Missa de todos os Santos. Palavra de Deus: João 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a
“Santo, Santo, Santo” (Is 6,3).
Assim Isaías ouviu os serafins proclamando diante de Deus. “Tu és o Santo de
Deus” (Jo 6,69). Assim Pedro se referiu a Jesus. “O Defensor, o Espírito Santo”
(Jo 14,26). Assim Jesus se refere à promessa de nos enviar o Espírito do Pai. A
santidade é a essência do Pai, do Filho e do Espírito.
Biblicamente, a palavra “santo” significa
“separado”. O Pai, o Filho e o Espírito são Santos porque separados do mundo,
no sentido de não se deixarem corromper, de serem plenos da verdade e de não
terem em Si mesmos nenhum espaço para o mal. Nós, filhos do Pai, chamados a ser
discípulos do Filho e a nos deixar guiar pelo Espírito de Deus, somos convidados
a buscar diariamente a nossa santificação, o que significa estar no mundo
mantendo a consciência de que não somos do mundo.
Antes de entendermos o que é ser
santo, precisamos compreender o que a Sagrada Escritura entende por “mundo”.
Muitas pregações demonizam o mundo, omitindo a verdade de que o mal também está
dentro das igrejas e religiões, além de encontrar espaço no coração de cada ser
humano. Quando Jesus ora pelos seus discípulos, expressa-se dessa forma ao Pai:
“Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17,15). Nós
não podemos ser tirados do mundo porque o mundo é justamente o nosso campo de
missão. Assim como fez em relação a Jesus, o Pai nos enviou ao mundo para
salvá-lo, não para condená-lo (cf. Jo 3,16). Quando João afirma que “o mundo
inteiro está sob o poder do Maligno” (1Jo 5,19), está se referindo àqueles que
não creem no Filho de Deus, e não à humanidade, à qual Deus ama e deseja
salvar.
Se ser santo significa separar-se do
mundo, trata-se de manter a nossa consciência voltada para Deus e não nos
tornarmos cristãos mundanos, aprendendo a filtrar, a discernir, a separar o que
convém daquilo que não convém à nossa salvação. Além disso, ser santo significa
caminhar segundo a verdade, contida na Palavra de Deus: “Santifica-os na
verdade; tua palavra é verdade” (Jo 17,17). Somente quem se deixa corrigir e orientar
pela Palavra de Deus consegue separar-se das mentiras do mundo, mentiras que
visam corromper nossos valores, nos fazendo correr todos os dias atrás de
falsas promessas de felicidade enquanto perdermos a nossa alma e nos desviamos
do caminho da salvação.
Além de caminhar segundo a verdade,
uma pessoa que busca santificar-se jamais deve esquecer de ser justa e
trabalhar por um mundo mais justo, pois Jesus dirá a alguns que acreditam serem
bons cristãos: “Afastem-se de mim, todos vocês, que cometem injustiça” (Lc
13,27). Para evitarmos essa falsa segurança religiosa, o Papa Francisco nos adverte:
“Não podemos propor-nos um ideal de santidade
que ignore a injustiça deste mundo” (Papa Francisco, GE, n.101). Não podemos
buscar uma santidade individualista tornando-nos indiferente às injustiças que
fazem pessoas sofrerem à nossa volta. Não nos esqueçamos de que o próprio Jesus
deixou claro que um cristão que busca santificar-se é alguém que tem “fome e
sede de justiça” (Mt 5,6).
O livro
do Apocalipse nos torna conscientes de que não existe santificação sem luta, e
a primeira luta que temos que travar é conosco mesmos, com a nossa preguiça e o
nosso comodismo, com o nosso pecado, que sempre visa aquilo que nos dá algum
lucro ou algum prazer, ainda que isso seja mal aos olhos de Deus e prejudique
outras pessoas. A veste branca só será dada no céu àqueles que passaram por
tribulações, que são exatamente o preço que pagamos para não aderir à mentira,
à injustiça e ao Maligno. Na verdade, ninguém de nós chegará diante de Jesus
com a veste branca, seja porque somos pecadores, seja porque travamos uma
batalha espiritualmente sangrenta contra o mal. Nossa veste só ficará branca
quando for lavada no sangue do Cordeiro, isto é, quando, apesar do sofrimento,
imitarmos Jesus na busca diária de viver segundo a vontade do Pai.
A santidade é um caminho que Deus
nos convida a percorrer todos os dias. Concretamente, trata-se de seguirmos
Jesus, o Caminho que conduz ao Pai. Ninguém percorre esse caminho sem tropeçar
e cair algumas vezes. Não devemos ficar parados aonde caímos, nem nos deixarmos
enganar pelo tentador que quer nos fazer pensar que o tropeço e a queda
anularam tudo o que já caminhamos e nos fizeram voltar à estaca zero. Trata-se
de nos deixarmos levantar novamente, pela força do Espírito Santo, e retomarmos
o seguimento de Jesus, orientando-nos pelo seu Evangelho: “Esquecendo-me do que
fica para trás, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto.
Portanto, conservemos o rumo” (citação livre de Fl 3,13.14.16).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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