Missa do 2º dom. do advento. Isaías 40,1-5.9-11; 2Pedro 3,8-14; Marcos 1,1-8.
As
duas primeiras semanas do tempo do Advento se concentram na segunda vinda de
Cristo (Parusia), enquanto que as duas últimas semanas têm como foco a
celebração da primeira vinda (Natal). Por isso, nossa reflexão de hoje vai se
debruçar de modo especial na segunda leitura, cujo teor é a Parusia.
Os
primeiros cristãos também esperavam pela segunda vinda de Cristo, e eles tinham
uma forte expectativa de que a Parusia aconteceria logo. Porém, os anos
passaram, aqueles que conviveram pessoalmente com Jesus morreram e a espera
pela Parusia foi substituída pela descrença quanto à volta de Jesus. É por isso
que o autor da segunda carta de Pedro se preocupa em nos recordar que o tempo
de Deus não é o nosso. Aquilo que nós costumamos interpretar como ilusão – não há
por quem nem pelo quê esperar – o autor bíblico chama de “paciência de Deus”,
pois Ele deseja que todos se convertam e sejam salvos.
Assim
como os primeiros cristãos, nós também gostaríamos que Deus interviesse na
história humana para acabar de uma vez por todas com a injustiça e o mal. Isso
de fato acontecerá, mas do jeito e no tempo de Deus. Se nós não confiarmos na
sabedoria, na paciência, na misericórdia e na justiça de Deus, acabaremos por abandonar
nossa espera pela volta de Jesus, o que implicará em levarmos uma vida
inconsequente, buscando ser felizes aqui e agora, mesmo que essa felicidade
destrua a vida de pessoas à nossa volta e a vida do nosso planeta.
A
grande maioria das pessoas ignora ou não crê na volta de Jesus. Exatamente por
isso, elas gastam suas energias naquilo que é transitório, aparente e ilusório,
descuidando daquilo que é definitivo, essencial e verdadeiro. São pessoas escravas
do consumismo e prisioneiras da inveja, preocupando-se excessivamente com a
aparência, enquanto descuidam do próprio caráter. São pessoas que “ignoram os
segredos de Deus, não esperam pelo prêmio da santidade, não creem na recompensa
das almas puras” (Sb 2,22).
Mas
aqui está o choque de realidade: “O dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus acabarão com barulho espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez” (2Pd 3,10). A
imagem do ladrão nos fala da surpresa: no exato momento em que uma pessoa pensa
estar no auge da sua carreira profissional, do seu enriquecimento, do seu
sucesso mundano, ela será “arrancada” desse mundo e será julgada não segundo os
bens que acumulou, mas segundo a maneira como tratou seu semelhante,
especialmente os que sofriam à sua volta.
“A
terra será consumida com tudo o que nela se fez”, e mesmo assim, a maioria
aposta o melhor de si naquilo que é terreno e passível de destruição: ficar
rico, fazer sucesso, garantir (financeiramente) um futuro tranquilo para si e
para os seus. Enquanto isso, a Terra queima, o planeta aquece, e esse fogo que
tudo consumirá não foi aceso por Deus, mas pelo próprio ser humano consumista e
ganancioso, que esgota os recursos do meio ambiente e que não se dispõe a mudar
seus hábitos, porque isso implica em ganhar menos, em aprender a viver com
menos.
O
autor bíblico nos pergunta: “Se desse modo tudo se vai desintegrar, qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa
e piedosa, enquanto esperais com anseio a vinda do Dia de Deus?” (2Pd 3,11-12).
O “Dia de Deus” é o dia da justiça, o dia em que o mal cessará definitivamente,
o dia em que a morte será definitivamente eliminada, o dia em que as lágrimas
serão enxugadas, o dia em que o trigo será recolhido no celeiro (salvação dos
justos) e as uvas serão esmagadas no lagar do furor de Deus (condenação dos
maus, conforme Ap 14,14-20).
O “Dia
de Deus” deve ser esperado, e não temido! “O que nós esperamos, de acordo com a
sua promessa,
são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). A destruição do mundo injusto é
necessária e permitida por Deus para dar lugar a um mundo novo, “onde habitará
a justiça”. Enquanto esperamos por novos céus e uma nova terra, temos uma tarefa:
cuidar da nossa santificação – “Caríssimos, vivendo nesta esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa
vida pura e sem mancha e em paz” (2Pd 3,14). Essa santificação pode ser
traduzida, na prática, no nivelar os vales, rebaixar os montes, endireitar o
que é torto e alisar as asperezas, de modo que o Senhor tenha acesso à nossa consciência
e ao nosso coração.
O
caminho da vida de cada um de nós precisa ser limpo. Ninguém está totalmente pronto
para o encontro com o Senhor. A vida austera e simples de João Batista, que
veio preparar a primeira vinda de Cristo, questiona a inversão de valores em
que vivemos, os excessos que nos intoxicam: excesso de consumismo, de barulho,
de imagens, de informações, de exterioridade. É no deserto de nós mesmos que o
caminho precisa ser preparado; é na solidão do nosso interior que a estrada
precisa ser aberta, para que o Salvador se encontre conosco. O caminho deve ser
aberto em nossa própria carne, naquilo que mais dói em nós e nos custa mudar.
Pe. Paulo
Cezar Mazzi
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