quinta-feira, 23 de novembro de 2023

NOSSO JULGAMENTO SERÁ SOBRE A VIVÊNCIA SOCIAL DA NOSSA FÉ

 Missa de Cristo Rei – Palavra de Deus: Ezequiel 34,11-12.15-17; 1Coríntios 15,20-26.28; Mateus 25,31-46.

           

            Duas afirmações bíblicas nos ajudam a compreender o sentido da festa de hoje, na qual celebramos Cristo, Rei do Universo. A primeira é de Deus, no Antigo Testamento, ao afirmar: “Quanto a vós, minhas ovelhas, eu farei justiça entre uma ovelha e outra” (Ez 34,17). A segunda é do próprio Cristo, no Novo Testamento, ao afirmar: “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros” (Mt 25,31-32). “Fazer justiça” e “separar uns dos outros” significa “julgar”, e quando Deus julga, restabelece a justiça na terra.

            Muitas pessoas desacreditaram da Justiça, e com razão, pois ela se encontra corrompida. Enquanto muitas pessoas tiveram suas vidas prejudicadas pela injustiça e algumas até morreram devido a alguma injustiça, nós conhecemos pessoas cujo dinheiro as coloca acima da Justiça, mantendo-as ilusoriamente seguras na impunidade. Contudo, Jesus nos garantiu que nada ficará impune: “Nada há de encoberto que não venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado” (Mt 10,26). Ao final de sua vida, todo ser humano se confrontará com a verdade, conforme está escrito: “Todos nós compareceremos perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante sua vida terrena, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,10). E ainda: “Todos nós compareceremos perante o tribunal de Deus... Assim, cada um de nós prestará contas a Deus de si próprio” (Rm 14,10.12).

            A Festa de Cristo Rei nos recorda que a função principal do Rei é fazer justiça, como nos mostra o Sl 71: “Dai ao Rei vossos poderes, Senhor Deus, vossa justiça ao descendente da realeza!  Com justiça ele governe o vosso povo, com equidade ele julgue os vossos pobres. Das montanhas venha a paz a todo o povo, e desça das colinas a justiça! Este Rei defenderá os que são pobres, os filhos dos humildes salvará, e por terra abaterá os opressores!” (vv.1-4). Como acabou de nos mostrar o Evangelho, Aquele que hoje proclamamos Rei do Universo virá no fim dos tempos como Juiz de todo ser humano, e nos julgará não segundo as aparências, mas segundo a verdade.

Esperar pelo julgamento de Cristo significa esperar pelo cumprimento da promessa que Deus fez por meio do profeta Ezequiel: “Eu farei justiça entre uma ovelha e outra” (Ez 34,17). Durante sua vida terrena, Jesus conheceu de perto o sofrimento e as injustiças humanas. Além disso, Ele se identifica com os que sofrem e com os que são injustiçados. Por isso, seu julgamento examinará concretamente a maneira como nos posicionamos diante de quem sofre.

            A separação, no julgamento final, entre os justos e os injustos, entre os “benditos” e os “malditos”, deixa claro que só existem duas atitudes possíveis diante das pessoas que sofrem ou passam por alguma necessidade: ou nós nos compadecemos e ajudamos essas pessoas, ou nós nos desinteressamos pelo que se passa com elas e as abandonamos. Não há neutralidade, e a nossa postura agora diante delas vai refletir no momento do nosso encontro definitivo com Deus, sabendo que o critério para entrar no Reino não será o que cada um de nós fez ou deixou de fazer “para Deus”, mas o que um de nós fez ou deixou de fazer “para os nossos semelhantes”, que cruzaram o nosso caminho e clamaram por nossa presença solidária e compassiva.

            São João da Cruz costumava dizer que “no entardecer da vida, seremos julgados a respeito do amor”. Quando nossa vida terrena terminar, Jesus nos perguntará se nós amamos, sabendo que amor é uma atitude: dar de comer, dar de beber, cuidar, visitar, não abandonar, defender, fazer-se próximo de quem precisa.

Diante das ovelhas feridas desse imenso rebanho que é a humanidade, Deus assumiu um compromisso: “Vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de nuvens e escuridão. Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente” (Ez 34,14.16). Prestemos atenção aos verbos que traduzem a atitude de Deus para com a dor humana: procurar, reconduzir, enfaixar, fortalecer, vigiar, fazer justiça... Ontem, essas palavras se encarnaram na pessoa de Jesus Cristo. Hoje, nós somos chamados a encarná-las em nossa vida de cristãos, acolhendo este convite de Deus: “Preciso das tuas mãos para continuar a abençoar; preciso dos teus lábios para continuar a falar; preciso do teu corpo para continuar a sofrer; preciso do teu coração para continuar a amar; preciso de ti para continuar a salvar” (Michael Quoist, Oração do sacerdote numa tarde de domingo).

           ORAÇÃO: Senhor Jesus Cristo, hoje venho pedir perdão por toda atitude minha de indiferença para com os necessitados. Quando o Senhor permite que uma pessoa carente cruze o meu caminho, é porque há algo que eu posso fazer por ela.

Hoje teu Evangelho me recorda que, no entardecer da minha vida, eu serei julgado(a) a respeito do amor. O Senhor, como justo Juiz, me perguntará se eu amei, se eu me deixei afetar pelo sofrimento das outras pessoas, se eu dei minha colaboração para tornar esse mundo mais justo e mais humano.

Quero abrir-me àqueles que estão à minha volta. Quero abraçar contigo a missão de procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, cuidar daquela que está ferida e defender aquela que está ameaçada por algum tipo de maldade ou injustiça. Ajuda-me a não me fechar em mim mesmo(a), mas a me fazer próximo(a) de toda pessoa que eu puder ajudar. Amém!

 Pe. Paulo Cezar Mazzi

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