no mercado clandestino, “salvando” a vida dos ricos que podem pagar por órgãos traficados. A série “Coração marcado” denuncia isso claramente. Temos ainda o problema da pedofilia e da prostituição infantil, conhecidas, toleradas e praticadas por “gente grande” em muitas partes do nosso País: políticos, juízes, médicos etc.   

“Tirai isso daqui!”. Esta ordem de Jesus precisa questionar a presunçosa autonomia dos que afirmam: “meu corpo, minhas regras”. Como alguém sabiamente disse: “Seu corpo tem suas regras? A vida tem seus direitos!”. Um embrião ou um feto não é um órgão que pertence ao corpo da mulher e que ela pode decidir extirpar dele, se assim o desejar. Além disso, devemos considerar o fenômeno atual das tatuagens. Buscando modelos ou ídolos – destaque para os jogadores de futebol –, as novas gerações mergulham de cabeça na onda de tatuar-se. Ignorando totalmente o próprio corpo como templo de Deus, tatuam-se de maneira cada vez mais extravagante, nunca se dando ao trabalho de perguntar a Deus na sua consciência o que Ele acha daquela tatuagem (Elas conhecem os dez mandamentos???). São “templos pichados” com toda espécie de imagens, frases (inclusive bíblicas!) ou símbolos – um comportamento próprio de uma geração paganizada.  

Muito mais do que diante do chicote de Jesus, o Evangelho de hoje quer nos colocar diante dessa verdade: Jesus “conhecia o homem por dentro” (Jo 2,25). Diante de uma geração como a nossa, excessivamente preocupada com o corpo, mas desleixada quanto à consciência, Jesus nos vê no profundo de nós mesmos; Ele sabe o que se esconde dentro de nós e que ninguém vê. Ele conhece cada pensamento, sentimento e desejo que se escondem nas regiões mais profundas e obscuras de nós mesmos. Ele conhece o lixo que se acumula dentro de nós há muito tempo. Ele enxerga não somente as nossas tatuagens, mas principalmente os motivos que nos levaram a fazê-las. Deixemos com que Ele nos diga o que deve ser tirado do nosso corpo, da nossa alma e do nosso espírito, para que o templo que somos seja reconstruído e volte a ser o lugar da habitação de Deus e não dos demônios que permitimos que passassem a morar dentro de nós.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

SEM SACRIFÍCIO LIVRE E CONSCIENTE NÃO HÁ TRANSFIGURAÇÃO

 Missa do 2º dom. Quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 22,1-2.9a.10-13.15-18; Romanos 8,31b-34; Marcos 9,2-10.

 

Os textos bíblicos de hoje nos colocam sobre dois montes: o monte Moriá e o monte Tabor. Sobre esses dois montes estão dois filhos e dois pais: Isaac, o filho único de Abraão, e Jesus, o Filho único do Pai. A diferença é que Isaac é poupado do sacrifício, enquanto que Jesus abraça livre e conscientemente a missão de sacrificar-se para salvar todo ser humano. Entre o (quase) sacrifício de Isaac e o sacrifício de Jesus, o apóstolo Paulo nos coloca uma pergunta: “Deus que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com ele?” (Rm 8,32). Jesus está prefigurado em Isaac: enquanto Deus Pai poupa o filho único de Abraão do sacrifício, não poupa, mas permite que seu Filho único seja entregue “por todos nós”, do sacrifício da cruz.

A primeira palavra que precisa falar ao nosso coração, na liturgia de hoje, é SACRIFÍCIO. Pelo quê eu me sacrifico no dia a dia da minha vida? Pela minha sobrevivência? Pelo bem-estar da família e dos filhos? Movido(a) pela competição e pelo consumismo? Até onde estou disposto a me sacrificar pela restauração do meu casamento, para me manter fiel ao chamado que Deus me fez, ou para manter a minha consciência reta diante de Deus, em vista da minha salvação? O meu sacrifício é imposto a partir de fora (como o de Isaac), ou abraçado livre e conscientemente por mim (como o de Jesus)?

