quinta-feira, 30 de novembro de 2023

CONSTRUIR A PONTE DA ESPERANÇA SOBRE O ABISMO DAS NOSSAS INCERTEZAS

 Missa do 1º dom. advento. Palavra de Deus: Isaías 63,16b-17.19b;64,2b-7; 1Coríntios 1,3-9; Marcos 13,33-37.

 

            Nosso tempo de advento, de espera por Aquele que vem, começa com uma súplica: “Ah! Se rompesses o céu e descesses!” (Is 63,19). Depois da volta do exílio na Babilônia (ano 538 aC), a profecia entrou numa profunda crise e Israel experimentou, por cerca de 400 anos, um grande e doloroso silêncio de Deus, como se o céu houvesse se fechado e Deus houvesse decidido não se comunicar mais com o seu povo. Exatamente como Israel, nós também experimentamos muitas vezes o céu fechado, como se Deus não apenas não falasse mais conosco, como também não se interessasse por tudo aquilo que tem acontecido com a humanidade.  

            No entanto, o tempo que iniciamos hoje é um tempo de gestação e, portanto, de esperança: mais do que por um acontecimento, esperamos por uma Pessoa; esperamos por Aquele que vem, Aquele que é justamente a Palavra que se fez carne e veio habitar no meio de nós (cf. Jo 1,14 – texto do dia de Natal!); esperamos por Aquele que, no momento do seu Batismo, viu o céu se abrir (cf. Mc 1,10), o que significa que, de agora em diante, tudo o que o Pai tem a dizer à humanidade será feito unicamente por meio de seu Filho Jesus (cf. Hb 1,2).

            Se o tempo atual é fortemente marcado pela incerteza, o Advento está aí para nos recordar a grande certeza que nos anima: o Senhor Jesus vem, e devemos esperar por ele com a mesma atitude mencionada na oração de Isaías: “Nunca se ouviu dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam” (Is 64,3). Deus faz pelos que n’Ele e por Ele esperam! Contudo, essa espera não é passiva. O tempo presente não é um tempo morto, estagnado, mas um tempo de gestação: enquanto esperamos, trabalhamos; enquanto esperamos, vigiamos, cuidando da tarefa que nos foi confiada.

            Eis, portanto, a palavra-chave deste início de Advento: “Vigiem!” (cf. Mc 13,35.37). “Minha alma espera pelo Senhor mais que os vigias pela aurora..., pois no Senhor se encontra toda graça e redenção” (Sl 130,6.7). Esperamos pelo nosso Redentor porque precisamos ser resgatados, precisamos ser redimidos do nosso próprio pecado e do mal que existe no mundo. Esperamos pelo nosso Redentor suplicando como o salmista:

“Despertai vosso poder, ó nosso Deus e vinde logo nos trazer a salvação! Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a!” (Sl 80,14-15).

            O grande desafio da espera é o cansaço, o desânimo, o abandono da esperança, porque o Senhor demora a vir. Nós não sabemos se ele virá “à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer” (Mc 13,35). Sua vinda pode se dar, para alguns, na infância; para outros, na adolescência ou na juventude; para outros ainda, na idade adulta ou somente na idade avançada... Não nos cabe forçar ou antecipar a vinda do Senhor; o que nos cabe é cuidar da tarefa que nos foi confiada: “(...) deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa” (Mc 13,34). Eis o grande segredo! Se não queremos que a nossa vida perca o sentido, devemos nos manter fiéis à missão que nos foi confiada. Só essa fidelidade nos ajuda a suportar a demora pela vinda do Senhor e a vencer a tentação de jogar tudo para o alto: “Nada proporciona melhor capacidade de superação e resistência aos problemas e dificuldades em geral do que a consciência de ter uma missão a cumprir na vida” (Victor Frankl).

            Quando olhamos para a estrada da nossa existência, temos a impressão de que ela vai dar na direção de um abismo: a morte, a destruição, o fim de tudo, a falta de sentido. Pois bem, o Advento é o tempo em que uma ponte começa a ser construída (ou reconstruída!) sobre esse abismo. O nome dessa ponte é “Esperança”: como a noiva espera pela vinda do seu noivo, nós esperamos pela vinda do nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo, sustentados por esta promessa: “Deus é fiel; por ele fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso” (1Cor 1,9). Enquanto aguardamos “a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. 1Cor 1,7), somos consolados e animados pelo Espírito Santo, pois é na sua força que nos apoiamos, clamando: “Vem, Senhor Jesus!”. Como afirma o Apocalipse, “O Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!’” (Ap 22,17). Jesus, por sua vez, responde: “Sim, venho muito em breve!” (Ap 22,20). E nós, diante dessa promessa, respondemos como Igreja: “Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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