quinta-feira, 11 de novembro de 2021

NO TEMPO DA ANGÚSTIA, TEU POVO SERÁ SALVO!

 Missa do 33. dom. comum. Palavra de Deus: Daniel 12,1-3; Hebreus, 10,11-14.18; Marcos 13,24-32

 

            No mundo em que vivemos, as mudanças não param de acontecer. Devido à tecnologia, o ritmo dessas mudanças está cada vez mais acelerado. Nem nosso cérebro, nem nosso emocional conseguem assimilar todas essas mudanças. Isso nos provoca angústia, insegurança, medo e aflição. Para onde estamos indo? Quem ou o que está  causando essas mudanças? Tudo isso gera em nós um sentimento de desorientação e de impotência.

            Contudo, o profeta Daniel nos oferece uma luz: “Será um tempo de angústia, como nunca houve até então, desde que começaram a existir nações. Mas, nesse tempo, teu povo será salvo” (Dn 12,1). Vivemos um tempo forte de angústia: desemprego, fome, imigração forçada, violência, banalização da vida, desestruturação familiar, suicídio, falta de perspectiva de futuro, doenças físicas e psíquicas, perda de fé, sentimento de ausência de Deus... Como afirmou o Papa Francisco, “nós não podemos pretender ser pessoas saudáveis num mundo doente”. Tudo o que acontece com o Planeta e com a humanidade nos afeta. Enquanto cristãos, somos parte de uma humanidade não somente ferida, mas que tem um estilo de vida que adoece.

Apesar do sentimento de angústia que marca o nosso tempo, confiamos que a nossa história não está nas mãos do acaso ou de um destino cego, mas nas mãos de Deus. Confiamos que, exatamente em meio a essa situação de angústia, “teu povo será salvo”. Essa salvação de Deus não se refere somente a nós, que ainda estamos na face da terra, mas também àqueles que já morreram. Para eles, haverá uma ressurreição que restabelecerá a justiça. Quando Deus faz justiça, Ele separa uma coisa da outra: “Muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão, uns para a vida eterna, outros para a humilhação eterna” (Dn 12,2). Jesus confirma isso: “os que tiverem feito o bem, ressuscitarão para a vida; os que fizeram o mal, para o julgamento” (Jo 5,29).

O Evangelho que ouvimos tem um tom apocalíptico. “Apocalipse” significa “revelar”, “fazer ver além do véu”. Ao mencionar os abalos que ocorrerão no céu e na terra, Jesus não está falando do “fim do mundo”, mas do fim de um mundo específico: o mundo injusto, desigual, gerador de sofrimento, violência e morte para os mais fracos. Esse mundo desaparecerá, para dar lugar a um mundo renovado. Diante de tudo o que se abala e desaba, precisamos nos firmar nas palavras de Jesus: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13,31). De fato, “o que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). Diante dessa certeza, cabe-nos levar uma vida orientada pelo Evangelho, aguardando o cumprimento da promessa de Jesus: “Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória” (Mc 13,26).  

O livro do Apocalipse tem no seu horizonte essa segunda vinda de Cristo: “Eis que ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão” (Ap 1,7), até mesmo as pessoas que nunca o conheceram ou que se recusaram a crer nele. Jesus virá como juiz, como aquele que, julgando, separa o trigo das uvas, recolhendo o trigo no celeiro de Deus e esmagando as uvas com os pés, sinal da destruição definitiva do mal sobre a face da terra (cf. Ap 14,14-20). Se no horizonte da história está o encontro de cada pessoa com Jesus, precisamos nos perguntar se estamos cultivando a nós mesmos como trigo (pessoas que praticam o bem e a justiça) ou como uvas (pessoas que praticam o mal e a injustiça). Afinal de conta, “todos nós compareceremos perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba conforme tenha feito durante sua vida no corpo, seja o bem, seja o mal” (2Cor 5,10).     

                Justamente porque vivemos num país acostumado com a impunidade e desacreditado em relação à justiça, precisamos manter nossa consciência viva, desperta, sem nos corromper e sem nos afastar das promessas de Jesus. Precisamos lembrar que nós não somos expectadores de um filme onde se trava um combate entre o bem e o mal. Nós fazemos parte dessa luta e precisamos enfrentá-la com perseverança: “De fato, é de perseverança que vocês necessitam, para cumprirem a vontade de Deus e alcançarem o que Ele prometeu. Porque ainda um pouco, muito pouco tempo, e aquele que vem, chegará e não tardará... Não sejamos como os que abandonam a luta e se perdem, mas homens e mulheres de fé, para a conservação da nossa vida” (citação livre de Hb 10,36-37.39).   

 

            Oração: Senhor Deus, “a angústia cresce em meu coração, tira-me das minhas aflições” (Sl 25,17). Sei que não posso pretender ser uma pessoa totalmente saudável vivendo num mundo doente como o nosso. Forma minha consciência a partir dos valores do Evangelho. Concede perseverança à minha fé e firmeza à minha esperança.

            Senhor Jesus Cristo, eu creio e espero por tua Vinda. Confio na tua promessa de criar novos céus e uma nova terra, onde habitarão a justiça e aqueles que buscam ser justos. Dá-me a graça de cultivar-me como trigo, de não corromper-me no mal e de fazer o bem que estiver ao meu alcance, especialmente aos que sofrem e que são injustiçados. Unindo-me ao Espírito Santo, eu suplico com toda criação e com a Igreja: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20). Vem e resgata o teu povo de todas as suas angústias! Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi   

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