Deus não permitiu o sacrifício de Isaac para que Abraão – e cada um de nós – compreendesse que Ele não se alimenta do sangue de crianças inocentes, como se fosse um ídolo pagão. No entanto, Ele pediu o sacrifício de Isaac para colocar à prova Abraão e cada um de nós, através de uma pergunta: “Você continuaria a crer em mim e a caminhar comigo se Eu permitisse que perdesse aquilo que você mais ama nesta vida?”. Por trás do pedido que Deus fez a Abraão, de sacrificar Isaac, seu filho único, está uma verdade difícil de compreendermos e aceitarmos: Deus não é somente Aquele que dá, mas também Aquele que tira. Não nos esqueçamos das palavras de Jó: “O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1,20).  

“O mistério do mal e do sofrimento tem conduzido pessoas para Deus, mas também as afastado d’Ele. Que sentido tem um Deus que não sabe o que fazer do sofrimento, ou, se o sabe, não nos quer ajudar? Mas se nós Lhe viramos as costas, será que isso ajuda a nos livrar do sofrimento, ou será que, pelo contrário, nos privará da força para confrontarmos e fazermos frente ao mal e ao sofrimento?” (Tomás Halík, A noite do confessor).

O Evangelho de hoje nos revela que, durante a Quaresma, Jesus quer que subamos com Ele a uma montanha, lugar da comunhão com Deus, lugar onde nos afastamos da compulsão do mundo consumista e da correria de uma vida desenfreada, para ouvirmos o Pai, para recuperarmos a consciência de que nós somos uma missão nesta terra e é só na fidelidade a essa missão que a nossa vida tem sentido. Jesus quis que Pedro, Tiago e João vissem a sua transfiguração, antes de o verem desfigurado na cruz. Da mesma forma, Jesus quer nos ajudar a enfrentar as situações de desfiguração, sabendo que elas não são o rosto definitivo nem nosso, nem da humanidade, nem do nosso mundo: “Os sofrimentos da desfiguração do tempo presente não se comparam com a alegria da transfiguração que se revelará em nós e em toda a criação” (citação livre de Rm 8,18).

As duas outras palavras que precisam falar ao nosso coração são: DESFIGURAÇÃO e TRANSFIGURAÇÃO. Aquilo que se desfigura em minha vida ou à minha volta é algo necessário, como parte de um processo de transformação, ou consequência de atitudes injustas e erradas da minha parte ou da parte de outras pessoas? A desfiguração da amizade social, provocada pelo individualismo e pela indiferença para com o outro, também é produzida por mim, na minha relação com as pessoas no dia a dia? Eu também alimento e ajudo a propagar a desfiguração do Papa Francisco e da CNBB, criticados e atacados por grupos católicos de extrema direita nas redes sociais? Minha presença na Igreja (paróquia, comunidade) tem ajudado a transfigurá-la?

Enquanto olhavam para Jesus transfigurado, Pedro, Tiago e João foram encobertos por uma nuvem e escutaram a voz do Pai: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9,7). O momento mais difícil de escutar Deus é quando estamos enfrentando uma situação de desfiguração. No entanto, é o momento mais necessário. Aliás, sempre que estamos desfigurados, precisamos fazer nossas as palavras do salmista: “Guardei a minha fé, mesmo dizendo: ‘É demais o sofrimento em minha vida!’” (Sl 116,10). Por maior que seja o sofrimento que estamos enfrentando e que está nos desfigurando, precisamos guardar a nossa fé, no sentido de mantê-la viva, tendo a mesma certeza do apóstolo Paulo: o mesmo Deus, que sustentou o seu Filho na desfiguração da cruz, em nosso favor, também nos sustentará. Além disso, devemos confiar que nenhuma desfiguração pode destruir essa verdade: Jesus Cristo morreu, ressuscitou e está à direita do Pai, intercedendo por nós! (cf. Rm 8,34). É graças à sua intercessão que a nossa desfiguração se converterá em transfiguração!

