quinta-feira, 30 de setembro de 2021

CASAMENTO: 100% DE SATISFAÇÃO OU O DIVÓRCIO!

 Missa do 27. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 2,18-24; Hebreus 2,9-11; Marcos 10,2-16.

 

Tanto os fariseus quanto os discípulos perguntaram a Jesus a respeito do divórcio. A pandemia do coronavírus, obrigando as famílias a ficarem em casa convivendo juntas 24 horas por dia, fez com que a consulta no Google a respeito de “divórcio on line gratuito” crescesse 9.000%! Não devemos tentar tapar o sol com uma peneira. A realidade está aí, diante dos olhos de todos nós, mostrando que o divórcio deixou de ser exceção e passou a ser regra. A exceção são os casamentos que duram a vida toda, “até que a morte os separe”.

Inúmeras são as causas do divórcio. “Às vezes, para decidir que tudo acabou, basta uma desilusão, a ausência num momento em que se precisava do outro, um orgulho ferido” (Papa Francisco, A alegria do amor, n.237). “A essência de todo o divórcio está na incapacidade de amar o diferente”. Algumas pessoas se casam na esperança de que, com o tempo, consigam mudar o outro, atingindo, assim, “uma sintonia total”. Como isso não acontece, surge a convicção: “não somos mais compatíveis – precisamos buscar outra pessoa mais compatível para não arrastarmos ao longo da vida um relacionamento que nos fará infeliz. Aí surge o divórcio” (Carlos Catito, psicólogo clínico evangélico). No entanto, “é preciso reconhecer que há casos em que a separação é inevitável..., quando se trata de defender o cônjuge mais frágil, ou os filhos pequenos, das feridas mais graves causadas pela prepotência e a violência, pela humilhação e a exploração, pela alienação e a indiferença” (Papa Francisco, A alegria do amor, n.241).

Por trás do divórcio há uma geração imatura, despreparada para tolerar frustrações, para lidar com problemas, para dialogar; numa palavra, para abraçar a cruz. Além disso, a maioria das pessoas se casam com uma pergunta no coração: “O que esse casamento tem a me oferecer?” ou então: “O que essa pessoa com quem estou me casando tem a me oferecer?”, quando a pergunta a ser feita é: “O que eu tenho a oferecer a esse casamento, a essa pessoa com quem eu me casei?” Em outras palavras, a grande maioria se casa pensando em usufruir, em desfrutar do casamento; poucos se casam dispostos a investir no seu casamento, a construir a casa a partir de um alicerce sólido e profundo, planejado, não improvisado.

Um dos problemas mais comuns no casamento é a questão sexual. Como lidar com a diferença de desejo entre o casal: um tem mais necessidade de sexo, enquanto o outro tem menos? Paulo apóstolo fala da necessidade do cuidado com a vida sexual do casal: “Não se recusem um ao outro, a não ser de comum acordo, para se entregarem à oração; depois disso, voltem a se unir, a fim de que Satanás não tente vocês através da incontinência” (1Cor 7,5). A vida sexual tem um peso sério a ser considerado no casamento, sobretudo no início. Muitas coisas podem interferir na saúde sexual do casal: o estresse (trabalho), a ansiedade (desempenho sexual?), a chegada de um filho ou o esgotamento em relação aos filhos, os problemas financeiros, a baixa autoestima (o descuido de si), a pornografia etc.

Ora, vivemos numa sociedade erotizada, a qual reduz nossa sexualidade ao prazer genital. Como esse prazer é temporário e finito, buscam-se formas de torná-lo permanente e cada vez mais intenso. Para isso, escancaramos as portas das nossas fantasias sexuais e nos entregamos aos nossos instintos, nos permitindo o uso de droga, de introdução consentida de um terceiro parceiro na relação, de troca de casais, de sexo grupal etc. Como nosso casamento nos realiza 85% e sentimos a falta dos outros 15%, nos vemos diante de três opções: 1) nos contentar e sermos agradecidos pelos 85%; 2) jogar fora os 85% para ir atrás dos 15% que sentimos que nos falta; 3) fazer um “bem bolado”, levando uma vida dupla, por meio da qual não só não perdemos os 85% como também obtemos os 15%, sempre que sentimos falta dele.  

A respeito dessa busca de 100% de satisfação ou felicidade, precisamos levar em conta duas coisas: segundo o próprio Freud, 90% das nossas fantasias sexuais nunca serão satisfeitas, justamente por serem fantasias. Além disso, precisamos ser realistas: ninguém tem tudo e ninguém pode ter tudo. Ainda em relação à vida sexual, precisamos considerar que nós não somos somente corpo, mas corpo, alma e espírito. Neste sentido, o sexo por si só não realiza nenhum casamento. Existem outras realidades pedindo cuidado: afeto, diálogo, companheirismo, respeito pela individualidade de cada um etc.

No ano de 2007 o Papa Bento XVI afirmou que o divórcio é uma “dolorosíssima chaga (ferida)” na vida de um casal cristão. Em nome da sua felicidade individualista, marido e mulher ferem-se mutuamente com o divórcio e expõem-se mutuamente ao adultério, pois o que Deus uniu não pode ser separado pelo ser humano. Em nome da sua felicidade individualista, pais impõem aos filhos a ferida do divórcio, justificando que eles (pais) têm o direito de serem felizes. Desse modo, nossas famílias, que poderiam ser lugares onde um cuida das feridas do outro, se tornam lugares onde um abre feridas no outro, com a sua busca individualista de felicidade.   

Mais do que nunca, precisamos nos voltar para o Senhor, nosso Deus, que disse: “Sim, incurável é tua ferida, e a tua chaga não tem remédio... Tua chaga é incurável! (...) Eu te trarei remédio, curarei tuas feridas” (Jr 30,12.15.17).

 

Oração: Senhor Deus, Tu és o Pai de toda família na terra. Através da família de Abraão, Tu prometeste abençoar todas as famílias da terra. Visita nossas casas, nossas famílias, nossos relacionamentos. Cobre com o sangue de Teu Filho, que nos amou até o fim, os casais que o Teu amor uniu, para que a ferida do divórcio não machuque as famílias. Cura nossa sexualidade adoecida e machucada. Concede aos casais o remédio do perdão, do diálogo, do renascimento do afeto e do desejo. Derruba o muro de separação que existe entre marido e esposa, entre pais e filhos. Que nossas famílias abracem o Teu sonho de construir um mundo onde ninguém se sinta só. Em nome de Teu Filho, na graça do Espírito Santo. Amém!   

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi


2 comentários:

  1. Muito obrigado, Pe. Paulo, por suas reflexões sempre existenciais sobre o evangelho de cada domingo.
    São sempre muito iluminadoras.

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  2. Eu quem agradeço por sua partilha, irmão! Deus o abençoe!

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