Missa do 13. dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 19,16b.19-21; Gálatas 5,1.13-18; Lucas 9,51-62
Estava chegando a hora de Jesus
enfrentar a sua cruz. “Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”
(Lc 9,51). Sempre que precisamos enfrentar uma situação difícil, a nossa
tendência é adiar a decisão o máximo possível. O medo e a insegurança nos
paralisam, e passamos a adiar a decisão até o último momento. O problema é que
o custo emocional disso é muito alto. Nós gastamos mais energia emocional
sofrendo com a nossa indecisão do que tomando a decisão de enfrentar aquilo que
estamos sendo chamados a enfrentar. Se fôssemos firmes em nossas decisões,
experimentaríamos a libertação do medo, da angústia e da ansiedade. A decisão
firme sempre nos liberta, ao passo que a indecisão nos mantém aprisionados.
Aquilo que mais nos atrapalha em
sermos firmes em nossa decisão é o medo quanto ao futuro. Queremos garantias de
que a decisão que vamos tomar será bem sucedida e não nos arrependeremos dela.
No entanto, essas garantias não existem. A única coisa que nos ajuda na decisão
é tomá-la baseando-nos no nosso “eu devo”, libertando-nos do nosso “eu gostaria”
ou “eu quero”. Jesus não tomou a firme decisão de ir de encontro à sua cruz
movido pelo desejo de sofrer, mas movido pelo seu dever de salvar a humanidade,
ainda que tal salvação tivesse como preço a cruz.
Muitas pessoas estão adoecendo
emocional ou fisicamente por não terem a coragem de tomar as decisões que sabem
ser necessárias para sua vida. Elas se deixam aprisionar no medo de perder suas
falsas seguranças ou suas falsas compensações, e com isso acabam por perder
tudo: dinheiro, saúde, paz, liberdade, alegria, qualidade de vida. Por não
aceitarem pagar o preço das consequências de suas decisões, acabam por pagar um
preço ainda maior, que é, em alguns casos, a destruição de si mesmas, de seus
sonhos, de seu futuro.
A decisão de Jesus de ir para
Jerusalém esbarrou num primeiro obstáculo: alguns samaritanos não permitiram
que ele passasse pela aldeia deles, pois judeus e samaritanos eram inimigos, naquela
época. Tomando as dores de Jesus, Tiago e João se dispuseram a eliminar o obstáculo
com violência destrutiva: mandar descer fogo do céu sobre os samaritanos!!! No
entanto, Jesus rejeitou firmemente a proposta dos dois discípulos, mudou seu
trajeto e prosseguiu sua viagem para Jerusalém.
Não podemos nos iludir: ainda que
nossa decisão seja firme, os caminhos não vão se abrir facilmente diante de
nós. Se a decisão firme nos liberta interiormente de obstáculos como o medo e a
insegurança, ela não elimina os obstáculos externos. Não é porque decidimos
caminhar segundo a vontade de Deus que Ele mesmo eliminará todas as pedras do
nosso caminho. Os obstáculos estarão ali exatamente para comprovar se, de fato,
estamos firmes naquilo que decidimos fazer. Além disso, quem se decide por Deus,
enfrentará muito mais obstáculos, pois o mundo sempre se oporá àqueles que
desejam ser de Deus.
Jesus deseja nos tornar pessoas verdadeiramente
livres (cf. Gl 5,1), mas nós nem sempre queremos essa liberdade, pois, para
experimentá-la, temos que tomar a decisão de nos orientar na vida pela voz do
Espírito de Deus, e não pela voz do nosso ego (carne). Enquanto o nosso ego
entende a liberdade como “fazer o que quer, o que deseja, o que é do seu
interesse”, o Espírito de Deus entende a liberdade como “fazer o que fomos
chamados a fazer, a partir da nossa vocação”. Justamente porque somos interiormente
livres, cabe a nós decidir a quem dar ouvidos: se à voz do Espírito de Deus ou
se à voz do nosso ego (carne). Ainda que muitos costumam abrir mão da responsabilidade
por suas escolhas e decisões, alegando que “a carne” é mais forte do que elas,
essa falsa justificativa não convence, pois “tudo pode ser tirado de uma
pessoa, menos uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer
circunstância da vida” (Victor Frankl).
Diante da circunstância negativa – a
proibição de passar pela aldeia dos samaritanos – Jesus usou sua liberdade e escolheu
a atitude de mudar de rota, sem desviar-se da sua meta, que era chegar a
Jerusalém. Ele não usou a circunstância negativa como desculpa para si mesmo ou
para o Pai, alegando que tentou encarar sua cruz, mas foi “impedido” pelas circunstâncias...
Só quem é interiormente livre e leva a sério sua própria existência pode ser
firme diante de suas próprias desculpas em não agir como deve, como a vida está
lhe pedindo que aja, naquele momento.
Enquanto estava caminhando para
Jerusalém com seus discípulos, Jesus se deparou com três pessoas. A primeira se
dispôs a segui-lo livre e incondicionalmente, mas ele a alertou: “Não espere de
mim segurança, bem-estar e vida fácil!”. À segunda pessoa, que condicionou o
seu seguimento ao “enterro” do seu pai, Jesus lançou o desafio de abraçar a
tarefa de cuidar da vida, não da morte. À terceira pessoa, que também
condicionou seu seguimento à despedida da sua família, Jesus foi claro em dizer
que não se caminha para o futuro mantendo-se agarrado ao passado.
No diálogo de Jesus com essas três
pessoas, entra novamente a questão da liberdade e da decisão. Quem se move na
vida pelo desejo de garantir seu bem-estar não toma a decisão que precisa,
justamente porque o preço dela é a perda do bem-estar. Além disso, quem fica
chorando aquilo que vai perder, ao tomar a decisão que precisa tomar, escolhe
morrer e não viver. Por incrível que pareça, essa escolha é a mais comum!
Muitos preferem morrer aprisionados ao seu pecado, ao seu vício, do que experimentar
uma vida verdadeira, porém privada dos efeitos “compensatórios” do veneno que os
estava matando. Enfim, quem sonha com um futuro diferente, mas não tem a
coragem de romper definitivamente com aquilo que precisa deixar para trás,
condena sua vida a uma rotina insuportável, sem horizonte, sem futuro, sem
sentido.
Que tenhamos a coragem de reconhecer
qual decisão precisamos encarar e efetivar, para que nossa vida se torne a vida
que Deus deseja para nós.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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