quinta-feira, 25 de novembro de 2021

LEVANTADOS PELA FÉ E DE CABEÇA ERGUIDA PELA ESPERANÇA

 Missa do 1. dom. do advento. Palavra de Deus: Jeremias 33,14-16; 1Tessalonicenses 3,12 – 4,2; Lucas 21,25-28.34-36.

 

Prestemos atenção a essas expressões da leitura de Jeremias: “virão dias”, “bens futuros”, “farei brotar”, “fará valer”, “será salvo”, “terá uma população confiante”. Todas elas estão no tempo futuro. Todas elas foram pronunciadas quando o presente do povo de Israel estava marcado por dor, sofrimento, tristeza, angústia, falta de perspectiva de vida.

Sempre que estamos enfrentando uma dificuldade, a nossa tendência é nos fechar naquele momento, como se aquela situação fosse definitiva. Por causa da dor ou do sofrimento que estamos enfrentando, nós nos vemos trancados num quarto escuro, sem porta e sem janela, sem saída, como se fôssemos ficar ali para sempre. Nos esquecemos das palavras que Deus disse ao seu povo: “Existe recompensa para a tua dor... Há esperança para o teu futuro” (Jr 31,16.17).  

“Recompensa”, “esperança”, “futuro”. Enquanto os nossos olhos não conseguem enxergar para além do problema que estamos enfrentando, os olhos de Deus veem além. Nenhuma dor deveria nos tornar incapazes de enxergar além. Nenhum sofrimento deveria nos fazer esquecer de que existe um futuro, um depois, um desdobramento. Nada ficará como está, definitivamente. Nossa vida está inserida no plano de Deus, o qual tem como plenitude o “dia da vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos” (1Ts 3,13). Em outras palavras, Alguém está vindo! Nós aguardamos Aquele que transfigurará o nosso corpo humilhado (cf. Fl 3,20-21), Aquele que disse: “Eis que venho em breve, e trago comigo o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho (conduta)” (Ap 22,12); Aquele que fará justiça e separará os que fazem o bem daqueles que fazem o mal (cf. Mt 25,31-46; Ap 14,14-20), Aquele que enxugará as lágrimas de todos os rostos e destruirá o mal e a morte para sempre (cf. Ap 21,4).

Estamos iniciando o tempo do advento – a espera por Aquele que vem. Espera tem a ver com esperança. Assim como os sobreviventes dos campos de concentração nazistas não enlouqueceram e não se suicidaram porque tinham esperança de reencontrar algum ente querido quando o holocausto terminasse, assim a esperança é fundamental para conseguirmos suportar o momento presente e confiar que a nossa história não está nas mãos do acaso, mas nas mãos do Senhor Deus, que estabeleceu o Seu Filho como Princípio e Fim (cf. Ap 1,17; 22,5), Aquele que tem a palavra final sobre a história humana.      

Jesus afirmou claramente a respeito da sua segunda vinda: quando as forças do céu e da terra forem abaladas, nós o veremos “vindo numa nuvem com grande poder e glória” (Lc 21,27). Além disso, Ele afirmou que deseja nos encontrar em pé, ou seja, firmes em nossa fé. Lembremos da pergunta que Ele fez: “Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?” (Lc 18,8). A fé que Jesus pede de nós é aquela que não se abala diante de tudo o que é abalado à nossa volta. É a fé que não se desespera por causa das dores de parto, mas se mantém firme na esperança da vida nova que está nascendo em meio às dores. Foi por isso que Jesus disse: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima” (Lc 21,28).

“Levantem-se e ergam a cabeça”. Enquanto os problemas tendem a nos puxar para baixo, a fé nos levanta e nos faz olhar para o alto, para Aquele que está acima de todas as coisas. Deus não nos quer derrubados e vencidos, mas em pé, enfrentando aquilo que nos cabe enfrentar, olhando a realidade nos olhos e sabendo que foi exatamente esse o tempo em que fomos chamados a viver e a dar testemunho da nossa fé e da nossa esperança. Como diz a Palavra: “Se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo, salvador de todos os homens, sobretudo dos que têm fé” (1Tm 4,10).

Mas, onde encontrar força para manter vivas nossa fé e nossa esperança? Na oração! “Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36). É exatamente a força da oração que nos levanta da nossa prostração e nos faz erguer a cabeça diante das situações difíceis. Na verdade, a oração está fortemente ligada à esperança...

“Cada oração é uma expressão de esperança. Uma pessoa que não espera nada do futuro não pode orar. Só pode haver vida e movimento quando você não aceita mais as coisas como são e olha para frente rumo ao que ainda não é... Um homem com esperança não se preocupa em saber como seus desejos serão cumpridos. Assim, sua oração não se dirige à graça, mas Àquele que a proporciona... Sempre que orarmos com esperança, poremos nossa vida nas mãos de Deus. Medo e ansiedade desaparecem, tudo que recebemos e tudo de que somos privados não são nada senão um dedo apontando na direção da promessa de Deus de que vamos viver por completo” (Oração e esperança, Pe. Henri Nouwen).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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