Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; Romanos 8,8-17; João 20,19-23.
Jesus “soprou sobre eles e disse: ‘Recebei
o Espírito Santo’” (Jo 20,22). O sopro do Ressuscitado transmite vida. No filme
“As crônicas de Nárnia”, este sopro de Jesus é representado pelo Leão (Aslam),
que sopra sobre todas as criaturas que a rainha do gelo havia congelado, e eles
ganham vida novamente. Este sopro de Jesus nos lembra que o Espírito Santo é
tão necessário para a nossa vida quanto o ar que respiramos. Sem o Espírito
Santo, sem o sopro de Deus, tudo morre: “Se tirais o seu respiro, elas perecem e
voltam para o pó de onde vieram. Enviais o vosso espírito e renascem e da terra
toda a face renovais” (Sl 104,29-30).
Antes de soprar sobre os discípulos,
comunicando-lhes o Espírito Santo, Jesus já havia dito a Nicodemos que o
Espírito Santo é como o vento (cf. Jo 3,8). No dia de Pentecostes, “veio do céu
um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles (os
discípulos) se encontravam” (At 2,2). O vento traz frescor e coloca as coisas
em movimento. Mas, para que possamos sentir a sua ação em nós, precisamos abrir
as portas e as janelas da nossa casa, do nosso ambiente de trabalho, da nossa
própria vida. Foi isso que fez o Papa São João XXIII, em 1962, ao convocar o
Concílio Vaticano II: abriu as portas e janelas da Igreja para que o Espírito
Santo pudesse entrar e renová-la a partir de dentro.
O vento vem de fora. Isso significa
que a nossa escuta à voz do Espírito Santo exige nos abrir à realidade. Escutar
o Espírito Santo exige de nós humildade e coragem, pois ele “sopra onde quer”
(Jo 3,8). Uma Igreja aberta ao Espírito Santo é uma Igreja que se deixa
questionar pela realidade do mundo atual, e não uma Igreja que vive fechada em seus próprios
dogmas. Não somos nós quem dizemos ao Espírito Santo onde Ele deve soprar; a
nós cabe receber o vento do Espírito e nos deixar conduzir para onde Ele quer
nos levar: “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são
filhos de Deus” (Rm 8,14). Deixar-se conduzir pelo Espírito Santo é ir aonde
devemos ir, e não aonde gostaríamos de ir (cf. At 20,22).
Se o vento simboliza a presença
invisível do Espírito Santo no discípulo de Jesus, sua imagem visível, no dia
de Pentecostes, foram as línguas como que de fogo: “Então apareceram línguas
como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram
cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o
Espírito os inspirava” (At 2,3-4). O sopro emite calor. O sopro do Ressuscitado
transmitiu o calor da vida nova ao coração dos discípulos. Nossas palavras nascem
do sopro que sai de dentro de nós, passam pelas nossas cordas vocais e emitem sons.
As palavras que o Espírito Santo transmite comunicam diálogo, entendimento, comunhão,
unidade. Todo cristão que com suas palavras alimenta discursos de ódio que
favorecem a polarização dentro da Igreja não é movido pelo Espírito Santo, mas
pelo espírito do mal, cuja finalidade é causar divisão, discórdia e separação.
No dia de Pentecostes, o Espírito
Santo capacitou os discípulos a anunciarem as maravilhas de Deus na língua que
cada pessoa podia entender (cf. At 2,11). Sem o Espírito Santo, o anúncio do
Evangelho às novas gerações é totalmente ineficaz. Só o Espírito Santo pode nos
dar uma linguagem adequada para anunciar Jesus Cristo às pessoas do nosso tempo,
de modo que o coração delas se sinta tocado, como aconteceu com os discípulos
de Emaús: “Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando
nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).
O Senhor Ressuscitado comunicou o
Espírito Santo aos discípulos em vista de uma missão: “Como o Pai me enviou, também
eu vos envio” (Jo 20,21). O Espírito Santo não é uma força de autoajuda para a
nossa vida particular. Ele nos é dado em vista de uma tarefa, de uma missão: “Disse-lhes
o Espírito Santo: ‘Separem para mim Barnabé e Saulo, para a obra à qual os
destinei’” (At 13,2). A nossa existência é única e, por meio dela, há uma
palavra única de Deus que o Espírito Santo deseja dizer à humanidade. Assim
como Jesus foi ungido pelo Espírito Santo e passou por este mundo fazendo o bem
(cf. At 10,38), assim a unção do Espírito Santo em nós será comprovada através
do bem que pudermos fazer ao mundo no qual nos encontramos.
Enfim, o apóstolo Paulo nos recorda
de que existem duas vozes em nós: a voz do Espírito Santo e a voz da nossa
carne (egoísmo). Cabe a nós escolhermos a partir de qual voz orientar as nossas
atitudes (cf. Rm 8,8-9). Quem escolher viver segundo seu egoísmo, morrerá – perderá
o sentido da vida –, mas quem escolher viver segundo o Espírito Santo terá sua
vida plena de sentido. Além disso, quem se deixar ser conduzido pelo Espírito
Santo não será dominado pelo medo, nem se sentirá sozinho neste mundo, mas terá
em seu coração a certeza de pertencer a Deus como um filho amado.
Segundo o apóstolo, o Espírito Santo
garante, certifica, comprova que somos filhos de Deus, exprimindo em nós um
clamor: “Abá - ó Pai!” (Rm 8,15). Esse clamor sempre esteve no coração e dos lábios
de Jesus, dando-lhe a certeza de que o Pai sempre esteve presente em sua vida. Da
mesma forma, o Espírito Santo afasta de nós o sentimento de solidão e de
orfandade, fazendo-nos sentir amados e cuidados pelo Pai. Além disso, o
Espírito Santo nos faz experimentar Jesus não como uma memória do passado, mas
como uma presença atual, viva, dentro de nós, garantindo que, sofrendo com
Cristo, nós também seremos glorificados com Ele junto do Pai.
Especialmente neste dia de
Pentecostes, clamemos ao Espírito Santo: “Espírito de Deus, enviai dos céus um
raio de luz! Vinde, Pai dos pobres, dai
aos corações vossos sete dons. Consolo que acalma, hóspede da alma, doce
alívio, vinde! No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem. Enchei,
luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós! Sem a luz que acode, nada o
homem pode, nenhum bem há nele. Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente. Dobrai
o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei. Dai à vossa Igreja, que espera e
deseja, vossos sete dons. Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria
eterna. Amém” (Sequência de Pentecostes).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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