Missa de Cristo, rei do Universo. Palavra de Deus: Daniel 7,13-14; Apocalipse 1,5-8; João 18,33b-37.
A
figura do rei é bastante estranha para nós. No mundo atual, há pouquíssimos
reis. Mas, no mundo bíblico, ela é uma figura muito forte. O rei ideal é aquele
que exerce o domínio sobre seu povo em função de protegê-lo, ampará-lo,
defendê-lo, garantindo-lhe vida e paz. No entanto, muitos dos reis que já
existiram na terra se corromperam e abusaram do seu poder, tornando-se até
mesmo tiranos. Também no mundo bíblico nós temos o registro de muitos reis que
governaram o povo de Israel, sendo que somente quatro “fizeram o que agrada aos
olhos de Deus”. Todos os demais foram rejeitados por Deus. É por isso que, no
livro dos Reis, a frase que mais se repete é: tal rei “fez o que é mau aos
olhos de Deus”.
O
Salmo 72 nos apresenta o rei ideal como sendo aquele que “libertará o indigente
que suplica, e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do indigente
e do infeliz, e a vida dos humildes salvará. Há de livrá-los da violência
e opressão, pois vale muito o sangue deles a seus olhos!” (vv.12-14). O rei
ideal é aquele que cuida de quem não é cuidado por ninguém, que valoriza quem o
mundo despreza, que se coloca ao lado dos que estão desprotegidos e
desamparados. A figura desse rei encontrou em Jesus a sua plena realização.
Jesus
é o Rei-Pastor que veio buscar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, curar
a que está ferida e restaurar as forças da que está abatida (cf. Ez 34,16). No
entanto, Ele não aceitou ser “eleito” rei pelas multidões que encontraram nele
uma espécie de “provedor” das suas necessidades. Isso ficou claro após ele ter
saciado a fome da grande multidão: “Jesus, sabendo que viriam buscá-lo para
fazê-lo rei, refugiou-se de novo, sozinho, na montanha” (Jo 6,15). Jesus não
veio nos manter numa atitude infantilizada perante a vida, de quem só espera
receber, de quem é mantido na sua condição de dependência. Ele veio nos
levantar, nos colocar em pé e nos tornar conscientes das nossas capacidades e
responsabilidades.
Se a
figura do rei nos lembra o domínio sobre um povo, Jesus é aquele que veio nos
libertar do domínio do mal, do domínio da escravidão do nosso pecado, do
domínio de toda situação injusta. Ele veio nos devolver a liberdade de
exercermos o domínio sobre nós mesmos. Essa é a questão principal e mais
difícil: ter domínio sobre si, sobre seus desejos, seus instintos e sua
vontade. Jesus não nos quer dominados pelos vícios, pelo consumismo, pelas
ideologias políticas, pela submissão ao dinheiro, pela Internet (redes sociais)
e também pela religião.
Ao
celebrarmos hoje Cristo, Rei do Universo, lembramos que “o Pai entregou ao
Filho o poder sobre todo ser humano” (cf. Jo 17,2), o poder de redimir, salvar
e dar a vida eterna a todo ser humano. Esse poder foi exercido a partir da
cruz. A cruz foi o trono de Jesus. Sua coroa de espinhos indica que ele é o Rei
ferido, o Rei que sente a dor de toda pessoa ferida na face da terra. Ele não é
o Rei que derrama o sangue dos seus inimigos, mas o Rei que derrama o seu
próprio Sangue para reconciliar tudo o que existe no Universo. De fato, Deus
Pai quis “reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos
céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz” (Cl 1,20).
A
questão principal é: como podemos sair do domínio do mal que tudo adoece,
arruína e destrói, e passarmos para o domínio de Cristo, que tudo liberta, cura
e restaura? Deixemos com que o próprio Jesus nos responda: “Eu sou rei. Eu
nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que
é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). A única forma de permitirmos que
Jesus reine sobre nós é nos confrontando com a Verdade. Para o mundo atual, não
existe a Verdade, mas “verdades”: cada um tem a sua verdade; cada um tem a sua
cabeça, a sua liberdade e a sua vontade; cada um faz o que quer. No entanto, a
Verdade é uma Pessoa, a Verdade é Cristo. Seu Evangelho é a Palavra da Verdade.
Somente esta Verdade nos liberta (cf. Jo 8,32).
Muitas
pessoas adoecem e vivem submissas a algo ou a alguém que lhes faz mal porque
não conhecem a verdade sobre si mesmas. Elas são como aquele elefante que
cresceu amarrado a uma corda e não tem consciência de que ele tem força
suficiente para arrebentar aquela corda e ser livre. Jesus é a Verdade que nos
torna conscientes da força que nos habita. Quando usamos essa força, nos
libertamos de muitas coisas que nos aprisionam e nos adoecem. O problema é que
não são poucas as pessoas que preferem uma mentira que aprisiona do que a
verdade que liberta. São pessoas que não querem responsabilizar-se pela própria
vida, mas ter sempre alguém a quem culpar pela sua infelicidade, pelo seu
fracasso.
“Todo
aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). Neste mundo cheio de
mentiras, de máscaras, de aparências, de desinformação, de fake news,
precisamos educar a nossa consciência para reconhecer a voz da Verdade em nós,
voz que continuamente nos convida a sair do domínio daquilo que nos adoece e
escraviza para vivermos sob o domínio daquele que é capaz de nos tornar
verdadeiramente livres e capazes de autodomínio.
Oração:
Senhor Jesus Cristo, reina sobre mim! Estende o teu domínio libertador e salvador
sobre todo ser humano, especialmente sobre aquele que se encontram dominados
pelo mal, pelo sofrimento, pelas injustiças e pelo pecado. Põe tua Verdade em
nossos corações; liberta-nos de toda mentira, de todo autoengano. Que cada ser
humano conheça a verdade a respeito de si mesmo e não se permita viver
aprisionado na mentira que adoece, tira a paz e leva à autodestruição. Reina
com tua Verdade e com tua Paz em nossas famílias, ambientes de trabalho,
escolas e cidades. Podes reinar, Senhor Jesus! O teu poder teu povo sentirá. Que
bom, Senhor, saber que estás presente aqui! Reina, Senhor, neste lugar!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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