Missa
de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus
5,1-12a.
Quais são as metas que o mundo nos
propõe? Sucesso, felicidade, dinheiro, segurança, fama (aparecer, ser visto
pelos outros), vitória etc. Em contrapartida, deixou de ser importante:
honestidade, caráter, fidelidade, retidão, compromisso, amar até o fim. Pior ainda,
somos ensinados a evitar: renúncia, sacrifício, frustração, autodomínio, dor e
sofrimento.
A meta dos filhos de Deus é a
santidade – tornar-me a pessoa que fui chamado(a) a ser; desenvolver meus
talentos; identificar e manter-me fiel à tarefa/missão para a qual nasci; não
conformar-me ao mundo (não deformar-me), mas configurar-me ao Filho Jesus;
viver a partir da verdade de Deus a meu respeito; passar do fazer somente
aquilo que “eu quero” para fazer aquilo que “eu devo”, em sintonia com a minha
identidade de filho(a) de Deus.
A santidade é um processo em nós:
ora avançamos, ora retrocedemos, ora estagnamos. Ela exige a participação da
nossa vontade: “Busquem a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb
12,14). Ao mesmo tempo, ela é graça, dom de Deus: “A santidade não é fruto do
esforço humano, que procura alcançar Deus com suas forças, e até com heroísmo;
ela é dom do amor de Deus e resposta do homem à iniciativa divina” (Missal
Dominical, p.1367). A santidade é, no fundo, um diálogo entre a vontade de Deus
e a nossa vontade humana, quando entendemos que o que Deus quer para nós nada
mais é do que a nossa felicidade. É um processo que avança quando nos colocamos
como barro nas mãos do Oleiro, mas que também trava ou retrocede quando nos
mantemos distantes dessas mãos (cf. Jr 18,6).
A santificação é um processo que se
inicia em nossa vida terrena. Vivendo em um mundo marcado por contravalores,
que “chama o bem de mal e o mal de bem” (cf. Is 5,20), as pessoas que buscam
sua santificação recebem em sua fronte “a marca do Deus vivo” (Ap 7,2.3). Se
essa marca fosse visível, ela seria motivo de “orgulho” para os cristãos. No
entanto, é uma marca invisível, porque se refere à consciência da pessoa. Uma
vez que o nosso mundo está cheio de marcas externas, feitas para chamar a
atenção sobre a pessoa, a santidade é uma marca interna, e, por isso mesmo,
ignorada pelo mundo: “Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai”
(1Jo 3,2). Portanto, só busca a santidade quem compreende que o essencial não é
a aparência, mas a essência.
O
que significa receber “a marca do Deus vivo”? Essa marca significa “proteção”,
mas, sobretudo, “pertença”. É essa pertença que fará com que, após nossa morte,
nós estejamos “de pé” (ressuscitados), “diante do trono de Deus e do Cordeiro”
(seu Filho Jesus), trajando “vestes brancas” (santidade) e segurando “palmas na
mão” (vitória sobre o mal e a morte). Porém, como vivemos em um mundo contrário
ao Evangelho, a nossa santificação não se dá sem enfrentar inúmeras
tribulações, pois não existe vitória sem luta.
As tribulações nos lembram que toda
pessoa que busca sua santificação é uma pessoa ferida, porque se posiciona
diante da realidade, defendendo os mais fracos e injustiçados. Ser santo
significa tomar partido diante da realidade que se nos apresenta: “Sempre tome
partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o
torturador, não o atormentado” (Elie Wiesel, escritor judeu, sobrevivente do
Holocausto). Por ter tomado partido dos que sofriam, Jesus foi crucificado. Do
mesmo modo, toda pessoa que se posiciona diante da realidade, acaba por se “sujar”
com o sofrimento que há no mundo, mas ela terá suas vestes lavadas no sangue do
Cordeiro.
Qual
é o tempo mais apropriado para buscarmos a nossa santificação? O tempo
presente, o aqui e o agora, cada dia, a vida toda: “A vocação do cristão é a santidade,
em todo momento da vida. Na primavera da juventude, na plenitude do verão da
idade madura, e depois também no outono e no inverno da velhice, e por último,
na hora da morte” (São João Paulo II). Toda ocasião é oportuna para a nossa
santificação, porque é ali que somos chamados a examinar a nossa consciência e
a fazer escolhas ou a tomar decisões a partir da nossa liberdade e da nossa
responsabilidade. Toda a nossa vida é um processo de transformação: “Desde já
somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que,
quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele” (1Jo 3,2).
Enfim,
o Evangelho de hoje nos apresenta o retrato dos santos na terra, em cuja
existência se dá o processo de crucificação e de ressurreição. “Jesus,
crucificado e ressuscitado, é a realização das bem aventuranças. Enquanto
crucificado, cumpre a primeira parte delas: é pobre, aflito, tem fome e sede de
justiça, é puro de coração, pacificador, perseguido; enquanto ressuscitado,
cumpre a segunda parte: o Reino é Seu, é consolado, herda a terra, é saciado,
encontra misericórdia, vê a Deus, é Filho de Deus. As bem aventuranças são a
carteira de identidade do Filho” (Pe. José Pagola). Elas devem se tornar a
nossa também.
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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