Enfim, tenhamos consciência de que TRANSFIGURAÇÃO e SACRIFÍCIO estão interligados. O sacrifício mais custoso é a nossa obediência a Deus, buscando conformar a nossa vida à Sua vontade. Sempre que nos sacrificamos nesse sentido, a nossa vida se transfigura, como consequência de quem está em paz porque sabe que está fazendo exatamente aquilo que foi chamado a fazer; está sendo fiel à sua missão de ajudar a transfiguração o pequeno espaço em que se encontra, como Jesus sempre fez.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

"SENTIR TODO SER HUMANO COMO UM IRMÃO" (FT, n.287)

 Missa do 1º dom. Quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 9,8-15; 1 Pedro 3,18-22; Marcos 1,12-15.

 

            “O Espírito impeliu Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias” (Mc 1,12-13). Hoje, o Espírito Santo impele, empurra, joga cada um de nós numa situação de deserto, porque somente nela podemos ouvir Deus falar ao nosso coração (cf. Os 2,16). O deserto é necessário para que possamos nos afastar de tudo aquilo que tem nos afastado de Deus e dos irmãos. Ele é também uma experiência de correção, de educação, de conversão, de rever qual é a meta da nossa vida. Na Quaresma devemos buscar esse deserto através da nossa decisão de fazer silêncio, de olhar para dentro e de nos confrontar conosco mesmos e com o mal que nos habita.

            Jesus “ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás” (Mc 1,13). As tentações nos ensinam que não é possível tornar-nos a pessoa que fomos chamados a ser sem lutar. Ninguém se torna senhor de si mesmo enquanto não lutar com os demônios que habitam o seu interior e que tentam mandar na sua vida. O confronto com as tentações nos lembra que "as mudanças que contam na nossa vida não acontecem de um dia para o outro ou de forma espontânea. Acontecem no meio de um paciente combate interior" (Cardeal José Tolentino Mendonça). Se quisermos sair da Quaresma curados, libertos, transformados, precisamos enfrentar o combate interior contra a nossa preguiça, o nosso comodismo, o nosso vício e os nossos maus hábitos.

            As armas que Jesus usou durante sua vida para vencer o seu combate interior são as mesmas que podemos usar: a oração, nascida da consciência de que não somos autossuficientes e não podemos vencer o maligno por nós mesmos; a sinceridade diante dos próprios sentimentos, nascida da consciência de que não somos anjos; a paciência conosco mesmos, nascida da consciência de que só sofre quedas quem se dispõe a caminhar; o jejum, nascido da consciência de que podemos administrar nossos instintos e não sermos administrados por eles; a perseverança e a determinação, nascidas da consciência de que “Deus é fiel: ele não permitirá que sejamos tentados acima das nossas forças, mas, junto com a tentação, nos dará os meios de sairmos delas e a força para as suportar” (1Cor 10,13).

Toda experiência de deserto é uma experiência de purificação da nossa fé, de correção da imagem de Deus que temos dentro de nós. Na época de Noé, Deus era interpretado como Aquele que resolveu exterminar, por meio do dilúvio, a vida do ser humano e dos animais da face da terra, por causa da maldade do próprio ser humano (cf. Gn 6,5-7). Quando a experiência do dilúvio terminou, Noé e sua família puderam ter uma imagem mais clara de Deus, como Aquele que fez aliança com a terra e com toda vida que há nela, uma aliança que será lembrada toda vez que surgir um arco-íris (cf. Gn 9,13-15).

Deus não está interessado em fazer guerra aos homens. É por isso que, no lugar do arco de guerra, Ele colocou no céu o arco-íris. Nós não estávamos na arca com Noé, mas vivenciamos a salvação do dilúvio por meio do nosso batismo, conforme afirmou o apóstolo Pedro: “À arca corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação” (1Pd 3,21). A água do batismo foi derramada sobre a nossa cabeça não para limpar o nosso corpo da sujeira, para pedir a Deus uma boa consciência, uma consciência como a de Jesus, voltada para o Pai, que aceita ser conduzida pelo Espírito Santo e que não se deixa enganar pelas mentiras do tentador.

