Missa do 1. dom. do advento. Palavra de Deus: Jeremias 33,14-16; 1Tessalonicenses 3,12 – 4,2; Lucas 21,25-28.34-36.
Prestemos
atenção a essas expressões da leitura de Jeremias: “virão dias”, “bens futuros”,
“farei brotar”, “fará valer”, “será salvo”, “terá uma população confiante”.
Todas elas estão no tempo futuro. Todas elas foram pronunciadas quando o
presente do povo de Israel estava marcado por dor, sofrimento, tristeza, angústia,
falta de perspectiva de vida.
Sempre
que estamos enfrentando uma dificuldade, a nossa tendência é nos fechar naquele
momento, como se aquela situação fosse definitiva. Por causa da dor ou do
sofrimento que estamos enfrentando, nós nos vemos trancados num quarto escuro,
sem porta e sem janela, sem saída, como se fôssemos ficar ali para sempre. Nos
esquecemos das palavras que Deus disse ao seu povo: “Existe recompensa para a
tua dor... Há esperança para o teu futuro” (Jr 31,16.17).
“Recompensa”,
“esperança”, “futuro”. Enquanto os nossos olhos não conseguem enxergar para além
do problema que estamos enfrentando, os olhos de Deus veem além. Nenhuma dor deveria
nos tornar incapazes de enxergar além. Nenhum sofrimento deveria nos fazer
esquecer de que existe um futuro, um depois, um desdobramento. Nada ficará como
está, definitivamente. Nossa vida está inserida no plano de Deus, o qual tem
como plenitude o “dia da vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos”
(1Ts 3,13). Em outras palavras, Alguém está vindo! Nós aguardamos Aquele que
transfigurará o nosso corpo humilhado (cf. Fl 3,20-21), Aquele que disse: “Eis
que venho em breve, e trago comigo o salário para retribuir a cada um conforme
o seu trabalho (conduta)” (Ap 22,12); Aquele que fará justiça e separará os que
fazem o bem daqueles que fazem o mal (cf. Mt 25,31-46; Ap 14,14-20), Aquele que
enxugará as lágrimas de todos os rostos e destruirá o mal e a morte para sempre
(cf. Ap 21,4).
Estamos
iniciando o tempo do advento – a espera por Aquele que vem. Espera tem a ver
com esperança. Assim como os sobreviventes dos campos de concentração nazistas
não enlouqueceram e não se suicidaram porque tinham esperança de reencontrar
algum ente querido quando o holocausto terminasse, assim a esperança é fundamental
para conseguirmos suportar o momento presente e confiar que a nossa história
não está nas mãos do acaso, mas nas mãos do Senhor Deus, que estabeleceu o Seu
Filho como Princípio e Fim (cf. Ap 1,17; 22,5), Aquele que tem a palavra final
sobre a história humana.
Jesus
afirmou claramente a respeito da sua segunda vinda: quando as forças do céu e
da terra forem abaladas, nós o veremos “vindo numa nuvem com grande poder e
glória” (Lc 21,27). Além disso, Ele afirmou que deseja nos encontrar em pé, ou
seja, firmes em nossa fé. Lembremos da pergunta que Ele fez: “Quando o Filho do
Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?” (Lc 18,8). A fé que Jesus pede de
nós é aquela que não se abala diante de tudo o que é abalado à nossa volta. É a
fé que não se desespera por causa das dores de parto, mas se mantém firme na
esperança da vida nova que está nascendo em meio às dores. Foi por isso que
Jesus disse: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a
cabeça, porque a libertação de vocês está próxima” (Lc 21,28).
“Levantem-se
e ergam a cabeça”. Enquanto os problemas tendem a nos puxar para baixo, a fé nos
levanta e nos faz olhar para o alto, para Aquele que está acima de todas as
coisas. Deus não nos quer derrubados e vencidos, mas em pé, enfrentando aquilo
que nos cabe enfrentar, olhando a realidade nos olhos e sabendo que foi exatamente
esse o tempo em que fomos chamados a viver e a dar testemunho da nossa fé e da
nossa esperança. Como diz a Palavra: “Se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos
a nossa esperança no Deus vivo, salvador de todos os homens, sobretudo dos que
têm fé” (1Tm 4,10).
Mas,
onde encontrar força para manter vivas nossa fé e nossa esperança? Na oração! “Ficai
atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que
deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36). É
exatamente a força da oração que nos levanta da nossa prostração e nos faz
erguer a cabeça diante das situações difíceis. Na verdade, a oração está
fortemente ligada à esperança...
“Cada
oração é uma expressão de esperança. Uma pessoa que não espera nada do futuro
não pode orar. Só pode haver vida e movimento quando você não aceita mais as
coisas como são e olha para frente rumo ao que ainda não é... Um homem com
esperança não se preocupa em saber como seus desejos serão cumpridos. Assim,
sua oração não se dirige à graça, mas Àquele que a proporciona... Sempre que orarmos
com esperança, poremos nossa vida nas mãos de Deus. Medo e ansiedade
desaparecem, tudo que recebemos e tudo de que somos privados não são nada senão
um dedo apontando na direção da promessa de Deus de que vamos viver por
completo” (Oração e esperança, Pe. Henri Nouwen).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi