quinta-feira, 2 de novembro de 2023

SANTIFICAÇÃO, UM CAMINHO QUE DEVE SER RETOMADO DIARIAMENTE

 Missa de todos os Santos. Palavra de Deus: João 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a

 

            “Santo, Santo, Santo” (Is 6,3). Assim Isaías ouviu os serafins proclamando diante de Deus. “Tu és o Santo de Deus” (Jo 6,69). Assim Pedro se referiu a Jesus. “O Defensor, o Espírito Santo” (Jo 14,26). Assim Jesus se refere à promessa de nos enviar o Espírito do Pai. A santidade é a essência do Pai, do Filho e do Espírito.

            Biblicamente, a palavra “santo” significa “separado”. O Pai, o Filho e o Espírito são Santos porque separados do mundo, no sentido de não se deixarem corromper, de serem plenos da verdade e de não terem em Si mesmos nenhum espaço para o mal. Nós, filhos do Pai, chamados a ser discípulos do Filho e a nos deixar guiar pelo Espírito de Deus, somos convidados a buscar diariamente a nossa santificação, o que significa estar no mundo mantendo a consciência de que não somos do mundo.

            Antes de entendermos o que é ser santo, precisamos compreender o que a Sagrada Escritura entende por “mundo”. Muitas pregações demonizam o mundo, omitindo a verdade de que o mal também está dentro das igrejas e religiões, além de encontrar espaço no coração de cada ser humano. Quando Jesus ora pelos seus discípulos, expressa-se dessa forma ao Pai: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17,15). Nós não podemos ser tirados do mundo porque o mundo é justamente o nosso campo de missão. Assim como fez em relação a Jesus, o Pai nos enviou ao mundo para salvá-lo, não para condená-lo (cf. Jo 3,16). Quando João afirma que “o mundo inteiro está sob o poder do Maligno” (1Jo 5,19), está se referindo àqueles que não creem no Filho de Deus, e não à humanidade, à qual Deus ama e deseja salvar.

            Se ser santo significa separar-se do mundo, trata-se de manter a nossa consciência voltada para Deus e não nos tornarmos cristãos mundanos, aprendendo a filtrar, a discernir, a separar o que convém daquilo que não convém à nossa salvação. Além disso, ser santo significa caminhar segundo a verdade, contida na Palavra de Deus: “Santifica-os na verdade; tua palavra é verdade” (Jo 17,17). Somente quem se deixa corrigir e orientar pela Palavra de Deus consegue separar-se das mentiras do mundo, mentiras que visam corromper nossos valores, nos fazendo correr todos os dias atrás de falsas promessas de felicidade enquanto perdermos a nossa alma e nos desviamos do caminho da salvação.

            Além de caminhar segundo a verdade, uma pessoa que busca santificar-se jamais deve esquecer de ser justa e trabalhar por um mundo mais justo, pois Jesus dirá a alguns que acreditam serem bons cristãos: “Afastem-se de mim, todos vocês, que cometem injustiça” (Lc 13,27). Para evitarmos essa falsa segurança religiosa, o Papa Francisco nos adverte: “Não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo” (Papa Francisco, GE, n.101). Não podemos buscar uma santidade individualista tornando-nos indiferente às injustiças que fazem pessoas sofrerem à nossa volta. Não nos esqueçamos de que o próprio Jesus deixou claro que um cristão que busca santificar-se é alguém que tem “fome e sede de justiça” (Mt 5,6).

              O livro do Apocalipse nos torna conscientes de que não existe santificação sem luta, e a primeira luta que temos que travar é conosco mesmos, com a nossa preguiça e o nosso comodismo, com o nosso pecado, que sempre visa aquilo que nos dá algum lucro ou algum prazer, ainda que isso seja mal aos olhos de Deus e prejudique outras pessoas. A veste branca só será dada no céu àqueles que passaram por tribulações, que são exatamente o preço que pagamos para não aderir à mentira, à injustiça e ao Maligno. Na verdade, ninguém de nós chegará diante de Jesus com a veste branca, seja porque somos pecadores, seja porque travamos uma batalha espiritualmente sangrenta contra o mal. Nossa veste só ficará branca quando for lavada no sangue do Cordeiro, isto é, quando, apesar do sofrimento, imitarmos Jesus na busca diária de viver segundo a vontade do Pai.

            A santidade é um caminho que Deus nos convida a percorrer todos os dias. Concretamente, trata-se de seguirmos Jesus, o Caminho que conduz ao Pai. Ninguém percorre esse caminho sem tropeçar e cair algumas vezes. Não devemos ficar parados aonde caímos, nem nos deixarmos enganar pelo tentador que quer nos fazer pensar que o tropeço e a queda anularam tudo o que já caminhamos e nos fizeram voltar à estaca zero. Trata-se de nos deixarmos levantar novamente, pela força do Espírito Santo, e retomarmos o seguimento de Jesus, orientando-nos pelo seu Evangelho: “Esquecendo-me do que fica para trás, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto. Portanto, conservemos o rumo” (citação livre de Fl 3,13.14.16).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Nenhum comentário:

Postar um comentário