Batizadas ou não, muitas pessoas navegam na Internet praticamente todos os dias. Quantas delas se afogam ou se pervertem nessas águas? Neste sentido, o Papa Francisco alertou na Encíclica Fratelli Tutti: “Não podemos aceitar um mundo digital projetado para explorar as nossas fraquezas e tirar fora o pior das pessoas” (FT, n.204). Talvez, um saudável jejum de redes sociais nos ajudaria a terminar o período da Quaresma melhores, mais humanizados e mais fraternos, mais filhos do arco-íris do que filhos dos arcos de guerra, convencidos de que “toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal” (Papa Francisco, FT, n.261).

Uma última palavra. Durante a sua experiência de deserto, Jesus “vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam” (Mc 1,13). Todos nós temos instintos selvagens e impulsos angelicais. Devemos evitar a tentação de eliminar um e ficar com o outro. Ambos fazem parte da nossa humanidade. Ambos precisam ser integrados em nosso caminho de conversão e de santificação. A harmonia daquilo que é selvagem com aquilo que é angelical aponta para um mundo reconciliado, para o ser humano pacificado, para a humanidade redimida pelo Ungido do Senhor (cf. Is 11,6.9). Permitamos que o Pai forme em nós os sentimentos do Filho (cf. Fl 2,6), de modo que possamos “sentir todo ser humano como um irmão” (Papa Francisco, FT, n.287).  

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

QUARESMA: MOMENTO FAVORÁVEL PARA UMA MUDANÇA PROFUNDA EM NÓS

 Missa da quarta-feira de Cinzas. Palavra de Deus: Joel 2,12-18; 2Coríntios 5,20 – 6,2; Mateus 6,1-6.16-18

 

Para compreendermos a importância do tempo da quaresma, podemos nos lembrar do apelo de Jonas à cidade de Nínive: “Dentro de quarenta dias, Nínive será destruída” (Jn 3,4). A primeira pergunta que podemos nos fazer é esta: Há algo que está sendo destruído (ou correndo o risco de sê-lo) em minha vida ou à minha volta? A força que provoca a destruição em nossa vida se chama pecado, e pecado significa “fazer o que é mal aos olhos de Deus” (cf. Sl 51,6). A destruição ou a ameaça dela em nossa vida pode ser barrada, pode ser revertida em reconstrução. Para que isso aconteça, precisamos mudar de atitude, e tal mudança se chama “conversão”.

Quem nos faz esse apelo de mudança, de conversão, é o próprio Deus: “Voltai para mim com todo o vosso coração” (Jl 2,12), isto é, com sinceridade e em profundidade. Poderíamos lembrar também dessas palavras: “Voltai-vos para mim e sereis salvos, homens todos dos confins de toda a terra” (Is 45,22). O filho só pode ter vida junto do Pai. Não há vida, felicidade, paz ou alegria quando nos afastamos de Deus. E da mesma forma que o nosso afastamento de Deus levou tempo para acontecer, a volta para Ele se dá num tempo simbólico de quarenta dias.

Quarenta dias é um tempo espiritual, chamado pelo apóstolo Paulo de “momento favorável” e “dia da salvação” (2Cor 6,2). É o tempo espiritual onde uma ferida pode ser tratada e curada, onde uma ponte pode ser construída sobre o abismo do distanciamento e da separação, onde pode ocorrer em nós a mudança do coração de pedra (desumanizado) em coração de carne (humanizado). Mais do que tudo, é o tempo de “deixar-se reconciliar com Deus” (cf. 2Cor 5,20).

Jesus também viveu sua quaresma. Antes de iniciar a sua missão, ele ficou no deserto quarenta dias, como veremos no Evangelho de domingo: “O Espírito impeliu Jesus para o deserto. E ele esteve no deserto quarenta dias” (Mc 1,12-13). Por que o deserto? Porque é só numa situação de deserto que conseguimos voltar a ouvir e obedecer à voz de Deus em nossa consciência: “Eu a conduzirei ao deserto e lá lhe falarei ao coração” (Os 2,16).

O Espírito Santo convida-nos diariamente à conversão, porque ela não é um fato que acontece uma vez para sempre. Ninguém caminha na vida sem tropeçar, cair ou se desviar de Deus. Retomar o caminho é uma necessidade constante. Rever nossos valores, nossas prioridades, é necessário para evitar ou interromper um processo de destruição de nós mesmos, dos nossos relacionamentos, dos nossos sonhos e da vida que o Pai deseja para cada um de nós, seus filhos.

