segunda-feira, 1 de novembro de 2021

VIVOS OU MORTOS, PERTENCEMOS AO SENHOR

 Missa de finados 2021. Palavra de Deus: Jó 19,21-27; 1Coríntios 15,20-26.28; Lucas 12,35-40.

 

    “A mão de Deus me feriu!” (Jó 19,21). Essas palavras de Jó poderiam ser ditas por aqueles que estão doentes, pelos que estão em fase terminal de câncer, pelos que definham por anos em cima de uma cama. Essas palavras também poderiam ser ditas por famílias enlutadas, por pessoas que perderam alguém querido.

    Mas, será mesmo que os ferimentos de Jó – a perda de seus bens, a morte de seus filhos e a perda da sua saúde – foram provocados pela mão de Deus? Não! O que Deus fez foi permitir ao mal que atingisse Jó: “Eu te dou permissão para tocar nos bens dele, mas não nele” (Jó 1,12); “Eu te dou permissão para tocar nele, mas não para tirar-lhe a vida” (Jó 2,6). Nenhum mal nos atinge, sem a permissão de Deus, como ensinou Jesus: “Até mesmo os cabelos da cabeça de vocês estão contados. Vocês valem mais do que muitos pardais” (Mt 10,30-31). Tudo o que Deus permite que aconteça é visando o nosso bem, a nossa salvação. Foi assim que o apóstolo Paulo entendeu: “aprendi a viver na abundância e também a sofrer necessidade; tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13).

    Não foi a mão de mão de Deus que feriu Jó. Ele apenas entende que tudo vem de Deus: o bem e o mal, a alegria e a tristeza, a vida e a morte. Mas nós, cristãos, sabemos que a mão de Deus tornou-se mão humana na pessoa de seu Filho Jesus, e suas mãos trabalharam incansavelmente pela salvação de todo ser humano. A mão de Deus não é a mão que fere, mas a mão que foi ferida na cruz, para retirar do sofrimento quem ali se encontra. A mão de Deus é a mão crucificada e ressuscitada de seu Filho Jesus: “Vejam minhas mãos e meus pés... Sou eu mesmo!” (Lc 24,39).

    Contemplando as mãos crucificadas e ressuscitadas de Jesus, nós proclamamos como Jó: “Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão” (Jó 19,25-27). A nossa fé em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado não é uma fé somente para esta vida presente: depois que nossa pele for destruída – nosso corpo consumido pela terra – nós veremos a Deus com o nosso corpo glorificado. Como nos ensina a nossa Igreja, nós cremos na ressurreição da carne: “semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado desprezível, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força” (1Cor 15,42-43). 

    Ter consciência da nossa morte nos ajuda a viver de uma outra maneira a nossa vida. “Quando entendemos que não é um dia a mais, mas sim um dia a menos, começamos a valorizar o que realmente importa” (Cora Coralina). Jesus nos provoca a essa mudança de consciência no Evangelho de hoje: “Sejam como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater” (Lc 12,37). No horizonte da nossa existência não está simplesmente a morte, mas o encontro com Aquele que venceu a morte e ressuscitou (cf. Ap 1,17-18). Esse encontro se dará “na hora em que vocês menos esperarem” (Lc 12,40).

    Sendo assim, como devemos nos preparar para esse encontro? Mantendo-nos fiéis à tarefa que Deus nos confiou por meio da vocação que cada um de nós recebeu. Essa tarefa aparece na imagem do “servo” fiel e prudente. O sentido da nossa existência está na tarefa que nos foi pedida para realizar. Enquanto o mundo nos incentiva a desfrutar da vida, pensando unicamente em nós mesmos, Jesus nos convida a fazer da nossa vida um serviço em favor da humanidade, exatamente como Ele, que “veio para servir não ser servido” (Mc 10,45).

    Hoje agradecemos a Deus por nos ter chamado à existência. Nos comprometemos a viver a nossa breve vida buscando ser fiéis à missão que Ele nos confiou. Agradecemos cada pessoa que passou por nossa vida e hoje não se encontra mais na terra. Renovamos a nossa fé no dia da ressurreição, quando Jesus nos unir àqueles que já partiram antes de nós e estão n’Ele (cf. 1Ts 4,13-18). Confiamo-nos todos às mãos do Pai, mãos encarnadas em seu Filho Jesus, crucificadas e ressuscitadas, mãos que cuidam de nós e nos destinam à vida eterna... 

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

 

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