Missa do 33. dom. comum. Palavra de Deus: Daniel 12,1-3; Hebreus, 10,11-14.18; Marcos 13,24-32
No mundo em que vivemos, as mudanças
não param de acontecer. Devido à tecnologia, o ritmo dessas mudanças está cada
vez mais acelerado. Nem nosso cérebro, nem nosso emocional conseguem assimilar
todas essas mudanças. Isso nos provoca angústia, insegurança, medo e aflição.
Para onde estamos indo? Quem ou o que está causando essas mudanças? Tudo isso gera em nós
um sentimento de desorientação e de impotência.
Contudo, o profeta Daniel nos
oferece uma luz: “Será um tempo de angústia, como nunca houve até então, desde
que começaram a existir nações. Mas, nesse tempo, teu povo será salvo” (Dn
12,1). Vivemos um tempo forte de angústia: desemprego, fome, imigração forçada,
violência, banalização da vida, desestruturação familiar, suicídio, falta de
perspectiva de futuro, doenças físicas e psíquicas, perda de fé, sentimento de
ausência de Deus... Como afirmou o Papa Francisco, “nós não podemos pretender
ser pessoas saudáveis num mundo doente”. Tudo o que acontece com o Planeta e
com a humanidade nos afeta. Enquanto cristãos, somos parte de uma humanidade não
somente ferida, mas que tem um estilo de vida que adoece.
Apesar
do sentimento de angústia que marca o nosso tempo, confiamos que a nossa
história não está nas mãos do acaso ou de um destino cego, mas nas mãos de
Deus. Confiamos que, exatamente em meio a essa situação de angústia, “teu povo
será salvo”. Essa salvação de Deus não se refere somente a nós, que ainda estamos
na face da terra, mas também àqueles que já morreram. Para eles, haverá uma
ressurreição que restabelecerá a justiça. Quando Deus faz justiça, Ele separa
uma coisa da outra: “Muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão, uns
para a vida eterna, outros para a humilhação eterna” (Dn 12,2). Jesus confirma
isso: “os que tiverem feito o bem, ressuscitarão para a vida; os que fizeram o
mal, para o julgamento” (Jo 5,29).
O
Evangelho que ouvimos tem um tom apocalíptico. “Apocalipse” significa “revelar”,
“fazer ver além do véu”. Ao mencionar os abalos que ocorrerão no céu e na
terra, Jesus não está falando do “fim do mundo”, mas do fim de um mundo
específico: o mundo injusto, desigual, gerador de sofrimento, violência e morte
para os mais fracos. Esse mundo desaparecerá, para dar lugar a um mundo renovado.
Diante de tudo o que se abala e desaba, precisamos nos firmar nas palavras de
Jesus: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc
13,31). De fato, “o que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos
céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). Diante dessa
certeza, cabe-nos levar uma vida orientada pelo Evangelho, aguardando o
cumprimento da promessa de Jesus: “Então vereis o Filho do Homem vindo nas
nuvens com grande poder e glória” (Mc 13,26).
O
livro do Apocalipse tem no seu horizonte essa segunda vinda de Cristo: “Eis que
ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão” (Ap 1,7), até mesmo as pessoas
que nunca o conheceram ou que se recusaram a crer nele. Jesus virá como juiz,
como aquele que, julgando, separa o trigo das uvas, recolhendo o trigo no
celeiro de Deus e esmagando as uvas com os pés, sinal da destruição definitiva
do mal sobre a face da terra (cf. Ap 14,14-20). Se no horizonte da história
está o encontro de cada pessoa com Jesus, precisamos nos perguntar se estamos
cultivando a nós mesmos como trigo (pessoas que praticam o bem e a justiça) ou
como uvas (pessoas que praticam o mal e a injustiça). Afinal de conta, “todos
nós compareceremos perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba conforme
tenha feito durante sua vida no corpo, seja o bem, seja o mal” (2Cor 5,10).
Justamente porque vivemos num país acostumado
com a impunidade e desacreditado em relação à justiça, precisamos manter nossa
consciência viva, desperta, sem nos corromper e sem nos afastar das promessas
de Jesus. Precisamos lembrar que nós não somos expectadores de um filme onde se
trava um combate entre o bem e o mal. Nós fazemos parte dessa luta e precisamos
enfrentá-la com perseverança: “De fato, é de perseverança que vocês necessitam,
para cumprirem a vontade de Deus e alcançarem o que Ele prometeu. Porque ainda
um pouco, muito pouco tempo, e aquele que vem, chegará e não tardará... Não
sejamos como os que abandonam a luta e se perdem, mas homens e mulheres de fé,
para a conservação da nossa vida” (citação livre de Hb 10,36-37.39).
Oração: Senhor Deus, “a angústia cresce
em meu coração, tira-me das minhas aflições” (Sl 25,17). Sei que não posso
pretender ser uma pessoa totalmente saudável vivendo num mundo doente como o
nosso. Forma minha consciência a partir dos valores do Evangelho. Concede
perseverança à minha fé e firmeza à minha esperança.
Senhor Jesus Cristo, eu creio e
espero por tua Vinda. Confio na tua promessa de criar novos céus e uma nova
terra, onde habitarão a justiça e aqueles que buscam ser justos. Dá-me a graça
de cultivar-me como trigo, de não corromper-me no mal e de fazer o bem que
estiver ao meu alcance, especialmente aos que sofrem e que são injustiçados.
Unindo-me ao Espírito Santo, eu suplico com toda criação e com a Igreja: “Vem, Senhor
Jesus!” (Ap 22,20). Vem e resgata o teu povo de todas as suas angústias! Amém!
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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