No início desse período de quarenta dias de esforço por mudar aquilo que em nós está provocando destruição e morte, Jesus nos convida a rever três áreas da nossa vida: a área da nossa convivência com as pessoas. Neste sentido, a esmola não é simplesmente dar qualquer coisa a quem necessita, só para tranquilizar a nossa consciência. Trata-se de recuperar a nossa sensibilidade social, lembrando o alerta do Papa Francisco: “Surgem novas formas de egoísmo e de perda do sentido social” (FT 11). Outra área da nossa vida é o relacionamento com Deus: vida de oração. Nenhuma mudança em nossa vida é possível sem a ação da graça de Deus em nós. O barro não pode tornar-se coisa alguma se não se colocar nas mãos do Oleiro. Disciplinar-se na oração diária é uma importante penitência para esse tempo de quaresma. Por fim, uma terceira área é a maneira como lidamos com os nossos desejos, afetos e instintos. Nesse sentido, o jejum é um freio de mão que puxamos para interromper um comportamento desenfreado que está nos arruinando. Jejuar significa recuperar a nossa liberdade perante tudo aquilo que nos afeta, fortalecendo a consciência de que podemos não ser responsáveis pelo que sentimos, mas somos responsáveis pelo consentir que determinado sentimento nos leve a pecar, prejudicando a nós mesmos ou ao próximo.

A Campanha da Fraternidade, realizada em toda Quaresma, nos ensina que o pecado tem sempre uma dimensão pessoal e outra social. O tema da CF deste ano é: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). O mal que penetra no mundo tem suas raízes na quebra das relações fraternas. O Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, nos lembra de que o nosso mundo atual “privilegia os interesses individuais e debilita a dimensão comunitária da existência” (FT 12). Somos chamados a “cuidar da fragilidade; cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo” (FT 115). “Precisamos fazer crescer a consciência de que, hoje, ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém” (FT 137). Que a vivência da Quaresma deste ano nos leve a “sentir todo ser humano como um irmão” (FT 287).

As cinzas que vamos receber sobre a nossa cabeça nos recordam o que o Senhor Deus disse a Adão, após o pecado: “Você é pó e ao pó voltará” (Gn 3,19). A quaresma quer nos ajudar a recuperar a consciência de que todo pecado nos leva para a morte (cf. Rm 6,23). Ter consciência da nossa morte pode nos ajudar a rever os nossos valores e a viver a nossa vida de outra maneira. Quem tem consciência da própria morte não vive perdido em meio a coisas urgentes e acidentais, mas mantém o foco naquilo que é essencial, e o essencial é a nossa salvação.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A LEPRA MODERNA: A PERDA DA SENSIBILIDADE SOCIAL

 Missa do 6º dom. comum. Palavra de Deus: 2Reis 5,9-14; 1Coríntios 10,31 – 11,1; Marcos 1,40-45.

 

Na época bíblica, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, a doença mais temida e mais repulsiva era a lepra. “A lepra é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que leva ao aparecimento de manchas esbranquiçadas na pele e alteração dos nervos periféricos, o que diminui a sensibilidade à dor, toque e calor” (https://www.tuasaude.com/lepra/). Muito interessante essa definição! A consequência da lepra é a diminuição da sensibilidade quanto à dor, ao toque e ao calor. “Diminuição da sensibilidade” é o retrato da nossa época, na qual há uma preocupação exagerada com a estética, com a aparência, com o cuidado com a pele, enquanto se ignora a importância da ética, da formação da consciência e do caráter, da sensibilidade para com o outro. Eis aqui um primeiro alerta da liturgia de hoje: Quantos de nós são saudáveis fisicamente, mas não têm “sensibilidade social”*, isto é, não se preocupam com quem sofre à sua volta?

Olhemos para a cura do leproso Naamã. Tendo sabido que no país de Israel havia um “homem de Deus” chamado Eliseu, Naamã viajou da Síria para Israel, na expectativa de ser curado da sua lepra. O problema é que Naamã havia criado uma expectativa para a sua cura: “Eu pensava que ele sairia para me receber e que, de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, e que tocaria com sua mão o lugar da lepra e me curaria” (2Rs 5,11). Como o profeta Eliseu ordenou a Naamã: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e tua carne será curada e ficarás limpo” (2Rs 5,10), Naamã “ficou irritado” e foi embora, achando humilhante ter que mergulhar sete vezes em um rio cujas águas não eram famosas como as águas de dois rios do seu país de origem.

A arrogância de Naamã serve de alerta para nós. Enquanto não descemos do pedestal em que nos colocamos e não nos humilhamos, no sentido de sermos humildes (húmus significa terra), colocando os pés no chão e admitindo que somos simples mortais, independente da posição que ocupamos no mundo, não há chance de cura. A cura começa quando colocamos os pés no chão, quando nos despimos das máscaras e das armaduras que costumamos usar para nos mostrarmos como pessoas fortes e vencedoras, quando, na verdade, somos apenas um “cadáver”, isto é, “carne dada aos vermes”, carne que, por sua definição bíblica, significa: algo passível de apodrecimento.

Naamã, num primeiro momento, não aceitou o fato de que a cura da sua lepra dependia de um processo longo e demorado: mergulhar sete vezes nas águas humildes do rio Jordão. Eis aqui um segundo questionamento para nós: Estamos dispostos a passar por um processo longo e demorado de descontaminação daquilo que infectou nosso corpo, nossa alma ou nosso espírito, e que não pode ser removido de forma imediata?  

Antes de passarmos para a cura do leproso no Evangelho, consideremos essas palavras do salmo de hoje: “Eu confessei, afinal, meu pecado, e minha falta vos fiz conhecer. Disse: ‘Eu irei confessar meu pecado!’ E perdoastes, Senhor, minha falta” (Sl 32,5). Por que um salmo que fala da confissão de pecados no meio de dois relatos de cura de leprosos? Porque, na mentalidade bíblica, a lepra era sinal do pecado e da sua gravidade – aquilo que faz apodrecer o ser humano. Sendo assim, a cura da lepra aponta para a libertação do pecado, algo que só Jesus pode fazer (cf. Jo 8,33-36). O problema é: o que é pecado hoje?

De uma época onde “tudo era pecado”, passamos para uma outra época onde “nada é pecado”. No campo da Igreja, a mudança foi outra: de uma época onde se acentuavam os pecados sociais – não se preocupar com as injustiças e com o sofrimento do próximo – passamos para uma acentuação sobre os pecados individuais – sobretudo de cunho moral, quando, na verdade, tanto os pecados pessoais quanto os sociais são uma realidade que pede conversão. Se atualmente os pregadores moralistas fazem muito sucesso entre os “cristãos” das novas gerações, cuja consciência gira em torno do umbigo dos pecados de cunho moral/sexual, não nos esqueçamos de que Jesus nunca deixou de alertar para os pecados de cunho social. Portanto, a lepra do moralismo é um sério problema dentro da nossa Igreja atualmente, cuja maioria maciça de “cristãos” raramente ou nunca se questiona sobre a sua falta de sensibilidade para com as injustiças que ferem inúmeras pessoas e as mantém afastadas, isoladas, do mundo do consumo.

Enfim, olhemos para a cura do leproso no Evangelho. Desobedecendo à lei religiosa que proibia o leproso de se aproximar de qualquer pessoa (cf. Lv 13,46), esse homem “chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: ‘Se queres tens o poder de curar-me’” (Mc 1,40). A cura só começa a nascer em nós quando temos duas atitudes: a primeira é romper com o nosso isolamento, com o vitimismo; a segunda é declarar a nossa confiança absoluta em Jesus: “Tens o poder de curar-me”. Toda pessoa enferma precisa ter essa confiança, sabendo que o Pai concedeu ao Filho “o poder sobre toda a carne” (Jo 17,2). Jesus tem poder sobre tudo aquilo que em nós é passível de adoecimento, de apodrecimento e de morte. No entanto, esse poder não pode ser manipulado pela nossa urgência ou pelo nosso desespero: “Se queres”.

Muitas pessoas abandonaram a sua fé seja na existência de Deus, seja no seu poder de cura, porque se esqueceram de que Ele é soberano na sua vontade: Deus pode não querer curar, não porque Ele não ama a pessoa que está doente, mas porque, muito mais do que o seu bem físico, o que Ele visa é a sua salvação. Em breve ou muito tempo ainda, nós nos tornaremos cadáveres – nosso corpo morrerá e apodrecerá. Todo ser humano um dia será atingido pela lepra da morte, tenha ele fé ou não. A diferença é que nós, cristãos, temos uma fé que olha para além dessa vida temporária e cheia de ilusão, e se abre para a vida eterna, para a glorificação do nosso corpo (cf. Fl 3,20-21), operada por aquele que, “cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!’” (Mc 1,41).

Através da nossa fé no Evangelho e na Eucaristia, nós nos encontramos hoje diante do Senhor Jesus que, compadecido daquele homem até as entranhas, não apenas falou com ele, mas estendeu a mão e o tocou; tocou num homem de quem todos os demais procuravam se manter distantes. Hoje nós, discípulos de Jesus, somos chamados a estender a nossa mão para alcançar pessoas que, quem sabe, a nossa própria religião excluiu ou de quem ainda acha necessário se manter distante...

 

*No capítulo “As sombras de um mundo fechado”, da Fratelli Tutti, o Papa Francisco denuncia: “Reacendem-se conflitos que se consideravam superados. Surgem novas formas de egoísmo e de perda do sentido social” (FT 11).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

O QUE A MINHA DOENÇA ESTÁ TENTANDO ME DIZER?

 Missa do 5º dom. comum. Palavra de Deus: Jó 7,1-4.6-7; 1Coríntios 9,16-19.22-23; Marcos 1,29-39.

 

            “Luta, decepção, sofrimento, sem esperança”. Essas palavras estão presentes no desabafo de um homem enfermo, muito conhecido no mundo bíblico: Jó. Seu livro foi escrito para desmontar uma tese errada: toda doença ou sofrimento é fruto do pecado e, portanto, castigo de Deus. Essa distorção da imagem de Deus foi corrigida pelo próprio Jó, ao afirmar que, antes de passar pelo sofrimento que passou, ele só tinha ouvido falar de Deus, mas depois da sua dura experiência de dor, Jó conheceu a Deus de maneira mais profunda (cf. Jó 42,5).  

            “Luta, decepção, sofrimento, sem esperança”: tudo isso está contido na experiência da doença. Quando adoecemos, lutamos não só pela vida, mas para manter a nossa fé. Na doença, frequentemente nos decepcionamos com Deus: não esperávamos que Ele fosse permitir aquele sofrimento em nossa vida. Uma vez doentes, sofremos não só por causa dos efeitos da doença em nosso corpo ou em nossa alma, mas sofremos também para manter a nossa confiança em Deus. Por fim, pior do que a doença em si mesma é nos tornarmos uma pessoa sem esperança. Deixar de esperar em Deus é nos fechar a toda possibilidade de cura ou de libertação do nosso sofrimento.

            A doença não é uma possiblidade em nossa vida, mas uma certeza: cedo ou tarde, de uma forma ou de outra, ela nos alcançará, devido à nossa natureza mortal. Além disso, como afirmou o Papa Francisco, “não podemos pretender ser saudáveis vivendo num mundo doente”. A principal fonte de adoecimento vem dos alimentos que ingerimos, cultivados na base de agrotóxicos – alguns cancerígenos – e de hormônios. Outra fonte de adoecimento é o estresse, a correria da vida, o sedentarismo (falta de exercícios físicos), o descuido com a alma (silêncio, meditação, oração) e, mais do que tudo, o vício das telas. Como sabiamente afirmou Renato Russo, “nos deram espelhos e vimos um mundo doente” (Índios, 1986). Através do espelho da tela do celular, do computador, da televisão, diariamente vemos um mundo doente e nos tornamos tão doentes quanto ele.

            Justamente porque o lugar do médico é junto das pessoas enfermas, Jesus sempre se deixou afetar pelo sofrimento das pessoas doentes. Através dele, descobrimos que o nosso Deus não é o “Deus dos justos”, como pensavam os líderes religiosos do judaísmo, mas o “Deus dos que sofrem”. O judaísmo entendia a doença como castigo de Deus. “A exclusão do templo, lugar santo onde Deus habita, lembra de maneira implacável aos enfermos aquilo que eles já perceberam no fundo de sua enfermidade: Deus não os ama como ama os outros” (Pe. José Pagola, Jesus – aproximação histórica, p.195). Ao se colocar junto dos doentes, Jesus afirma que “Deus é, antes de mais nada, o Deus dos que sofrem o desamparo e a exclusão” (Pe. José Pagola, Jesus – aproximação histórica, p.196).

            Por ter uma vida de oração disciplinada e procurar em tudo fazer a vontade do Pai, Jesus se tornou uma fonte de cura para as pessoas enfermas: “Dele saía uma força que curava a todos” (Lc 6,19). Essa força tem um nome: Espírito Santo. Mas as curas que Jesus realizava não aconteciam sem a participação ativa dos doentes; elas só aconteciam mediante a fé. Antes da cura, Jesus sempre procurava suscitar no enfermo sua confiança em Deus. “Jesus não cura para despertar a fé, mas pede fé para que seja possível a cura” (Pe. José Pagola, Jesus – aproximação histórica, p.205). A cada pessoa enferma Jesus pede fé na bondade de Deus, o Deus que “conforta os corações despedaçados, enfaixa suas feridas e as cura” (Sl 147,3).

            “Olhar, dialogar, tocar”. As curas que Jesus realizou normalmente tinham essas três atitudes: olhar, enxergar a pessoa enferma, não ignorá-la, deixar-se afetar pelo sofrimento dela. Depois, dialogar, ouvir a pessoa – falar cura –, mas também questionar o enfermo – sua forma de viver e de lidar com as situações podem causar adoecimento a si próprio. Por fim, tocar na pessoa doente. Nossas palavras e nossas mãos podem ser portadoras de cura: “A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu” (Mc 1,30-31). Quantas pessoas estão enfermas em suas casas e ninguém da família se dispõe a ouvi-la, a falar com ela, a tocar nela e a ajudá-la a se levantar?

“Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios” (Mc 1,34). Na época de Jesus, todas as doenças psíquicas eram entendidas como possessão demoníaca. Hoje as doenças psíquicas estão crescendo cada vez mais, atingindo inclusive crianças, adolescentes e jovens. Muitas delas são fruto da ausência de pai e de mãe na vida do filho – ausência de diálogo, de afeto e de limite. O uso excessivo de celular, o vício nas redes sociais ou nos jogos eletrônicos e o ficar o tempo todo no quarto, diante do computador, sem conviver e dialogar com pessoas reais, tudo isso é um terreno propício para o adoecimento mental.

“De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). Ninguém é uma fonte inesgotável de cuidado para com os outros, nem mesmo Jesus. Ninguém deve se deixar sugar e esgotar pelas constantes solicitações dos outros. Ninguém pode ser curado se não se colocar na diariamente na presença do Médico dos médicos: o Pai. A cura acontece pelo tocar, e cabe a cada um de nós disciplinar-se na vida de oração, para dar ao Pai o tempo que Ele necessita para nos tocar e nos curar. Além disso, não se trata de entender a oração como uma mera recarga de bateria para continuarmos a viver a vida de uma maneira doentia. A oração é o momento em que o barulho que nos adoece silencia, e nós temos a coragem encarar a nossa verdade, rever as nossas prioridades e nos conscientizar para o quê devemos dizer “não” e para o quê devemos dizer “sim”.

Enfim, não nos esqueçamos de que doença tem nome. Só é possível tratar uma doença quando se sabe que doença é. Muitas famílias estão enfermas por doenças como falta de organização na vida financeira, falta de limites para os filhos, sobrecarga de um e folga dos demais, alimentação industrializada, falta de coragem em falar o que se sente – quem não explode, implode –, falta de silêncio, limpeza e organização da própria casa, a substituição do diálogo por “cada um diante da sua tela” etc.   

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi